Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024
Meio Ambiente
10/02/2014 09:00:00
Artigo: Relação entre protesto e violência
(*) Bruno Peron, acadêmico e articulista

(*) Bruno Peron

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Entre os ditos “Deus escreve certo em \n linhas tortas” e “Deus é brasileiro”, não sei qual é mais suscetível a \n ser mal interpretado no Brasil. Eles diferem em que o primeiro é \n consolador diante das dores infindáveis, enquanto o segundo, bajulador \n porque massageia nosso ego. Mas também se assemelham: o Brasil é o lugar\n onde o erro e o acerto, a dor e o prazer, desde sempre se alternam em \n seu território.Passada a euforia do fim do mundo, que de \n fato pegou muita gente de assombro e precaução, no Brasil o melhor e o \n pior do mundo acontecem. Tendo recebido o cetro da modernidade europeia,\n o decurso de poucos séculos tem mostrado combinações étnicas, culturais\n e sociais que nenhum outro país experimenta. Contudo, estamos ainda por\n auferir o resultado das expansões ultramarinas enquanto civilização \n nova, distinta e imprevista; temos tido motivo para crer que “Deus é \n brasileiro” como resultado do orgulho da terra nova e do sangue novo.Mas\n a pior parte deste relato histórico ficaria ainda devedora de \n explicação: por que, numa terra de gente alegre e terra fértil, reside \n também o pior do mundo, onde a violência tem expressões também \n criativas? Como contrariedade de todo progresso, as promessas da \n modernidade alongam-se diante das sombras. Não se oculta a existência de\n um lado sombrio que aturde as expectativas e os otimismos.O \n objetivo deste texto é propor uma discussão sobre a relação ilegítima e \n nebulosa que se estabelece no Brasil entre protesto e violência. As \n demandas de protestos não só ocorrem de forma lúdica, ao som de tambores\n e “brados retumbantes”. Não é à toa que a população deste país vive num\n cenário frequente do pior do mundo. Narrativas jornalísticas revelam os\n êxitos e os malogros do crime em aspectos variados: estações de \n bicicletas do Bike Sampa fecham devido ao vandalismo, arrastões \n amedrontam donos e frequentadores de restaurantes, motoristas tomam tiro\n dentro de seus veículos após assaltos, índios desaparecem de suas \n aldeias.Há uma crise de competências (quem faz o que, quem é \n responsável por fazer o que) na qual a pólvora dispersa-se com rapidez, \n mas todos tiram o corpo quando acende uma faísca. Deveres laborais viram\n luta pela garantia de sobrevivência. Não é por força do acaso que \n ônibus continuam sendo queimados em várias cidades brasileiras como \n forma de protesto em estilo “tiro no pé”. Ou seja, vândalos fumigam bens\n necessários a eles próprios e deixam centenas de pessoas sem transporte\n público para chamar atenção de autoridades que não andam de ônibus.Porque\n as formas de protesto têm variado de acordo com a criatividade, temos \n exemplos desde os cartazes de brasileiros contra sexismo e xenofobia na \n Universidade de Coimbra até os “rolezinhos” nos shoppings. Esta \n modalidade última de protesto é tudo o que as classes médias e altas não\n queriam: jovens da periferia frequentando os mesmos espaços de consumo \n das madames e socialites.Na medida em que os protestos assumem \n contornos novos de acordo com a criatividade – o que brasileiros temos \n em excesso, é certo –, acompanhamos a falácia dos discursos oficiais e a\n revelação de uma crise de governança no Brasil.
Há que primeiramente\n entender o motivo dos protestos para, em seguida, propor medidas que \n atendam às necessidades de quem protesta e não às suas veleidades. Isto \n significa que nem todo protesto é cabido e pertinente; assim um \n “rolezinho” pelas escolas brasileiras seria mais interessante que pelos \n shoppings a fim de promover espaços educativos para todos em vez de \n celular caro para muitos.Neste ínterim, labora-se para reduzir a \n violência nos movimentos de protesto a despeito da dificuldade de evitar\n a infiltração de pessoas mal-intencionadas. A justiça e a paz imperarão\n onde o desejo do bem coletivo seja maior que o de saciar instintos \n primitivos. Logo que se dissipem as trevas, acredito que o Brasil \n triunfará como cenário do melhor do mundo, onde qualquer Deus vai querer\n ser brasileiro.(*)nbsp;Bruno Peron, acadêmico e articulista
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