CGN/LD
ImprimirPor que algumas pessoas desenvolvem casos graves de covid-19, enquanto outras têm sintomas leves ou sequer percebem a infecção? Essa pergunta ainda intriga cientistas, mesmo cinco anos após decretada a pandemia. Por isso, um novo estudo do Fiocruz (Instituto Oswaldo Cruz), publicado na revista científica BMC Infectious Diseases, traz mais uma pista.
Analisando amostras de sangue de pacientes hospitalizados, os pesquisadores encontraram uma relação entre a gravidade da doença e o desequilíbrio no SRAA (sistema renina-angiotensina-aldosterona), responsável por regular a pressão arterial e a resposta inflamatória do corpo.
Segundo o estudo, pacientes idosos e com doenças como diabetes e hipertensão, já com funcionamento comprometido desse sistema, apresentam menos proteínas que atuam como receptores do SRAA, como ACE2 e MAS1. Isso pode explicar por que esses grupos são mais propensos a desenvolver quadros graves e têm maior risco de morte.
A pesquisa foi conduzida por cientistas do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular e do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical do IOC, em parceria com o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas.
A equipe descobriu que, nos pacientes com quadros mais graves, vários desses receptores também apresentaram queda na expressão, o que compromete funções essenciais como a regulação da inflamação e da circulação sanguínea. Isso pode piorar os sintomas tanto na fase aguda quanto em casos prolongados, conhecidos como ‘covid longa’.
Outro ponto de destaque é que, mesmo 300 dias após o início dos sintomas, o sistema SRAA continuava desregulado nos pacientes analisados. Para os cientistas, isso pode indicar a persistência de efeitos do vírus no organismo por muito mais tempo do que se imaginava.
A pesquisa acompanhou 88 pessoas hospitalizadas, durante a fase aguda da covid-19 e cerca de 10 meses depois. Um grupo de 20 pessoas saudáveis também foi incluído na comparação.
Além da redução dos receptores, os pesquisadores observaram alterações em moléculas chamadas microRNAs, que regulam a atividade de diversos genes. Essas mudanças foram mais evidentes em pacientes com sintomas severos, reforçando o impacto da infecção nos mecanismos regulatórios do corpo.