Quinta-Feira, 28 de Março de 2024
Brasil
23/09/2017 08:51:00
Disputa milionária vira caso de polícia e deixa caixas eletrônicos sem dinheiro
Transportadoras de valores exigiram reajuste em contrato com Banco24Horas, mas pedido foi negado pela empresa TecBan, que acionou a Justiça e a polícia para impedir que os caixas ficassem desabastecidos

Época/PCS

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Dois caixas do Banco24Horas, em Sobradinho, entorno de Brasília. A falta de dinheiro já afeta mais de 400 terminais (Foto: Sérgio Lima/ÉPOCA)

O mercadinho Boa Compra, numa rua esburacada de Sobradinho 2, cidade nos arredores de Brasília, estava praticamente vazio às 11 horas da manhã da quinta-feira, dia 21. Os clientes minguaram. Um dos grandes atrativos da lojinha era o caixa eletrônico do Banco24Horas que fica ali. Mas faz dez dias que ele não tem dinheiro. “A transportadora de valores veio aqui, recolheu o dinheiro e avisou que ia parar de abastecer o caixa. As vendas, de imediato, caíram 30%”, lamenta o dono do mercado, André Luiz Soares.

A 3 quilômetros dali, mais caixas vazios. Na Farmácia Alternativa, o desligamento das máquinas virou caso de polícia. Os funcionários da empresa responsável pelos caixas e os da transportadora de valores que botam o dinheiro lá dentro brigaram. Foram parar na 35ª Delegacia de Polícia Civil do Distrito Federal. Não é só Sobradinho 2 que sofre com a falta de dinheiro. O desabastecimento dos terminais do Banco24Horas já atinge 25% da rede no Distrito Federal e 12% em Goiânia. Ao todo, cerca de 400 caixas eletrônicos estão sem dinheiro.

O que está em jogo é uma disputa empresarial entre o setor bancário e as transportadoras de valores, que acontece muito longe dali, em escritórios luxuosos de São Paulo. A briga judicial transcorre no Tribunal de Justiça da capital paulista, em processos sigilosos aos quais ÉPOCA teve acesso. A rede de caixas eletrônicos Banco24Horas, com 21 mil terminais em 600 cidades, movimentou no ano passado R$ 1,6 bilhão em transações bancárias.

A dona do negócio é a empresa Tecnologia Bancária S.A., ou TecBan, cujos sócios, por sua vez, são os principais bancos do Brasil: Itaú Unibanco, Santander, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Citibank. A TecBan tem sua própria transportadora de valores, a TBForte, que abastece 40% de sua rede. A Prosegur e a Protege, as duas principais transportadoras de valores do país, são contratadas para cobrir cerca de 30% dos terminais.

Há três meses, elas exigiram da TecBan reajustes de 25% a 30% nos valores dos contratos, sob o argumento de que os custos aumentaram desde o ano passado – principalmente com seguro, por causa do aumento de casos de roubo e furto. O aumento pedido pelas transportadoras, que em valores absolutos seria de aproximadamente R$ 50 milhões por ano, está bem acima da inflação dos últimos 12 meses, de 2,71% pelo IPCA. A TecBan negou o reajuste.

Ainda entrou na Justiça de São Paulo, pedindo que os contratos fossem mantidos nas condições atuais por 180 dias, até que novas empresas fossem contratadas. A vitória da TecBan foi parcial. Em decisões distintas do fim de julho e início de agosto, a 16ª Vara Cível e a 11ª Câmara de Direito Privado deram metade do prazo, 90 dias, para que as transportadoras terminem de prestar seus serviços até que a TecBan contrate novas empresas.

Foi nesse momento que a briga virou caso de polícia. O processo de transição das antigas empresas para as novas gerou desentendimentos, trocas de acusações e ao menos 40 boletins de ocorrência registrados no Distrito Federal, em Goiás e em São Paulo. De um lado, funcionários da TecBan acionavam guarnições policiais para impedir que os seguranças da Protege esvaziassem os caixas eletrônicos, sob o argumento de que o contrato ainda estava vigente.

A Protege diz ter sido informada por e-mail pela própria TecBan de que uma nova empresa já estava sendo contratada e que por isso deu início ao desabastecimento dos caixas. A decisão judicial prevê que, quando uma nova empresa for contratada, é possível interromper os serviços. A TecBan diz que o contrato com a nova empresa ainda estava em negociação. Em outros boletins de ocorrência, representantes da Protege acusam a TecBan de ter danificado a fechadura dos cofres dos caixas eletrônicos para impedir que o dinheiro fosse retirado.

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