O modelo\n de urbanização que a maioria das cidades brasileiras adota é, para uns,\n motivo de inserção, prosperidade e renda, enquanto, para outros \n (inclusive eu), preocupação quanto à qualidade de vida.Desde\n o momento em que a população urbana superou a rural, a cidade \n considera-se epicentro das realizações humanas no que se refere a \n mobilidade, emprego, opções de comércio e lazer, e novidades \n tecnológicas. Deste modo, traços rurais passaram a entender-se como \n sinônimo de algo atrasado, retrógrado e obsoleto.Porém os \n critérios com os que se avalia a qualidade de vida em áreas urbanas e \n rurais têm mostrado que o que se entendia por atraso e obsolescência é \n um equívoco de massas sufocadas pelas promessas da industrialização nas \n cidades.Um destes critérios leva em conta que as cidades \n brasileiras crescem materialmente (vertical e horizontalmente) e \n adensam-se, mas se deterioram humanamente; noutras palavras, quero dizer\n que elas trazem pouca compensação em termos de qualidade de vida aos \n seus habitantes.Como comecei este texto demonstrando minha \n preocupação com o modelo de urbanização no Brasil, prossigo afirmando \n que este tem sido o de enlatar-nos em metros quadrados e o de promover \n os shopping centers como único espaço de convívio digno e seguro. Estes \n não param de aumentar em número, expandir-se e incorporar novas lojas em\n quase todas as cidades de porte médio e grande, até no meio do sertão, \n como o Shopping Cariri de Juazeiro do Norte, Ceará.Mesmo em \n grandes centros urbanos tidos por sedutores a migrantes, como São Paulo,\n a qualidade de vida se mede cada vez mais em função do desenvolvimento \n do setor comercial em shopping centers e menos em relação ao uso de \n parques e praças. Estes têm sido tomados por delinquentes e moradores de\n rua em todo o país.É realmente difícil falar de qualidade de \n vida num país onde somente quem tem muito dinheiro usufrui dos prazeres \n do consumismo, enquanto a maioria tira renda de negócios instáveis, \n pouco rentáveis ou de alguma das tetas do governo. São muito poucos os \n que enxergam a dificuldade de ingresso de renda ao país por meios mais \n dignos e lucrativos que a soja, o café, as frutas exóticas e o boi.Este\n cenário torna-se mais obscuro quando se toma a cidade de São Paulo como\n modelo de desenvolvimento urbano quando ela não passa de uma “selva de \n pedra” esfumaçada, estressante e entregue à delinquência. Lamento que a \n capital do estado onde nasci deteriora-se. Sua qualidade de vida é bem \n mais baixa em comparação com Curitiba, que é uma cidade mais arborizada e\n planejada.Creio que Curitiba é hoje o melhor que alguma cidade \n de grande porte alcançou no Brasil em termos de qualidade de vida e \n sustentabilidade em sua urbanização.Cidades médias e grandes têm \n cada vez mais dificuldade de investir em parques e outras áreas verdes, \n onde a população possa respirar ar puro. Um dos motivos é a expansão do \n uso dos terrenos e imóveis sobre áreas que deveriam ser de preservação \n ambiental, mas se transformaram em objetos de expansão predial.No\n Brasil, temos visto um inchaço populacional, urbano e comercial com \n pouquíssima sustentabilidade. Já passamos dos 200 milhões de habitantes e\n cada um de nós precisa ter condições dignas de sobrevivência \n (alimentação, moradia, saúde, transporte, etc.). Damos despesa enorme \n para a sociedade e a natureza, porquanto mais tiramos delas que repomos.\n Precisamos aprender a devolver ao planeta aquilo que subtraímos dele \n para nossa sobrevivência. Uma das maneiras de fazê-lo é ter maior \n consciência sobre como melhorar nossa qualidade de vida e, ao mesmo \n tempo, manter uma relação sustentável entre ser humano e natureza.Só\n assim faremos uma revisão do modelo de urbanização que queremos em \n nosso país a ponto de descartar o de São Paulo como um embuste com \n sotaque forjado.Cidade sustentável é aquela que cuida dos seus \n moradores em vez de garantir que até junho de 2014 tantos estádios se \n construam e se reformem para o futebol.As decisões sobre \n qualidade de vida dependem de você, leitor. Sua palavra terá voz quando \n optar entre mais cimento à sua volta ou mais harmonia com a natureza.(*) Bruno Peron, acadêmico e articulistahttp://www.brunoperon.com.br