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Cidades
16/02/2021 07:59:00
Alagamentos podem aumentar casos de leptospirose em MS
Doença teve 27 casos reportados no ano passado, mais da metade do que foi registrado em 2019; Secretaria de Saúde alerta para possível subnotificação

CE/PCS

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Foto: Arquivo/PCS

Os transtornos causados pelas chuvas vão além dos estruturais e atingem a saúde pública. Durante o ano passado, foram registrados 27 casos de leptospirose em Mato Grosso do Sul, e as precipitações que estão ocorrendo agora podem ser as principais responsáveis pelo aumento no número de notificações da doença no Estado este ano.

Além da quantidade de casos apresentados, especialista avalia que há subnotificação da doença.

De acordo com a gerente técnica de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Jacqueline dos Santos Romeiro, a contaminação ocorre quando o humano, com algum arranhão no corpo, entra em contato com água contaminada com a bactéria Leptospira.

“Principalmente quando a pessoa entra em contato com lama de esgoto, lagos e rios. É preciso evitar o contato com essas águas”, afirma a gerente.

Segundo o Ministério da Saúde, a doença ocorre em todos os meses do ano, mas tem maior incidência nos meses mais chuvosos, que acabam favorecendo a ocorrência de surtos.

“Em casos de enchentes, tem um risco ainda maior de a água estar contaminada. Isso porque vem água de tudo quanto é lugar e se concentra em um local”, enfatiza a especialista.

Para evitar o contato com o vírus é necessário tomar algumas precauções, como realizar constantemente a limpeza dos ambientes com água sanitária, que mata a bactéria, e fazer sempre a desinfecção dos reservatórios de água, além de lavar utensílios que forem ser utilizados, como copos e talheres.

“A atenção deve ser voltada principalmente à desinfecção do reservatório de água, com a água sanitária. A cada mil litros de água do reservatório, um litro de água sanitária”, orienta Jacqueline.

A gerente técnica acrescenta ainda a necessidade de evitar deixar crianças brincando em águas empoçadas.

Os grandes centros urbanos, principalmente as capitais metropolitanas, apresentam cenário mais grave da doença, isso em razão das grandes aglomerações populacionais de baixa renda que acabam vivendo à beira de córregos, locais com infraestrutura sanitária precária e com infestação dos roedores.

“No Estado não temos uma infestação de roedores, que é o hospedeiro definitivo da Leptospira. Não temos grandes conglomerados, como favelas, e pessoas sem saneamento básico, que são fatores que aumentam o risco. O Estado não se enquadra nesses quesitos, pelo menos não como nos grandes centros, e isso justifica então o fato de não termos tanta incidência e também as poucas notificações”, assegura Jaqueline.

Este não é o caso da maioria dos municípios de Mato Grosso do Sul, porém, em Campo Grande, essa situação é um pouco diferente, já que há algumas favelas na cidade e, apesar de ter água tratada em todos pontos da cidade, ainda há regiões sem esgoto – o serviço está presente em cerca de 80% da cidade, conforme a Águas Guariroba.

A falta de esgoto também ocorre em alguns municípios do interior, como Anaurilândia, Aral Moreira, Dois Irmãos do Buriti, Ivinhema, Laguna Carapã, Mundo Novo, Novo Horizonte do Sul, Rio Negro e Sonora, onde a rede está em implantação ou licitação, segundo a Sanesul.

Ainda de acordo com Romeiro, as notificações recebidas pelo governo do Estado são de casos em que o infectado precisa ser internado, portanto, são apenas os casos mais graves que chegam a serem registrados.

Campo Grande é o município que apresenta maior número de contaminados. Os dados apontam que, desde 2015, foram registrados 115 casos confirmados da doença na Capital.

No ano passado, porém, Dourados foi o município que apresentou maior incidência da doença, com cinco casos confirmados.

Segundo dados da SES, em 2020, foi registrado um total de 27 casos de leptospirose. Em 2019, o Estado contabilizou 44 casos notificados da doença. A redução de cerca de 50% entre 2020 e o ano anterior pode ser, de acordo com a gerente técnica da SES, um reflexo da pandemia da Covid-19.

“No ano passado, a Covid-19 deve ter sido responsável pela baixa de notificações, e não só de leptospirose, percebemos uma baixa de notificações da dengue também. Na época da pandemia, foi necessário cobrar dos municípios as notificações da dengue, por exemplo. As pessoas acabaram focando um pouco mais no coronavírus e deixaram de lado os outros agravos, como a leptospirose”, explica Romeiro.

CENÁRIO NACIONAL

De acordo com o Ministério da Saúde, a leptospirose é uma zoonose muito incidente no Brasil. A média de casos notificados no território nacional é de 13 mil por ano, com uma letalidade média de 10%. A doença atinge principalmente as pessoas na faixa etária dos 20 aos 49 anos.

Ainda de acordo com o Ministério, a média de internações chega a 75%, o que mostra a gravidade da maioria dos casos detectados pelo sistema de vigilância.

DOENÇA

A leptospirose tem um período de incubação que varia de um a 30 dias, sendo mais frequente entre cinco e 14 dias. As manifestações clínicas são variáveis, desde formas assintomáticas ou com sintomas leves até quadros clínicos mais graves.

A fase precoce da doença tem como característica a febre repentina acompanhada por dores de cabeça e dor muscular e frequentemente não pode ser diferenciada de outras causas de doenças febris agudas.

De acordo com manual divulgado pelo Ministério da Saúde, aproximadamente 15% dos pacientes progridem para a fase tardia da doença, que é associada a manifestações graves e potencialmente letais.

“Não existe idade de risco para a doença, porém, funcionários de propriedades rurais estão mais suscetíveis a serem infectados, isso porque, por exemplo, os animais silvestres e até os roedores vão se alimentar daquele resto de comida que ficou nos currais. E aí eles podem urinar e acaba contaminando, além do gado ou animal que vai se alimentar ali, o humano que for manipular esse local que está infectado com a urina que apresenta a presença da bactéria”, esclarece Romeiro.

SINTOMAS

Os sintomas clínicos de alerta são variados, e entre eles estão alterações do nível de consciência, vômitos frequentes e arritmias. A doença pode deixar sequelas durante certo tempo.

“O paciente pode apresentar alguns sintomas com duração de um a dois meses, como astenia [fraqueza], anemia, persistência da febre, dores de cabeça, dores musculares, mal-estar geral e pode ocorrer desaparecimento lento da icterícia. Em todos os casos, deve ser realizado acompanhamento médico”, explica a infectologista Taissa Leal.

A infectologista diz ainda que o tratamento depende da avaliação médica, mas que, em geral, envolve antibioticoterapia, que tem como finalidade curar uma doença infecciosa e sintomática.

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