Terça-Feira, 8 de Julho de 2025
Economia
07/07/2025 07:49:00
Trump lança ameaça contra Brics e promete retaliações ao bloco
Se o mundo fosse esperto, isolava os EUA, um país quebrado que tenta mostrar o contrário

UOL/PCS

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O presidente dos EUA, Donald Trump, lançou uma ameaça contra o Brics e apontou que qualquer país vinculado com as políticas do bloco de economias emergentes será alvo de impostos extras. O alerta ocorre horas depois de o grupo se reunir em sua cúpula no Rio de Janeiro e representa um ataque direto à presidência do Brasil.

"Qualquer país que se alinhe com as políticas antiamericanas do BRICS terá de pagar uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a essa política. Obrigado por sua atenção a esse assunto!", afirmou Trump nas redes sociais.

Desde que venceu a eleição, em 2024, Trump vinha fazendo ameaças ao Brics, principalmente no que se refere ao uso de moedas locais para o comércio e um eventual abandono ao dólar. O americano chegou a mencionar tarifas de 100% caso a moeda dos EUA fosse abandonada pelos emergentes. Nos últimos meses, alguns dos países do bloco optaram por dar um perfil mais baixo para o debate sobre a desdolarização.

Trump também chegou a declarar o bloco como "morto", sugerindo que foram suas ameaças que congelaram as ações do grupo. Num dos episódios que ainda viralizou na Europa, o americano deu indicações de que a Espanha faria parte do Brics, o que jamais foi o caso.

Desta vez, o ataque não especifica quais seriam as políticas do bloco que poderiam ser consideradas contrárias aos interesses americanos. Na declaração final do Brics, na cúpula do Rio de Janeiro, há um apoio ao Irã, uma defesa aos palestinos em Gaza, denúncias contra as tarifas americanas e propostas de regulação das Big Techs, entre tantos pontos de divergência com a Casa Branca.

A declaração de Trump ocorre num momento em que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda esperava uma negociação para buscar um acordo comercial antes do prazo final dado pelo presidente americano, que expira em 9 de julho. O UOL apurou que, na última sexta-feira (4), delegações dos dois países se reuniram por videoconferência para tentar um entendimento. Fontes no Itamaraty afirmam que as conversas continuam.

Na noite de hoje, o presidente americano foi às redes sociais anunciar que os acordos serão anunciados amanhã.

"Tenho o prazer de anunciar que as Cartas Tarifárias e/ou Acordos dos ESTADOS UNIDOS com vários países do mundo serão entregues a partir das 12:00 P.M. (Leste), segunda-feira, 7 de julho", escreveu.

A Casa Branca está focando seus esforços diplomáticos em 18 parceiros que, juntos, representam mais de 90% do comércio internacional dos EUA. Entre eles, estariam países como Índia, Tailândia, Japão e a União Europeia. Não há, neste momento, nenhuma confirmação de que o Brasil esteja na lista dos acordos que podem ser fechados.

No Palácio do Planalto, há um certo pessimismo e a constatação de que o país pode ficar de fora dos acordos que serão anunciados.

A ideia é de que 12 desses países vistos como prioritários recebam cartas amanhã com a confirmação de entendimentos ou a recusa de acordos. Em entrevista à rede de TV CNN, o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, queixou-se de que muitos deles estariam protelando um entendimento.

Há duas semanas, o governo brasileiro havia feito uma oferta de redução de certas tarifas para os produtos americanos, sob a condição de que os EUA adotassem uma postura semelhante. Mas, por dias, a proposta ficou sem uma resposta por parte da Casa Branca.

Na sexta, o tema foi alvo de um debate entre os representantes dos dois países, ainda que de forma inconclusiva. Os americanos insistem que as tarifas aplicadas pelo Brasil são elevadas, principalmente no etanol e alguns produtos industrializados. Ao longo do processo, ministros como Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Internacionais) e Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) fizeram parte das tratativas.

O governo brasileiro chegou a admitir cortar a taxa de 18% sobre o etanol americano, desde que as tarifas dos EUA ao açúcar nacional também fossem reduzidas.

Em 2 de abril, o governo Trump anunciou aumentos de tarifas para mais de 180 países. Nos dias seguintes, porém, suspendeu a aplicação para muitas dessas nações e passou a negociar. No caso do Brasil, as taxas estabelecidas foram de 10%, de uma forma geral, além de 50% para o aço.

Do lado brasileiro, porém, os dados do fluxo de comércio em abril e maio revelam que os impostos extras começam a afetar as vendas nacionais. Conforme o UOL mostrou a partir de levantamentos da Câmara de Comércio Brasil-EUA, cinco dos dez produtos mais exportados pelos brasileiros ao mercado americano sofreram queda.

Além disso, o superávit comercial americano com o Brasil subiu para US$ 1 bilhão. O brasileiro é um dos raros mercados com os quais os EUA têm saldo positivo.

Neste fim de semana, o secretário Bessent afirmou que as tarifas voltarão a ser aplicadas a partir de 1º de agosto para os países que não tenham fechado um acordo.

Cerca de cem países com os quais o comércio bilateral dos EUA é pequeno ainda serão informados do status das tarifas, também por cartas.

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