Sexta-Feira, 29 de Março de 2024
Brasil
21/09/2017 11:34:00
CPMI da JBS convida Janot e convoca Miller, Joesley e Saud para prestar esclarecimentos

JP/PCS

Imprimir
Relator da CPMI, Carlos Marun é ferrenho crítico do acordo de delação que implicou o presidente Michel Temer (Foto: ABR)

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS aprovou na manhã desta quinta-feira (21) convite ao ex-procurador-geral Rodrigo Janot e convocações do procurador Marcelo Miller e dos donos da JBS Joesley e Wesley Batista para prestarem esclarecimentos.

O convite a Janot foi aprovado quase por unanimidade. Como o requerimento foi de convite, o ex-PGR não é obrigado a comparecer. O único voto contrário foi o do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Joesley e Wesley Batista, irmãos e donos da JBS, foram convocados por unanimidade para responder perguntas de deputados e senadores. Eles estão presos preventivamente por supostos crimes financeiros. Também foi aprovada de forma unânime a convocação do diretor do grupo empresarial, Ricardo Saud, assim como outros executivos.

Foi convocado na mesma sessão o ex-procurador e advogado Marcelo Miller, por unanimidade. Ele é suspeito de atuar, ainda como procurador, nos bastidores da delação da JBS antes de começarem as tratativas oficiais. Após se licenciar da PGR, Miller assumiu cargo de advocacia a favor da empresa.

Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES (2007 a 2016), foi convocado com votos contrários dos deputados Paulo Pimenta (PT-RS), Wadih Damous (PT-RJ), e do senador Paulo Rocha (PT-PA). A “honra” de Coutinho foi defendida por parlamentares. O ex-presidente da BNDES foi alvo de mandado de condução coercitiva pela Operação Bullish, em maio, que apurava o aporte de R$ 8 bilhões pelo BNDES para o grupo JBS. O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci também é investigado nesta operação.

Retaliação?

De maioria governista, a CPMI é vista pela oposição como uma forma de retaliar Rodrigo Janot por ter denunciado o presidente Michel Temer duas vezes (por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de justiça) com base na delação da JBS.

O relator da CPMI é o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), aliado fervoroso de Michel Temer.

Após a entrega pelos delatores de áudio entre um dos donos da JBS, Joesley Batista, e o executivo Ricardo Saud, dizendo que não seriam presos antes mesmo de começarem as tratativas de colaboração, o acordo foi revisto a pedido do próprio Janot, citado no diálogo. Rodrigo Janot cumpriu seu mandato e foi substituído no começo da semana por Raquel Dodge, que assumiu o Ministério Público Federal com discurso contra a corrupção e a favor das “harmonia entre os poderes“.

A segunda denúncia contra Temer deve ser enviada à Câmara após aprovação de maioria do Supremo Tribunal Federal. Para o presidente da República se tornar réu, dois terços dos deputados (342) têm que aprovar a tramitação da denúncia, que, antes, passará por análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Outros convites e convocações

Por unanimidade, foi convidado também Leonardo Porciúncula Gomes Pereira, ex-presidente da CVM, Comissão de Valores Mobiliários, que investigou os crimes financeiros imputados sobre os irmãos Batista. Joesley e Wesley teriam se beneficiado de informações privilegiadas da divulgação da própria delação para vender ações e comprar dólares no mercado financeiro.

Também foi convidado por unanimidade Márcio Lobo, advogado da associação de acionistas minoritários do grupo JBS.

Já sobre o convite do procurador Eduardo Botão Pelella, ex-chefe de gabinete e braço direito de Janot, houve discordância. Pelella foi convidado, mas houve votos contrários do Delegado Francischini (SD-PR), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Hugo Leal (PSB-RJ).

O procurador Ângelo Goulart Villela foi convocado com voto contrário de Randolfe. O senador ressaltou que Goulart já é investigado pelo Ministério Público e poderia usar a CPMI como “estratégia de defesa contra as graves acusações que pesam contra ele”. Ângelo Goulart Villela deu entrevista recente à Folha de S. Paulo em que acusa Janot de tentar derrubar o presidente Temer e barrar Raquel Dodge. Ele foi alvo da Operação Patmos e denunciado por corrupção passiva, violação do sigilo funcional e obstrução da Justiça.

O advogado Willer Tomaz de Souza também foi convocado por unanimidade. O deputado Wadih Damous (PT-RJ) ressaltou, no entanto: “Concordo com a convocação do advogado, desde que isso não tenha relação a qualquer ataque a prerrogativas da profissão”.

Foram convocados ainda delegados coordenadores da Polícia Federal que atuaram na condução das operações Bullish, Greenfield, Sépsis, Cui Bono, Tendão de Aquiles e Patmos, que tiveram a JBS e o BNDES como alguns dos alvos. Eles ainda serão indicados pela PF.

Requerimentos não votados

Requerimentos de quebras de sigilos não foram votados pois não houve quórum o suficiente na CPMI. A sessão foi encerrada.

Na lista de pedidos apresentados ao presidente da Comissão, senador Ataídes Oliveira (PSDB), estão ainda itens que vão do levantamento detalhado de todas as participações do BNDES-Par na JBS à cópia integral de inquéritos da PF em operações que envolvam a empresa.

Também foi requerido – e não votado – cópias de e-mails enviados por Marcelo Miller, entre outros. Cópias de dados do celular do diretor jurídico da JBS Francisco de Assis são outros alvos de pedidos parlamentares.

COMENTÁRIO(S)
Últimas notícias