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Ciência e Saúde
25/09/2019 11:22:00
João Victor apresenta pesquisa que pode acabar com causador da doença de Chagas

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João Victor representou o centro-oeste brasileiro na feira internacional em Abu Dhabi (Foto: Reprodução/IFMS)

Desde 2016 enquanto ainda estudava no ensino médio na cidade de Coxim região norte de Mato Grosso do Sul, João Victor de Andrade dos Santos, hoje com 19 anos, descobriu algo que pode mudar a vida de muita gente.

O estudante desenvolveu o método para conservar caldo de cana, porque na época, via o pai enfrentar o problema com o prejuízo de não conseguir conservar o produto, mas essa descoberta vai muito além. Depois de aprimorada anos depois, foi descoberto que essa técnica pode ser capaz de inativar o protozoário Trypanosoma cruzi instalado no barbeiro, o inseto que transmite a doença de Chagas.

O estudo chamou a atenção da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), que está fazendo os últimos testes para verificar a eficácia do método. Só no Brasil, a doença de Chagas provocou a morte de cerca de 4,6 mil pessoas por ano entre 2008 e 2017.

Mas o trabalho de escola de João, que ajudou o pai e está a passos de melhorar a saúde evitando a doença de Chagas não ficou só no Brasil. João que hoje é universitário do curso de tecnologia em alimentos do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), campus de Coxim, foi convidado a apresentar seu projeto na feira MILSET Expo-Sciences International 2019, evento com a participação de mais de mil projetos de 60 países que ocorre em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos. A pesquisa é a única representante da região Centro-Oeste do Brasil na feira mundial.

João Víctor contou a experiência de ser "vizinho" de estandes como a Rússia, Portugal e de tantas outras nações. "O que mais tem me fascinado é que eu consigo ver os problemas de outras realidades e como os cientistas estão indo atrás de soluções. Todos aqui falam a mesma língua, a ciência, e isso é muito gratificante. Estou aprendendo muito, principalmente na área de microbiologia. Nunca participei de algo tão intenso", comemora o estudante.

Pelo caminho trilhado até onde chegou, João Victor resume tudo em gratidão. "Somos um somatório de pessoas, vivências, experiências, e eu não teria chegado até aqui sem minha família, amigos, professores, orientadores e apoiadores. Sou muito grato a todos os docentes que me apresentaram a ciência", comemora.

A PESQUISA

Em 2016, quando cursava o ensino médio na Escola Estadual Viriato Bandeira, em Coxim, João Víctor e os colegas foram "desafiados" pelo professor de Química, Lucas Gandra - formado no IFMS - a encontrar a solução de problemas da sociedade.

Na época, o estudante convivia com um problema vivido diariamente pelo pai, vendedor de caldo de cana. "Meu pai tinha que colher a cana todos os dias para moer porque não havia como conservar o caldo produzido, e o caldo que sobrava não podia ser aproveitado, o que gerava um grande desperdício do produto".

Sem laboratório para fazer as análises químicas e biológicas, a escola fez uma parceria com o IFMS, que cedeu espaço e equipamentos para que o estudo fosse realizado. João Víctor e a então colega, Maria Eduarda Gobbi Pereira, desenvolveram uma técnica nos moldes da pasteurização capaz de conservar o caldo de cana.

"Depois de dois anos de testes, chegamos às temperaturas e tempos ideais. Primeiro, é preciso aquecer o caldo de cana a 90 graus por cinco minutos e, imediatamente em seguida, o produto deve ser resfriado em banho de gelo, a aproximadamente 7 graus. A técnica mantém a qualidade do caldo por até 20 dias e pode ser desenvolvida pelo próprio vendedor", detalha João Víctor.

Em uma segunda fase da pesquisa, os estudantes passaram a receber a coorientação de Aline dos Santos Garcia Gomes, professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e pesquisadora conveniada da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz).

João Victor passou 15 dias na capital do Rio de Janeiro onde, nos laboratórios da Fiocruz, verificou que o tratamento térmico poderia também inativar o protozoário causador da doença de Chagas no caldo de cana. "O próximo passo será fazer análises sensoriais e em camundongos para certificar esse resultado e publicar a pesquisa. A ideia, futuramente, é produzir uma cartilha com linguagem simples para que o vendedor do caldo de cana possa aplicar o método e distribuir esse material em áreas endêmicas da doença", finaliza o estudante.

**Com informações da IFMS*

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