O bolsonarismo criou uma nova mentira para tentar atacar Lula. Dessa vez, irão dizer que houve a explosão de uma balsa com eleitores de Bolsonaro dentro. Isso é falso e acaba de ser também desmentido pela agência de checagem Fato ou Fake. A mentira foi criada a partir de imagens reais da destruição de uma balsa de garimpo, vazia, que foi inutilizada pelo Ibama.

O interessante dessa história, porém, é percebermos como uma farsa é montada. A máquina de mentiras do bolsonarismo é sofisticada e feita sob medida para gerar desinformação. Quando querem que uma grande mentira se torne “verdade”, essa ideia é trabalhada uma série de mensagens diferentes, enviadas no WhatsApp e Telegram, pouco a pouco, desde o nível do rumor até o nível da “confirmação” (falsa) publicada em um site bolsonarista desses que simulam fazer jornalismo.

Veja como a farsa da explosão da balsa seguiu à risca esse método. Isso é importante para, ao conversar com familiares e pessoas que você ama, entender que muita gente acaba envolvida nesse novelo de medo e mentiras, muitas vezes, sem se dar conta. Veja como essa farsa foi criada.

Foto: Polícia Federal

Começando do fim. No dia 13 de outubro, um evento verdadeiro gerou imagens impactantes, captadas tanto por terra (por moradores, na beira do rio) como por ar (imagens oficiais da Polícia Federal). Trata-se de uma operação realizada em pontos do rio Madeira, nos estados do Amazonas e de Rondônia, para destruir balsas e dragas utilizadas no garimpo ilegal na região.

Com um elemento verdadeiro e imagens impactantes, o passo seguinte foi o gabinete do ódio criar um enredo que — como sempre! — resultasse em ataques à esquerda e à candidatura de Lula. O passo a passo é tão criativo quanto criminoso (e se repete todos os dias, em um ciclo infinito de mentiras).

Há alguns dias, áudios falsos, com pessoas simulando sotaques diferentes, enviados de números de telefone com DDDs diferentes, foram publicados nos grupos bolsonaristas. Os áudios relatavam, com horror, a explosão de uma balsa, no Pará. A história não estava completa (e isso é intencional, para criar um falso clima de “fofoca”, que ainda precisará ser “confirmada”).

Em paralelo, também nos últimos dias, o gabinete do ódio fez circular uma mentira associando o MST a uma suposta sabotagem às obras da Transposição do São Francisco. Essa mentira usou imagens de 2013 para confundir as pessoas. Também é mentira, desmentida. Mas serviu para “reavivar” o medo de ações deste grupo, que é um alvo recorrente de boatos, sempre criados para atacar Lula.

Com imagens “reais” de uma balsa explodindo, com relatos falsos de uma atrocidade com pessoas sendo mortas na explosão, com o medo pré-instalado de que integrantes do MST pudessem fazer ações coordenadas, só faltava a cereja do bolo: colocar Lula na história. A farsa de explosão da balsa é montada para enganar as pessoas

Para garantir que o alvo seja sempre Lula, esses grupos bolsonaristas são alimentados com velhas mentiras, como a de que o ex-presidente seria proprietário de fazendas no Pará. Isso não é verdade. Aliás, nem Lula nem seus filhos têm fazendas (nem Ferraris douradas!). Mas nada como uma mentira velha para dar uma aparência de “verdade” a uma mentira nova, não é mesmo?

Agora a receita da desinformação está quase completa. Nessa etapa, ainda nos grupos de WhatsApp e Telegram, tanto perfis robôs como pessoas reais (por má fé ou por ilusão mesmo) passam a “deduzir” que pessoas que votariam em Bolsonaro teriam sido mortas na explosão de uma balsa por obra do MST a mando de Lula.

O arremate final da máquina de inventar mentiras, geralmente, é a publicação de uma “denúncia” confirmando a hipótese que foi mais compartilhada nos grupos. Essa “notícia” é publicada em sites desinformativos, desses que simulam o jornalismo sério misturando algumas informações verdadeiras sempre apresentadas com viés totalmente pró-Bolsonaro.

Para quem já está preso nessa rede de mentiras, fica quase impossível perceber que, desde o boato espalhado por áudio até o “fim” da história, nada daquilo era verdade. Tudo foi criado artificialmente para produzir, nessas pessoas, a certeza de que uma mentira é verdade. É assim que a máquina de mentiras bolsonarista funciona.