Sexta-Feira, 3 de Maio de 2024
Ciência e Saúde
15/12/2023 08:24:00
'Chip da beleza' com ocitocina: implante hormonal 'turbinado' leva jovem para UTI

G1MS/LD

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Emagrecer, controlar a ansiedade para comer, aumentar a libido e tratar a obesidade. Essas são algumas das promessas de médicos que vendem implantes hormonais, popularmente chamados de "chips da beleza", com ocitocina. O uso do hormônio nesses implantes é a nova tendência on-line com o movimento “ocitocine-se”.

Segundo especialistas, isso representa um risco à saúde e não tem qualquer comprovação científica de que traga os resultados prometidos. Com até 1,5 cm, o "chip da beleza" é um implante em forma de bastonete de silicone inserido embaixo da pele por meio de uma microincisão.

Nesta semana, viralizou nas redes sociais o caso de uma jovem de cerca de 20 anos internada em estado grave em um hospital particular de São Paulo que desenvolveu um edema cerebral 24 horas após colocar o implante. A jovem pôs dois implantes com ciproterona, gestrinona, testosterona e ocitocina.

A ocitocina, conhecida popularmente como hormônio do amor, é produzida pela hipófise e tem uma ação antidiurética, agindo sobre o equilíbrio da água e sódio no corpo.

Quando há uma quantidade de hormônio acima dos níveis naturais, o corpo tem uma baixa de sódio, o que faz com que o volume de água aumente, causando uma intoxicação por água.

No caso da paciente, ela teve um edema cerebral, que é caracterizado por um inchaço no cérebro causado por aumento do volume de líquido no tecido cerebral. Segundo especialistas, o edema é uma das consequências do excesso de água no corpo.

Pelo quadro clínico, a principal hipótese foi essa. Quando se aumenta a ocitocina, e essa quantidade que ela usava no implante era grande, pode ocorrer a redução dos níveis de sódio no sangue e, consequentemente, a intoxicação por água. Isso é o que pode ter gerado o edema cerebral que ela teve. — Marcelo Luis Steiner, ginecologista endócrino

Embora não seja o responsável pelo caso da jovem, Steiner decidiu fazer uma publicação nas redes sociais contando o caso para alertar pacientes sobre os riscos da moda do uso da ocitocina.

“Isso [divulgação dos implantes] está na internet com promessas diversas, sem comprovação científica. Foram dois implantes com mil unidades de ocitocina [no caso da jovem]. Qual a segurança disso? Não existe. Não tem ensaio clínico para saber se isso é eficaz e seguro”, alerta.

Ocitocina não tem eficácia comprovada para fins estéticos Não há qualquer pesquisa que ateste a eficácia da ocitocina para tratar obesidade, ansiedade ou falta de libido.

O que tem efeito comprovado é apenas na indução de partos, sendo essa a única forma de indicação do seu uso.

O ginecologista Marcelo Luis Steiner explica que, em gestantes, são usadas cerca de 20 unidades em um prazo máximo de seis horas.

No caso da paciente internada com edema, o implante dela tinha mil unidades que deveriam ser liberadas aos poucos.

No entanto, a absorção dos hormônios é uma das questões que fez o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibir o uso desses chips.

O médico e presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Paulo Augusto Miranda, explica que a ciência vem estudando o papel desse hormônio, mas as pesquisas são voltadas para a sensação de bem-estar.

O primeiro passo dos estudos tem sido compreender como identificar a deficiência desse hormônio no organismo. Para doses extras de qualquer coisa no corpo, é preciso antes saber se há uma baixa e o que a deficiência pode causar. Sem isso não é possível pensar em fazer qualquer suplementação, como no caso do chip hormonal.

Estamos na fase de tentar identificar a deficiência e na compreensão dos efeitos crônicos dessa falta de ocitocina. Ou seja, não dá para dizer que injetar isso possa trazer benefícios. O que sabemos é que não é seguro. — Paulo Augusto Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)

“Chips da beleza” são proibidos

A proibição das terapias hormonais com fins estéticos foi feita pelo conselho em abril deste ano. O motivo: não há comprovação da segurança.

Um dos pontos é, justamente, a absorção. Os chips podem guardar diversos hormônios que são administrados em quantidades diferentes e que devem ser liberados aos poucos no corpo. No entanto, os estudos não mostraram, de forma clara, o perfil de absorção dessas substâncias e, com isso, as reações adversas.

Não temos estudos que determinem de maneira clara o perfil de absorção dessas substâncias no chip. E os estudos que existem mostram que há uma variação individual e isso muda o efeito colateral de pessoa para pessoa. Ou seja, é um risco. — Paulo Augusto Miranda, presidente da SBEM.

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