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Esportes
01/03/2018 10:45:00
Americana-brasileira, Mackenzie Dern estreia no UFC e diz não sentir a pressão

G1/LD

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Rosto bonito, sorriso constante, maquiagem e cabelo impecáves e unhas pintadas. Foi assim que a peso-palha do UFC Mackenzie Dern recebeu a equipe do Combate.com para uma entrevista em Las Vegas (EUA), palco de sua estreia no maior evento de MMA do mundo contra Ashley Yoder daqui a dois dias, no UFC 222. Simpática, muito falante e com um português quase perfeito, a americana-brasileira nascida na cidade de Phoenix, no estado americano do Arizona, e filha do lutador de jiu-jítsu Wellington “Megaton” Dias , falou sobre como se sente às vésperas de subir pela primeira vez no octógono, e revelou que não pretende lutar MMA por muitos anos. Enfrentando a resistência do pai à sua mudança do jiu-jítsu - esporte no qual ela é uma estrela consagrada - para as artes marciais mistas, Dern também abordou a questão do reconhecimento pela beleza, e se mostrou motivada a inspirar as pessoas.

Confira a entrevista

Expectativa para a estreia

  • Não caiu a ficha ainda. É muito surreal pra mim, e tomara que continE assim pra falar a verdade. Eu tenho falado a semana toda a mesma frase: "Aonde não tem pressão, você não cria o diamante". Pra mim, pode vir a pressão. Eu sei que tem muitos olhos em mim, porque é a minha estreia. Tem muitas pessoas que estreiam e não tem tanta gente olhando, então pra mim não tem problema. Não sei, quando eu estiver lá andando e vir a minha adversária, se eu vou sentir. Todo mundo fala que, quando você entra lá no UFC tem um frio na barriga. Não sei... Por enquanto estou focada no peso, estou com energia, estou sorrindo e conseguindo falar. Só estou pensando no peso e vamos lá pra ver. Estou muito ansiosa para a luta.

Pressão

  • Eu nunca falei sobre isso. Eu sempre passei por isso no jiu-jítsu. Desde que eu era faixa azul, quando ganhei meu primeiro Mundial, aos 14 anos, sempre teve esses olhos para a "filha do Megaton", um pouco mais de pressão desde novinha. Eu nunca pensei em lutar MMA. Meu pai sempre foi muito contra, mas isso bem ou mal me preparou para esse momento. Eu não sinto a pressão. É mais um dia trabalhando.

Resistência do pai

  • Eu já tenho cinco lutas profissionais e ele nunca foi a nenhuma. Essa semana eu perguntei: "Você vai?". Ele sempre vai ser o meu "coach", no jiu-jítsu ele sempre me ajuda e isso nunca vai parar. Mas ele foi o meu "coach" por 21 dos meus 24 anos de vida. Nessa nova jornada eu quero preservar a relação que eu tenho com o meu pai. Ele sempre vai ser meu pai. Eu tenho os caras que, na hora da sauna, na hora da banheira, quando eu tiver que ficar mais dez minutos e eu estiver chorando, eles não vão ter Problema em me ver sofrer. O meu pai - paizinho, né - vai dizer: "Tá bom filha, sai". A gente achou melhor ser assim pra preservar a relação. Ele sempre vai ser meu "coach" na vida, mas ele também ficaria muito nervoso. É bom que ele ficar com a cachorra que tem lá em casa, no sofá. Quando eu ligar dizendo que ganhei, ou que perdi, não vai ter aquela adrenalina, que é muito forte.

Vida curta no MMA

  • Aceitar, ele não aceita muito, não. Sempre no almoço ele me fala: "Poxa, não quer voltar pro jiu-jítsu?", e eu respondo que não, só daqui a alguns anos. Eu prometo que não tenho planos de fazer MMA por mais dez anos. Se eu já sou esquecida, imagina se ficar tomando soco na cabeça por mais dez anos (risos). Eu vou esquecer tudo. Eu quero ganhar o cinturão, e quero defender. Quem sabe, depois de ganhar no peso-palha, eu não subo pra ganhar também no peso-mosca? Eu não tenho certeza do meu futuro no MMA, mas o que é mais tenso é que eu não quero ficar muitos anos no MMA. Isso é o legal do jiu-jítsu. Você tem pessoas de 80 anos treinando. Eu estou no meu auge, este é o momento certo para eu estar aqui. Depois de conquistar tudo o que eu quero no MMA eu quero voltar para o jiu-jítsu, ter uma família. Eu tenho certeza de tudo que eu quero.

Beleza não atrapalha

  • Eu me sinto muito confortável com isso. Nunca quis ser só um rosto bonito. Desde o jiu-jítsu tinha essas coisas. Eu lutando de faixa azul, eu sempre venho lutando muito bem, sempre ganhando muitas coisas e mostrando um jiu-jítsu bonito, e não ganhando por decisão sempre. Eu sempre ia para finalizar, e ganhei o respeito de todo mundo pelo jeito que eu luto, e graças a Deus teve essa coisa de marketing, de beleza. As pessoas acham que lutando boxe, judô, muay thai, a mulher vai ficar masculina, e não é assim. No jiu-jítsu eu sempre consegui mostrar, e espero, inspirar mulheres a entrarem na luta sem mudar o que elas são. Se você gosta de músculos ou de pintar a unha, ou fazer o cabela, pode fazer tudo isso. Desde quando eu entrei no MMA, as pessoas sempre vinham com isso de ser bonita. Agora que eu estou em um palco grande, vou usar mais isso pra inspirar o máximo de pessoas possível. É meio o estilo da Ronda, mas com a personalidade totalmente diferente. Você pode ser "mulherzinha", ou o que você quiser. Não tem essa de rotular quem luta. Eu estou sempre sorrindo, com as unhas pintadas. Acho que eu consigo inspirar assim.

Sofrimento com a dieta

  • Nas minhas primeiras lutas de MMA, eu trabalhei com uma nutricionista de MMA que já trabalhou com a Cris Cyborg. Eu achei que tinha que virar atleta de MMA, fazer tudo que eles fazem. É bem diferente do jiu-jítus, quando a gente pesa no dia da luta e vai direto pro tatame. A gente não tem isso de recuperar peso. Você tem que acostumar a lutar no peso em que você está. Não se vê no jiu-jítsu um atleta desidratar 6kg, 7kg e recuperar tudo isso pra lutar no dia seguinte. Eu tentei fazer isso e não me senti bem. Eu faço um esporte há 21 anos, e acho que o meu corpo está moldado desse jeito. Na minha luta eu tive o melhor corte de peso e fiz a dieta muito parecida com a do jíu-jitsu. Não fiz um dia de sauna, e nenhuma banheira. Foi o camp inteiro de dieta e muita preparação física. Bater 52kg é muito difícil pra mim, sendo a dieta do jiu-jítsu ou do MMA. Eu não sou uma peso-palha magrela, tenho corpo de brasileira. É uma coisa difícil pra mim, mas eu estou me sentindo bem, nao estou desmotivada. Estou entendendo melhor o meu corpo. Mas foi difícil porque fui passar o réveillon no Brasil, um mês lá e com açaí e tapioca é difícil, mas estou focada.

Ashley Yoder, a rival de sábado

  • Essa parte eu deixo pra minha equipe. Como estou muito no início, quero apenas ser a melhor Mackenzie possível. Mas eu sei as coisas mais importantes: ela é canhota (eu estava acostumando a aprender a lutar contra pessoas destras, como eu. Mas aí mudou e eu fiquei nervosa, mas o meu "coach" me disse que eu estava bem. Hoje pode ser qualquer uma, porque estou muito melhor. Ela é mais alta que eu - isso é uma coisa em que vamos prestar muita atenção - sabe medir a distância e é mais alta que eu. Ela vem de duas derrotas seguidas, e quer ganhar. Lógico, todo mundo quer, mas quando você vem de derrota, quer ainda mais aquele gosto da vitória. Não conheço o contrato, e não sei se ela pode vir a ser cortada se perder mais uma. Nós achamos qe ela vai vir pra cima com muita pressão, e isso é ótimo pra mim. A gente quer isso. Vamos ver. Eu também vou tentar colocar o meu jogo, sem me machucar.

Foco no MMA, mas sem esquecer o jiu-jítsu

  • Quero focar 100% no MMA. Ano passado eu estava tentando encerrar a minha carreira no jiu-jítsu, mas não foi do jeito que eu queria, porque sofri uma lesão e tive que operar o joelho. Eu vi que não posso fazer os dois, meio a meio. O que vai me salvar aqui no MMA é o jiu-jítsu. Eu pensava: "Não posso perder a confiança no meu jiu-jítsu, mas não posso perder esse tempo, tenho que continuar evoluindo. Eu sempre evoluí lutando, e agora chamei o Léo Vieira para ficar no meu córner. Eu treinei ele e pedi para ele vir ser o meu "coach", para corrigir e adaptar meu jiu-jítsu para o MMA. Ele é uma biblioteca de posições e no jeito de pensar. Mesmo não lutando em Mundiais e coisas assim, eu estou cada vez mais confiante no meu jiu-jítsu. Eu estava aplicando armlock voador, triângulo voador, chave de pé... esse é o meu estilo, e agora estou confiante para voltar a fazer isso de novo.

Brasileira ou americana?

  • É engraçado isso. Meu empresário, quando precisou fazer as roupas da luta, me perguntou: "E aí, vai representar qual país?" E eu respondia que não sabia, que não conseguia escolher. E ele me disse para ser "Atleta Internacional". Vou ser atleta do mundo (risos). Eu nasci nos EUA, meu pai é brasileiro. Eu amo o Brasil, tenho uma conexão grande com o país. Tenho muito mais fãs no Brasil que nos EUA. O país em que eu nasci tem uma estrutura de muito boa qualidade, e não tem como deixar de ser americana, mas não tem como eu deixar de representar o Brasil, que tem muitos atletas grandes. Sou muito grata de ter um pouco das duas maiores nacionalidades da luta: EUA e Brasil. É impossível escolher um ou outro.

Encarada tensa? Só por três segundos...

  • Eu tento fazer cara de brava, mas demora uns três segundos e já começo a sorrir de boca fechada. Acho que eu acabo atrapalhando a minha adversária. Uma quer a energia da outra. As meninas são muito mais agressivas, dizem "vou quebrar a sua cara". Como alguém fala isso? Eu vi que elas querem o bate-boca, e isso é a energia de luta. Eu sempre fui muito profissional e amigável com as minhas adversárias no jiu-jítsu. Eu queria finalizar, mas depois da luta voltava tudo ao normal. Elas querem me bater, mas sentem que eu não estou dando a elas a energia de luta. Lá em cima é o meu trabalho, mas eu consigo desligar disso muito rápido. Na encarada eu não consigo tanto, mas na hora da luta? Ou ela vai me machucar, ou eu vou ter que machucar ela. Eu não quero machucar meu nariz, não quero olho roxo... Meu pai já me fala pra eu não aparecer com corte. Eu vou bater nela pra me proteger. Depois da luta quero sair da dieta, comer brigadeiro (risos).

Chance de fazer a diferença

  • Na vida de atleta você tem que ser um pouco egoísta. A gente abre mão de tanta coisa e temos que pensar no que nos faz felizes. Eu não gosto de tomar soco na cara. Eu vi no MMA um palco grande aonde eu podia representar as mulheres, os EUA, o Brasil, o meu esporte (jiu-jítsu)... Eu vi a chance de poder fazer a diferença dentro do mundo do jiu-jítsu. Eu fiz quando consegui fazer uma grande luta com a Gabi Garcia, que inspirou muitas pessoas, mas eu queria ir além. Quando vejo a Cris, penso em quantas coisas das quais ela abriu mão. Dá pra ver como ela ama estar ali lutando, estar invicta há 12 anos. Eu não aguento essa dieta. Ver como ela sofre com a dieta e o amor que ela tem por esse esporte é pra mim uma inspiração impressionante. Eu realmente não consigo fazer isso. Se eu já sinto que abri mão de muita coisa, imagine ela; Eu amo o esporte que eu faço, mas tenho outros objetivos na minha vida também. Eu estou aqui para fazer a diferença. Quero ser a melhor lutadora do peso-palha, e quem sabe não subo para o peso-mosca e ganhou dois cinturões. Mas eu quero inspirar as mulheres e todo mundo.

O Combate transmite o UFC 222 ao vivo e com exclusividade no próximo sábado a partir de 20h15 (horário de Brasília) - o Combate.com acompanha o evento em Tempo Real, com vídeo ao vivo das duas primeiras lutas do card preliminar. Na sexta-feira, canal e site exibem ao vivo a pesagem cerimonial do UFC 222, a partir de 20h50. Confira o card completo:

UFC 222

3 de março de 2018, em Las Vegas (EUA) CARD PRINCIPAL (0h, horário de Brasília): Peso-pena: Cris Cyborg x Yana Kunitskaya Peso-pena: Frankie Edgar x Brian Ortega Peso-galo: Sean O'Malley x Andre Soukhamthath Peso-pesado: Stefan Struve x Andrei Arlovski Peso-galo: Cat Zingano x Ketlen Vieira

CARD PRELIMINAR (20h30, horário de Brasília):

Peso-palha: Ashley Yoder x Mackenzie Dern Peso-leve: Beneil Dariush x Alexander Hernandez Peso-galo: John Dodson x Pedro Munhoz Peso-médio: CB Dollaway x Hector Lombard Peso-meio-médio: Mike Pyle x Zak Ottow Peso-galo: Bryan Caraway x Cody Stamann Peso-meio-pesado: Jordan Johnson x Adam Milstead

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