Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024
Ciência e Saúde
11/03/2018 09:09:00
Um século da gripe espanhola: luta contra a doença continua e mundo tem pelo menos 3 milhões de casos graves por ano

Bem Estar/LD

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Há 100 anos tinha início a grande epidemia de gripe espanhola que deixou ao menos 50 milhões de mortos. Um século depois, a guerra contra o vírus da gripe continua e a perspectiva de uma nova pandemia parece inevitável.

Em uma manhã de março de 1918, um soldado no Kansas (centro dos Estados Unidos) foi admitido na enfermaria com febre, dores musculares e dor de garganta, sintomas da gripe.

Em poucos meses, um terço da população mundial foi afetada pela epidemia que resultou ser mais mortífera que a Primeira Guerra Mundial, na qual morreram quase 10 milhões de militares e nove milhões de civis.

A magnitude deste flagelo não foi, felizmente, igualada por outras epidemias, mas em algum momento uma nova pandemia afetará o mundo, cada vez mais globalizado, afirmam os especialistas.

A questão é saber quando. A gripe é uma infecção viral aguda que se propaga facilmente de uma pessoa a outra.

Os principais sintomas são febre alta, tosse, dores e mal-estar na garganta. Na maioria dos casos é leve, mas há pacientes que experimentam consequências graves.

Embora não haja uma pandemia, em um ano normal se atribui às epidemias de gripe entre 3 e 5 milhões de casos graves e entre 290 mil e 650 mil mortos em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Entre os custos médicos, as faltas e outras consequências, a fatura é exorbitante.

Mas, por que um vírus tão comum segue sendo uma ameaça, enquanto a varíola, por exemplo, foi erradicada?

A resposta é porque este vírus é um ás da metamorfose.

"Os vírus da gripe têm uma capacidade de mutação enorme, já que para sobreviver são obrigados a mudar em mutações aleatórias", explicou Vincent Enouf, do Instituto Pasteur de Paris.

Há quatro tipos de vírus da gripe: A, B, C e D (este último afeta principalmente o gado). As epidemias sazonais são provocadas pelos vírus A e B.

Os primeiros se dividem em vários subgrupos, entre eles o H1N1 e o H3N2, que circulam atualmente entre os humanos. Os vírus do tipo B se dividem em duas cepas principais: Yamagata e Victoria.

Cada um pode ser divido em diferentes cepas, e cada uma delas necessita sua própria vacina.

Em busca da vacina universal

O cenário mais catastrófico seria a aparição de novos vírus transmitidos entre humanos a partir de mutações que combinem agentes que afetem pessoas com patógenos dos animais.

Desde a gripe espanhola, houve três pandemias que se desenvolveram desta forma: a gripe asiática de 1957, a de Hong Kong de 1968 e a A (H1N1) de 2009.

E os vírus contam com reservas naturais ilimitadas, já que circulam constantemente em populações de aves.

"Nós, a população humana, vamos estar continuamente expostos à gripe e a novas cepas de vírus, a cada ano, a cada década e sem dúvida assim será sempre", prevê o especialista em vírus David Evans, que trabalha na Universidade Saint Andrews na Escócia.

A consequência é que vai haver outra pandemia.

"Sua periculosidade e o número de mortos que deixará dependerá da natureza exata que tenha o vírus", indica Wendy Barclay, especialista em gripe do Imperial College, uma universidade com sede em Londres.

Embora, diferentemente de 1918, tenhamos antibióticos para tratar as infecções bacterianas que aproveitam o ataque do vírus da gripe, como são as bronquites e as pneumonias, que são uma causa importante de mortalidade, não se deve cantar vitória.

"Os danos poderiam ser igualmente muito significativos", advertiu Barclay.

Então, haverá algum dia uma forma de ganhar a guerra contra a gripe?

Este é um sonho da comunidade científica, contar com uma arma definitiva, uma vacina universal que possa ser eficaz sem importar qual cepa do vírus ataque.

Mas hoje, isso é ficção científica.

Atualmente há muitas vacinas em estudo, mas "não se sabe se uma ou outra vai ser concluída com êxito", destacou o virologista Jonathan Ball, da Universidade de Nottingham.

"O vírus da gripe é, sem dúvida, um dos mais estudados e dos mais controlados", disse Evans.

"Mas o que aprendemos é que é muito difícil de controlar".

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