Quinta-Feira, 18 de Abril de 2024
Cultura
04/02/2021 14:21:00
'BBB21' reacende discussão sobre 'caipirice' fake e preconceito
Participantes conseguiriam forçar sotaque por 3 meses? Jeito de falar gera empatia e ajuda a construir personagem? E quando rola preconceito? Entenda força dos sotaques no jogo.

G1/PCS

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Caio, Rodolffo e Juliette no "BBB21" (Foto: Reprodução/TV Globo )

Há quem sinta empatia pelo sotaque alheio, quem seja preconceituoso e até quem pense que os participantes estão forçando a barra para criar um personagem no "BBB21".

Nesta edição do reality, Caio e Rodolffo chamaram atenção com um forte sotaque goiano, visto como caipira.

O jeito de falar, como no interior, já foi visto no programa com o Cowboy, no "BBB2" e com Cézar Lima, no "BBB15". Os dois mostraram que um sotaque simpático pode ser o trunfo de um "vencedorrr".

Nos vídeos em que participantes estavam sozinhos no quarto do hotel, o sotaque parecia menos carregado do que as conversas dentro da casa. É possível forçar o sotaque? Ele ajuda a construir um personagem?

Para Luana Souza, doutora em psicologia social e professora da Universidade de Fortaleza, a questão é que pessoas do mesmo sotaque tendem a ficar mais à vontade quando juntas.

"Quando eles estão conversando na casa, eles estão sendo mais naturais possíveis, meio que sem racionalizar muito, sem pensar na forma como estão falando", diz a psicóloga.

Luciane Sagrette, fonoaudióloga e professora de oratória, também vê como improvável a possibilidade de forçar um sotaque por tanto tempo.

Caio e Rodolffo no 'BBB21' (Foto: Reprodução/TV Globo )

"Não acho que dê para ser sustentado por três meses, não é fácil. Fazer com que ator consiga um sotaque diferente, por exemplo, é difícil, requer muito trabalho", explica a professora.

Ela destaca que, nos vídeos antes do programa, os participantes estavam ativamente falando para uma câmera. Isso, por si só, já pode ser um motivo de alteração do jeito que uma pessoa fala.

Sotaque ajuda a reforçar um estereótipo?

Rodrigo Cowboy, Cézar Lima, Grazi Massafera e Daniel Lenhardt são participantes que ficaram marcados pelo forte sotaque do interior, mesmo vindo de estados diferentes do Brasil.

Cézar ficou conhecido pelas gírias e pelo sotaque carregado de Guarapuava (PR) e acabou como campeão do "BBB15". Cowboy venceu o "BBB2", Grazi ficou em 2º lugar no "BBB5" e Daniel participou da edição do ano passado.

As características do sotaque são parte importante da identidade de uma pessoa, da forma como as pessoas interagem e como são vistas por um grupo, segundo as especialistas ouvidas pelo G1.

"O sotaque é uma marca social muito forte, mais forte do que a aparência nas relações. Quando você olha para alguém, você não consegue saber de onde ela é, mas quando ela abre a boca, você já consegue categorizar e recuperar todo aquele estereótipo", diz Luana, da Universidade de Fortaleza.

Luciane completa: "Esse R puxado está muito ligado aquele personagem que é mais ingênuo, que não tem malícia, que é uma pessoa boa e, você consegue criar uma certa empatia. Não quer dizer que seja o caso no 'BBB21', mas pode passar essa mensagem."

As conversas de Caio e Rodolffo foram muito compartilhadas nas redes sociais, e os internautas diziam se identificar e achavam fofo o jeito que a dupla fala na maioria dos comentários.

Enquanto isso, dentro da casa...

No "BBB21", o preconceito falou mais alto quando Karol Conká imitou o sotaque de Juliette no sábado (30), para Fiuk e Gil. Projota também imitou o jeito de falar da paraibana para as risadas de Conká e Nego Di.

Juliette chegou a dizer que tentaria mudar o sotaque. Mais de uma vez, tentou explicar para o grupo que não consegue ser entendida na casa.

"Como uma forma de ser aceito socialmente, as pessoas amenizam seu sotaque ou tentam falar de acordo com o sotaque predominante", explica Luana.

A participante tentou explicar, em uma longa conversa na noite de terça (2), como ela estava sendo alvo de piadas.

Conká também foi criticada por ter falado que "lá na terra dessa pessoa é normal falar assim", ao se referir à forma de se comunicar da advogada e maquiadora de Campina Grande.

"Existe um preconceito com os sotaques do Nordeste e também relação ao R mais caipira. É bem lamentável", completa Luciane, que atende pacientes que buscam suavizar o sotaque nordestino constantemente em seu consultório.

"Já atendi profissionais renomados que queriam suavizar, porque davam aula e era visto como algo ruim, algo inferior, como se a pessoa soubesse menos".

Apoio de artistas nordestinos

Juliette recebeu o apoio de famosos e ex-BBBs nas duas situações em que Karol Conká foi preconceituosa. Flay, participante do 'BBB20', escreveu que também já pensou em mudar o sotaque para ser aceita em situações e grupos diferentes, mas desencorajou a participante.

"Isso não existe, não mude, Juliette, você não faz personagem, você é foda, dá a cara tapa, sulista arrogante e prepotente que LUTE para lhe entender, ninguém é superior a você", escreveu Flay, que é da Paraíba.

"O sotaque da Juliette, aí que delícia, melhor sotaque sim", comentou a influencer paraibana GKay. O cantor Wesley Safadão, que é de Fortaleza, também apoiou Juliette e a região onde vive: "Tenho muito orgulho do meu Nordeste".

Karina Buhr, cantora baiana, mas que cresceu em Recife, lembrou de situações que viveu em São Paulo.

"Nos anos que fui do Teatro Oficina, de vez em quando ia equipe de agência lá gravar atriz e ator pra testes de comercial, filme etc. Não teve uma vez que não teve risada quando eu começava a falar e muitas vezes já desligavam a câmera ali mesmo e davam qualquer desculpa".

Xand Avião também compartilhou sua experiência nas redes. "Quando cheguei do RN aqui no CE a galera ria do jeito que eu falava".

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