Quinta-Feira, 28 de Março de 2024
Acidentes
22/07/2017 10:32:00
Mãe relembra últimos momentos de filha sugada por ralo em piscina de hotel
Rachel Rodrigues Novaes, de 7 anos, morreu afogada após ficar com o cabelo preso em dispositivo.

G1/PCS

Imprimir
'Selfie' registrada por Rachel e Cynthia um dia antes do afogamento na piscina do hotel (Foto: Arquivo Pessoal)

"Se soubesse o que aconteceria, jamais eu a deixaria entrar na piscina. Fui levar minha filha para se divertir e a vi morrer". O desabafo é da funcionária pública Cyntia Leite Rodrigues, de 29 anos, mãe de Rachel Rodrigues Novaes, de 7, que morreu afogada após ter o cabelo sugado por um ralo da piscina de um hotel.

Moradoras de Guarujá, no litoral de São Paulo, as duas passaram o último fim de semana com amigos em Balneário Camboriú (SC), para conhecer um parque de diversões. Antes de retornarem com a excursão, no domingo (16), divertiam-se na piscina do hotel, quando tudo aconteceu. Rachel foi socorrida, mas não resistiu.

"Nós tínhamos acabado de sair da praia e as crianças queriam ir para a piscina. Chegamos, dei um banho e coloquei o biquíni nela novamente. Nós descemos, ela entrou com outras crianças, enquanto fiquei conversando com outras mães. Estava tudo bem, mas eu tinha me esquecido de levar a toalha", lembra Cynthia.

A funcionária pública pediu para que as outras mães ficassem de olho na filha, que estava em uma piscina para crianças (com linha d'água máxima de 60 centímetros), e disse a ela que iria pegar a toalha. "A piscina é aquecida, e do lado de fora estava frio. Fui, subi no apartamento, fui ao banheiro, peguei a toalha e desci. Menos de 10 minutos".

Ao sair do elevador, a funcionária pública lembra-se de já ter ouvido gritos. "Eu achei que era uma briga. Ainda me perguntei: 'Na piscina?'. Quando olhei para a piscina, tinha uma mãe tentando puxar alguém e um homem ao lado dela fazendo o mesmo. Uma outra mãe falou: 'É a Rachel'. Eu entrei ali e comecei a puxar", conta.

Mãe e filha visitaram parque de diversões um dia antes do ocorrido (Foto: Arquivo Pessoal)

Sem sucesso, ela deixou os outros dois adultos tentando tirar a filha e correu para a cozinha do hotel, que fica próxima ao ambiente da piscina. "Estava trancada. Eu queria pegar uma faca para cortar o cabelo dela. Ninguém abriu a porta. Eu voltei lá e consegui tirá-la. O ralo veio junto com o cabelo dela".

Ela conta que começou a fazer os primeiros socorros junto com outra mãe. Em seguida, outras pessoas apareceram para ajudar. "Eu comecei a gritar pedindo ajuda. Era muita dor, desespero e pânico. Nesse meio tempo, veio um rapaz, um vizinho do hotel, dizendo que era bombeiro civil, perguntando se podia ajudar. Eu disse que sim".

Cynthia conta que, enquanto ele fazia massagem cardíaca, ela realizava respiração boca a boca. As equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e do Corpo de Bombeiros chegaram em seguida, mas não havia mais tempo. Rachel morreu antes mesmo ser levada para o pronto-socorro da cidade.

Após o ocorrido, todos ficaram sem acreditar. "As mães me falaram que a minha filha estava mergulhando, brincando de subir e descer da água com as outras crianças. Era preciso ter segurança. Durante essa semana, eu pesquisei e descobri que há sistema [antissucção] por até R$ 20, e lá não tinha. Eu não sabia".

Cynthia retornou a São Paulo de avião. O corpo da filha fez o translado de carro até Guarujá, onde foi velado e sepultado na segunda-feira (17) seguinte. Na terça (18), ao saber que a piscina do hotel estava sem o dispositivo de segurança, obrigatório naquele estado, a família decidiu processar o estabelecimento.

Imagem registra resgate de criança após afogamento em piscina de hotel (Foto: ClickCamboriu/Reprodução)

"Juridicamente, na frente criminal, nós vamos reforçar a acusação e ajudar no inquérito policial. Vamos trazer novos depoimentos, já que soubemos que não é a primeira vez que isso acontece naquele hotel. Um menino já ficou com o pé preso no ralo daquele hotel", informou o advogado da família, Anderson Real.

O defensor também vai buscar reparação na parte civil. "Por dano moral, claro. Mãe, avó, todas as pessoas envolvidas ficaram abaladas. Não houve negligência da mãe, mas uma irresponsabilidade do hotel. Vamos buscar justiça, sim", informou Real. O caso é investigado pela Polícia Civil.

Não sabia de lei

O dono do hotel Sanfelice, em que Rachel morreu afogada, disse à Polícia Civil, na tarde de sexta-feira (21), que desconhecia a legislação que prevê a instalação de um dispositivo antissucção. "O proprietário do hotel pode vir a responder por homicídio culposo", disse o delegado Vicente Soares.

Segundo a autoridade policial, embora exista uma lei estadual que prevê a instalação do equipamento, é necessário um decreto para que ela passe a ser cobrada. "Ainda não existe, mas a irregularidade existe. Vamos ouvir, ainda, a mãe da menina, dois funcionários do hotel e o bombeiro que concedeu o alvará".

Para o advogado do estabelecimento, Luiz Eduardo Righetto, o caso foi uma fatalidade. "O hotel está dentro das regras, se solidariza com os familiares da vítima, lamenta o ocorrido, mas não houve negligência. Estamos dentro das normas, por isso não é possível nos atribuir responsabilidade", disse.

COMENTÁRIO(S)
Últimas notícias