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Ciência e Saúde
03/12/2017 11:08:00
Pesquisa da Unicamp descobre uso de nanopartículas de ferro para fortificar leite para recém-nascidos

G1/LD

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Uma pesquisa desenvolvida pela Unicamp, em Campinas (SP), em parceria com a Universidade de Oviedo, na Espanha, encontrou uma forma de utilizar nanopartículas de ferro na fortifiação de leite para recém-nascidos. A tecnologia é possível tanto para uso em fórmulas infantis como para ser somada ao leite materno.

A descoberta desse uso permite que o ferro - essencial para evitar doenças como anemia e para estimular o desenvolvimento do bebê - seja melhor absorvido pelo organismo. O teste foi feito em cobaias e o próximo passo é fazer experimentos in vitro (teste em laboratório com células intestinais).

"A gente tem um problema muito grande com a fortificação do ferro nas fórmulas infantis. Hoje é usado o sulfato ferroso, mas está em uma forma química muito diferente que influencia no processo de absorção do ferro. O foco da nossa pesquisa era encontrar um fortificante mais eficaz que se assemelha mais ao encontrado no leite materno", explica Rafaella Regina Alves Peixoto, pós-doutoranda em química e uma das pesquisadoras envolvidas no estudo.

Segundo Rafaella, o ferro presente na nanopartícula foi absorvido e metabolizado pelo organismo das cobaias de maneira eficaz.

A partir do leite materno

A nanopartícula ainda não havia sido testada como fortificante, segundo a pesquisadora. Em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, foi analisado o ferro na composição do leite materno. Já o estudo do metabolismo desse componente químico foi feito na Espanha, com tecnologia avançada.

"No Brasil não tem os equipamentos necessários para fazer as análises, então parte delas foi feita em Oviedo. Fizemos o estudo do metabolismo do ferro quando administrado sob a forma de nanopartículas. [...] O estudo é inédito por conta dos métodos usados para estudar o metabolismo", explica Rafaella.

Integram o grupo de pesquisadores a professora Solange Cadore, do departamento de química analítica do Instituto de Química, e o professor Alfredo Sanz Medel, do departamento de físico-química e analítica na Espanha, supervisor dos estudos.

No leite materno, o ferro está ligado a proteínas, é o que faz com que ele seja melhor absorvido, segundo Rafaella.

"O ferro na nanopartícula está numa forma similar à ferritina presente no organismo. É um ponto de partida. A absorção foi maior", conta Rafaella.

Desenvolvimento do bebê

A absorção do ferro pelo organismo, principalmente, de recém-nascidos é essencial para a prevenção de doenças como a anemia e o crescimento da criança.

"É um alimento essencial. [...] A gente precisa dele pra viver. É um dos elementos do leite materno mais estudados porque a gente tem um grande problema de anemia a nível mundial", afirma a pós-douturanda.

Em relação aos bebês prematuros, Rafaella ressalta que muitas vezes o leite materno não está disponível, e eles têm maior necessidade de ingerir nutrientes. Nesses casos, a opção é o leite humano doado ou as fórmulas infantis.

"É aí que essa nanopartícula pode ser utilizada. Nós temos o ferro de uma maneira que ele possa ser melhor absorvido. [...] Às vezes, tem bebês que nascem com enfermidades que necessitam de maior teor de ferro. Se o ferro tem maior biodisponibilidade [melhor absorção no organismo] não precisa adicionar tanto e possivelmente não tem nenhum efeito tóxico para o organismo", diz.

Atualmente é usado sulfato ferroso nas fórmulas infantis, mas, segundo Rafaella, já se sabe que o organismo absorve pouco - em média 5% -, o que acaba fazendo com que os fabricantes adicionem mais desse "ingrediente" no leite. Segundo o estudo, em excesso, o sulfato ferroso pode causar efeitos gastrointestinais colaterais e interferir na absorção de outros nutrientes. Metabolismo em cobaias

Em cobaias, os pesquisadores analisaram como as nanopartículas de ferro se metabolizam no organismo a partir da fórmulas de leite. Ela foi administrada em ratos e, posteriormente, o foco foi o resultado no sangue e no fígado.

"Isso significa que, se ela chegou, está sendo usada em funções metabólicas. Poderia ser excretada do organismo, mas foi absorvida. [...] Verificamos que o ferro que administramos como nanopartícula chegou no sangue dos ratos, no fígado, ou seja, ela foi absorvida", ressalta.

Próximos passos

A pesquisadora explica que mais testes com relação ao metabolismo e a biodisponibilidade in vitro ainda estão sendo realizados.

"Em laboratório, simulamos uma camada intestinal, e isso em um método que o laboratório da professora Solange foi pioneiro no Brasil. Fazendo os testes in vitro temos a possibilidade de fazer um número maior de ensaios", explica.

A nanopartícula de ferro já está patenteada e a pesquisa está em processo de publicação em revistas internacionais. O estudo segue em andamento e, segundo Rafaella, ainda não há uma previsão para que a novidade seja disponibilizada no mercado.

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