Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024
Esportes
26/02/2018 09:58:00
Cyborg afia chão para o UFC 222, mas não descarta superluta com Amanda

Combate/LD

Imprimir

No próximo sábado, Cris Cyborg volta ao octógono do UFC para fazer a segunda defesa do cinturão peso-pena feminino da organização em cerca de dois meses. A brasileira, que lutou em dezembro contra Holly Holm, foi chamada às pressas para "salvar" o UFC 222 depois que a luta principal do evento, que seria entre Max Holloway e Frankie Edgar pelo cinturão peso-pena masculino, precisou ser cancelada por conta de uma lesão do campeão.

De férias na Europa na época em que a lesão de Max foi revelada, Cyborg chegou a recusar o convite pra lutar em Las Vegas, mas pensou melhor e mudou de ideia. Ela enfrenta a russa Yana Kunitskaya, campeã peso-galo do Invicta FC, na luta principal deste sábado.

Em entrevista ao Combate.com, a brasileira analisou o jogo da adversária, que tem 10 vitórias, três derrotas e uma luta sem resultado no cartel, além de fazer um balanço da carreira, na qual está invicta há 13 anos. A única derrota de Cris foi na estreia no esporte, em 2005, desde então são 19 vitórias, sendo 16 por nocaute, e uma luta sem resultado.

No bate-papo Cyborg ainda revelou que a superluta contra Amanda Nunes, campeã do peso-galo, não está descartada. A "Leoa" também já tem compromisso marcado - enfrenta Raquel Pennington na luta principal do UFC Rio, no dia 12 de março. Mas se as duas saírem vitoriosas de seus respectivos combates, poderão se enfrentar em breve:

  • Tinha falado que aceitei em julho, porque tem várias coisas que estou fazendo agora. Tive que adiar várias coisas pra essa luta. Mas eu já tinha aceitado. Quem sabe agora, se ela ganhar a próxima luta e eu também, essa luta possa acontecer... Vamos ver o que vai acontecer - declarou.

Confira a entrevista na íntegra:

Como foi a negociação para essa luta?

Após a luta da Holly, eu fechei vários seminários. Visitei vários projetos sociais e estava passeando… Normalmente eu estou sempre correndo para manter meu peso baixo. Estou sempre treinando, e eu estava lá e meu empresário me ligou e disse que uma luta tinha caído porque um atleta se machucou e eles precisavam de uma luta pelo cinturão. “Eu estou te ligando porque eles vieram me perguntar”. Eu falei: “Mas em três semanas? Estou aqui em Portugal, não posso mudar nada, tenho que cumprir meus compromissos”. Falei que não ia lutar. Desliguei o telefone e falei: “Vou pensar. Vou sentir no meu coração se é pra lutar”. Na verdade, sou estilo Chute Boxe, tem que estar preparada a qualquer hora. Aí passaram uns três dias e ei falei: “Vou lutar”. Olhei pro Ray (Elbe, seu noivo) e falei “Vou lutar” e aí liguei pro meu empresário e falei que ia lutar. Ele viu e disse que estava de pé ainda (a proposta). Eu já estava treinando meu cardio normal e comecei a treinar lá mesmo. Por isso que é importante você estar treinando o tempo todo. Para você melhorar seu jogo, não é o antes da luta. O antes da luta é perder o peso mesmo e fazer um plano pra luta, mas tem que estar treinando sempre. Então, estou procurando sempre melhorar meu chão, minha parte em pé…Procuro ir pra Tailândia ficar treinando. Agora é mais a perda de peso.

O que você sabe sobre a Kunitskaya?

Na verdade, eu nunca cheguei a assistir uma luta da Yana, mas ela lutou duas vezes com a Tonya Evinger (penúltima adversária da Cris). Uma ela perdeu, uma ela ganhou. Acho que ela tem o jogo mais de grappling, mais de sambô. Ela tem um pouco de jogo em pé, mas acho que ela vai querer levar essa luta pro chão. Ela também foi pega de surpresa. Acredito que já estava treinando, mas ela também foi pega de surpresa. Na verdade, ela já tinha mandado uma mensagem pra mim no Twitter: “Cris, se prepara porque vou mudar pra sua categoria”. Na última luta dia, ela estava acima do peso. Não acima…mas logo depois da luta eles checam o peso veem se você é mesmo dessa categoria, se está dentro dos 10% de peso que deveria repor no dia da luta e ela estava acima. Então eles aconselharam que ela mudasse de categoria, até mesmo pela saúde do atleta. E, com certeza, as atletas assistem as minhas luta e sabem o que eu faço, então eu tenho que melhorar sempre, tentar inovar, pois com certeza as pessoas estão vendo minhas lutas pra poder ganhar de mim. Tenho que estar preparada.

Todo mundo te conhece pelo poder de nocaute, você nunca conseguiu mostrar muito seu jogo de chão nas lutas. Acha que vai conseguir mostrar nessa?

Na verdade eu vou tentar jogar mais minha mão pra ver como ela vai sentir minha mão. Acho que vai fazer bastante diferença. Se tiver oportunidade de levar pro chão, vou levar. Vamos ver se essa luta vai ser uma oportunidade de mostrar um pouco de chão.

Muito se falou sobre a possibilidade da luta com a Amanda Nunes, mas agora vocês duas têm compromisso marcado. Essa é uma luta que ainda pode acontecer no futuro?

No começo, perguntavam se eu queria lutar com a Amanda e eu falava que essa luta não tinha nada a ver. Ela é brasileira, eu sou brasileira, as duas representam a mesma bandeira. Pra mim…eu quero lutar com quem não for (brasileira). Quando não tiver mais ninguém, aí quem sabe a gente luta. Isso que eu estava respondendo. Mas o tempo passou, e a Amanda começou a falar: “Quero lutar com a Cyborg”. Então, na verdade, eu não escolho adversária. Não é uma luta que eu queria por serem duas brasileiras, mas se ela está me desafiando é porque ela quer essa luta. Como eu não falo não, eu estou aqui para trabalhar. Pode ser que essa luta aconteça. Eu já tinha aceitado essa luta. Tinha falado que aceitei em julho, porque tem várias coisas que estou fazendo agora. Tive que adiar várias coisas pra essa luta. Mas eu já tinha aceitado. Quem sabe agora, se ela ganhar a próxima luta e eu também essa luta possa acontecer... Vamos ver o que vai acontecer.

Pra gente a Amanda falou que chegou a cogitar descer para o peso-mosca porque queria tentar dois cinturões, mas quando viu a dieta desistiu. Foi por isso que ela optou por desafiar você no peso-pena. Ela também disse que não tem nada contra você, que te respeita muito e que por ela, lutaria com você e depois vocês sairiam pra tomar uma cerveja…

É, então (risos)… Na verdade é esporte, né? Pra ela vai ser bom, ela vai ficar com o cinturão dela e vai tentar outro cinturão. Vai tentar talvez ter os dois cinturões. Pra ela não é ruim. É até bom pra mim porque eu vou ter adversária pra lutar, porque agora não tem muito. Está pintando…Acredito que a minha categoria vai ser uma das maiores do UFC. Acho que as meninas se matavam pra ter um peso e agora vão começar a subir de categoria, igual aconteceu no peso-galo. A Holly Holm fez isso (subiu para o pena), agora a Yana. Acho que no futuro teremos bastante meninas na minha divisão.

Você chegou a dizer que não queria a luta com a Amanda porque preferia que o UFC investisse na sua categoria… Já faz quase dois anos que você estreou e a divisão ainda não tem ranking...

Sim, eu gostaria que o UFC investisse na minha categoria. Acho que é importante, até pras meninas não chegarem no UFC e já lutar pelo cinturão. Ah, primeira luta já vai lutar com a Cyborg…Que nem essa menina que vou lutar agora. Acho que você precisa trabalhar a categoria, os fãs precisam conhecer a menina, fazer várias lutas e aí ter a oportunidade de disputar o título. Isso ajuda a vender. As pessoas vão querer saber quem é aquela menina que ganhou da lutadora tal e agora vai lutar pelo cinturão. Tem uma história. E, também, pra categoria crescer, pra todo mundo ver que estão investindo na divisão. Na verdade, acho que vem melhorando. Acho que já foi uma luta ganha já ter a minha categoria. Agora as meninas da divisão vão começar a aparecer. No Bellator tem muita menina da minha categoria, elas vão querer vir pro UFC, que é o maior evento de MMA. E, com certeza, eu estou aqui para que o esporte cresça. Eu não quero parar de lutar e aí a minha categoria acaba. Eu quero que continue, que eu lute para as meninas que vão vir ainda.

Você foi uma das precursoras do MMA feminino, começou a treinar numa época em que não havia muitas mulheres praticando o esporte, ainda mais no Brasil. O UFC hoje tem quatro categorias femininas. Como você vê essa evolução das mulheres no MMA?

Quando eu comecei, não tinham mulheres que treinavam. A maioria achava que você estava na academia pra arrumar namorado. É bem diferente. Ou você é sempre deixado de lado e ninguém quer ser seu parceiro porque você está começando. E eu fui buscando meu espaço devagarinho. Fui fazendo sparring com com caras, e às vezes eles me aceleravam e eu tinha que me virar e mostrar que eu queria ser lutadora. Foi bem difícil, porque no começo não tinha muitas lutadoras. Tinha um pouco de preconceito. As pessoas falavam que era coisa de homem, coisa de maloqueiro lutar…Agora é totalmente profissional. Dois atletas lutam entre si, mas antigamente não. Até então, vários eventos não tinham lutas femininas. Era um sonho que eu tinha que estava bem longe de chegar, mas eu continuava treinando, que um dia eu ia chegar lá e pra que quando a oportunidade chegasse eu estivesse pronta. Eu sempre pensava dessa forma. E foi assim que aconteceu. Eu fiz minha primeira luta nos EUA em 2008, e foi a oportunidade e eu estava pronta. Agora está bem mais fácil pras meninas. Tem categoria feminina no UFC, as portas estão muito mais abertas. Fico feliz. Fui a pioneira ali, como outras que foram pioneiras e agora estão chegando lá.

Você já conquistou o cinturão do Strikeforce, do Invicta, do UFC. Como você vê seu legado pro esporte?

Eu quero continuar defendendo meu cinturão, continuar dando o meu melhor. Quero continuar treinando, aprimorando cada vez mais, e, quem sabe um dia, fazer uma luta de boxe antes de finalizar minha carreira. Quero continuar fazendo meu melhor, fazendo com que o esporte feminino cresça, que os homens veja, que as pessoas vejam que as mulheres também têm técnica e também sabem lutar. Que elas também têm audiência e que todo mundo quer ver as nossas lutas.

Achou que faria a segunda defesa de cinturão tão rápido assim?

Que rápido, né? Na verdade, no Invicta, eu já tinha disputado e defendido várias vezes. Acho que vai ser bacana e rápido. Vamos ver.

Quantas lutas pretende fazer em 2018?

Então, está uma loucura. Meu empresário falou que talvez eu fizesse quatro. Eu falei: “Nossa, mas vão me escravizar?” (risos). Mas antes não tinha luta, agora tem. Só tenho a agradecer. Estou feliz, me sinto abençoada porque tenho lutas. Já fiquei mais de um ano sem lutar, dois anos, porque não tinha meninas pra lutar. Fico feliz porque o esporte está crescendo e só vai aumentar o número de lutas.

O Combate transmite o UFC 222 ao vivo, direto de Las Vegas, no sábado, 3 de março, a partir das 20h15 (horário de Brasília), com transmissão das duas primeiras lutas também no Sportv2 e no Combate.com. Antes disso, na sexta-feira, o Combate e o Combate.com mostram ao vivo a pesagem cerimonial a partir de 20h50 (de Brasília). Confira o card completo:

UFC 222

3 de março de 2018, em Las Vegas (EUA) CARD PRINCIPAL (0h, horário de Brasília): Peso-pena: Cris Cyborg x Yana Kunitskaya Peso-pena: Frankie Edgar x Brian Ortega Peso-galo: Sean O'Malley x Andre Soukhamthath Peso-pesado: Stefan Struve x Andrei Arlovski Peso-galo: Cat Zingano x Ketlen Vieira

CARD PRELIMINAR (20h30, horário de Brasília):

Peso-palha: Ashley Yoder x Mackenzie Dern Peso-galo: John Dodson x Pedro Munhoz Peso-médio: CB Dollaway x Hector Lombard Peso-meio-médio: Mike Pyle x Zak Ottow Peso-galo: Bryan Caraway x Cody Stamann Peso-meio-pesado: Jordan Johnson x Adam Milstead Peso-leve: Beneil Dariush x Alexander Hernandez

COMENTÁRIO(S)
Últimas notícias