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25/01/2019 15:55:00
Do sangue à glória: dois anos após ser esfaqueada, Kvitova duela por nº1 na final do Aberto da Austrália

Globo Esporte/LD

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20 de dezembro de 2016, aproximadamente 8h30 em Prostejov, na República Tcheca. Naquele fatídico dia, a tenista tcheca Petra Kvitova teve sua casa invadida e foi esfaqueada na mão esquerda por um assaltante. O que a canhota bicampeã de Wimbledon não imaginava é que voltaria a brilhar nas quadras dois anos depois. Neste sábado, Kvitova (6ª colocada) duela contra a japonesa Naomi Osaka (4ª) às 6h30 na final do Aberto da Austrália pelo título inédito em Melbourne e ainda para se tornar a melhor tenista do mundo no ranking da WTA.

Os detalhes do episódio só vieram à tona neste mês, durante o julgamento de Roman Zondra, 33 anos, acusado pelo crime. Ele foi preso em maio de 2018.

No dia da invasão, a tenista Petra Kvitova aproveitava o curto período de descanso do circuito em casa quando o interfone tocou na manhã de uma terça-feira. Era um homem, por volta de 30 anos, que anunciou ser técnico para checar a água quente. A então número 11 do mundo não conseguiu se comunicar com o proprietário do apartamento e permitiu a entrada do homem. Foi o início de um pesadelo.

O indivíduo puxou uma faca de 20cm quando eles estavam no banheiro. Colocou a faca no pescoço da atleta ao anunciar o assalto. Kvitova tentou se defender do assaltante e, no embate, sofreu graves ferimentos nos tendões e nervos da mão esquerda. A mesma mão que havia levantado dois troféus de Wimbledon estava praticamente destruída, repleta de sangue e com cortes profundos nos dedos.

  • Estou abalada, mas felizmente estou viva. A lesão é grave e precisarei consultar especialistas, mas se vocês sabem algo de mim é que eu sou forte e vou lutar por isso - disse Kvitova, horas depois, em um comunicado nas redes sociais.

Segundo o site tcheco "Seznam Zpravy", o promotor responsável pelo caso ainda revelou durante o julgamento que Kvitova "não se lembra por que o acusado colocou uma faca no pescoço dela e também não se recorda o que disse a ele porque estava em choque". De acordo com o promotor, a atleta tentou se levantar para ir ao hospital depois de cair ao tomar a facada, mas o assaltante ficou em seu caminho sem saber o que fazer.

O momento tenso teria durado cerca de cinco minutos, período em que a ex-número 2 do mundo implorou para que pudesse ir embora. Ela disse então que daria as 10 mil coroas tchecas (aproximadamente R$1673,36) que tinha na bolsa. Enfim, assaltante pegou o dinheiro e foi embora, mas só foi encontrado pela polícia um ano e meio depois.

  • Ela estava no lugar errado, na hora errada. O invasor não tinha ideia quem estava em sua frente no primeiro momento - disse a detetive Jan Lisicky, responsável pelo caso.

A lesão foi grave e a tenista de 28 anos teve seus cinco dedos e dois nervos da mão esquerda danificados. A reconstrução foi tão impactante quanto a história. A atleta passou por uma cirurgia de quatro horas. Depois de todo o pesadelo, as chances de voltar ao tênis eram "poucas", de acordo com o próprio médico. Aconteceu "um milagre", como resumiu a própria tenista.

  • Não me sentia bem. Senti que meu tênis havia sido tirado de mim. Do nada, não podia fazer o que amava. Vejo a vida de um ângulo diferente, então estou feliz que estou aqui. Não dormi direito por dias, mas não estava ficando sozinha. Estou sempre com minha família ou meus treinadores, amigos, e preciso agradecê-los porque eles foram e são incríveis. No início, estava me sentindo estranha quando ia para a cidade ou algo do tipo. Ficava encarando pessoas e olhando se não tinha nenhum estranho por lá. Mas, com o tempo, estou melhor - disse a top 10 no retorno às quadras, em maio de 2017.

Apesar das chances mínimas, Petra Kvitova retomou a carreira cinco meses depois do episódio no torneio de Roland Garros. Voltou com vitória e emocionou o mundo. A jogadora que era candidata aos títulos já não conseguia cerrar o punho e sequer sentia dois dedos. Mas estava de volta e aquilo já parecia uma vitória. Querida por demais no circuito, voltou a alegrar os fãs e as colegas com seu largo sorriso. Depois de ser eliminada na segunda rodada em Paris, conquistou o título logo no torneio seguinte em Birmingham, na Inglaterra, na segunda competição oficial desde a volta.

A evolução foi lenta, mas constante. A potência nos golpes retornou a seu jogo pouco a pouco. A tenista que havia triunfado na grama sagrada em 2011 e 2014 com seus pesados forehand e saque conseguiu regressar ao top 10 ao demonstrar a velha forma. Faltava um obstáculo: ir bem em um Grand Slam. Nos principais torneios, sofreu eliminações precoces e inesperadas. A volta por cima veio no Aberto da Austrália. Visivelmente emocionada, a atual número 6 do mundo foi às lágrimas ao refletir sobre os momentos difíceis que viveu nos últimos dois anos.

  • Não esperava, não imaginava estar de volta neste ótimo estádio e estar jogando com as melhores - contou.

O confronto entre Petra Kvitova e Naomi Osaka pela final do Aberto da Austrália é inédito. Aos 21 anos, a japonesa campeã do US Open não sentiu a pressão depois do primeiro título de Grand Slam e segue embalada. A campeã do torneio será a número 1 do mundo na próxima segunda-feira e a vice-campeã ficará como 2ª colocada no ranking da WTA.

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