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Esportes
07/11/2018 16:08:00
Endividado, e com R$ 50 milhões de juros anuais, Atlético-MG avalia vender restante de shopping

Globo Esporte/LD

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O Atlético-MG vive uma situação financeira delicadíssima. Está com os salários atrasados e, nesta temporada, teve pouco dinheiro para investir na contratação de atletas. O maior problema, porém, está na situação do caixa a longo prazo. A dívida é muito grande, os juros anuais que o clube paga "sugam" boa parte da receita. O Galo, porém, tem alternativas para sair da crise. Uma delas - que caminha para ser a única - é abrir mão de algum patrimônio. Tudo indica que seja o Shopping Diamond Mall, estabelecimento comercial no bairro Lourdes, região centro-sul de Belo Horizonte.

O shopping era 100% do Atlético-MG, mas já teve pouco mais da metade (50,1%) vendida à Multiplan no ano passado. O valor (R$ 250 milhões) arrecadado com a negociação será usado integralmente na construção do estádio próprio. O projeto segue em processo burocrático para sair do papel e deve ficar pronto no início da próxima década. Agora, a ideia é vender a outra metade do shopping para sanar as dívidas e deixar as contas em uma situação tranquila para o futuro.

A possibilidade da venda da outra metade do Diamond Mall, primeiramente publicada pelo jornal O Tempo, foi confirmada pelo GloboEsporte.com. A atual diretoria do Atlético-MG já fez um estudo sobre a possibilidade, e vai apresentá-la ao Conselho Deliberativo. Isso deve acontecer em 2019.

Em entrevista ao GloboEsporte.com, Carlos Fabel, diretor financeiro do Atlético-MG, fala sobre a possibilidade da venda do Diamond Mall, explica por que ela é necessária e deixa claro: o Galo precisa se "movimentar" para se manter saudável. Confira, abaixo, a entrevista completa. A frase em destaque sintetiza bem o que foi elucidado por ele.

"O ideal seria ter o Diamond e ter o estádio, mas não temos condição de fazer isso hoje por causa de dívidas" - Carlos Fabel

A venda do Diamond é o caminho para o Atlético-MG sair da crise?

  • Os números eu já tinha todos, mas o presidente tomou cuidado de contratar duas consultorias externas para validar aquilo que a gente prega ao longo dos anos. O Conselho nosso tem a faca e o queijo na mão para tornar o Atlético um time muito sólido, robusto, com estádio próprio e sem dívida, que não é o exemplo que temos Brasil afora. Os clubes estão todos endividados com construção de estádio. Além de ter um estádio sem dívida, teríamos o Atlético saneado para ser um time fortalecido. Temos a faca e o queijo na mão. Obviamente, quem define isso é o conselho, mas temos a obrigação de chegar para o conselho e falar: “O caminho que vejo é esse”. Eu sou um técnico financeiro. A decisão é do Conselho, mas não posso me omitir de mostrar o caminho que entendo ser correto. Não significa que o Conselho tem que seguir o caminho que eu indico.

Por que o Diamond e não outro patrimônio?

  • É um patrimônio que o Atlético tem muito realizado, tem um valor agregado muito alto. Os clubes recreativos têm sócios, conselheiros, estão muito bem cuidados, são relíquias nossas. Não seria uma coisa para mexer. O Diamond é uma coisa palpável. O próprio patrimônio onde é a sede (é uma opção), mas acho que ainda não é momento para isso. A sede, para mexer, tem que ser depois de ter o estádio pronto, para poder liberar (o espaço no bairro Lourdes) até pra construir alguma coisa. A coisa mais palpável dentro do desenho, do momento que a gente está estudando, seria mesmo o Diamond. O Conselho tem que autorizar, não sei se vai gostar da ideia, mas temos que apresentar.

E qual é a expectativa de melhora caso a venda aconteça?

  • Você já pensou daqui a três anos o Atlético com um estádio que vale 800 milhões, todo moderno, rodando, com número de torcedor crescendo... Fizemos um cálculo: a gente sairia de um patamar de 40, 50 milhões de receita por ano entre sócio-torcedor e bilheteria pra 150 milhões de receita e estádio. Envolve bilheteria, sócio-torcedor, eventos nossos (no estádio), que não é o caso do Palmeiras, porque os eventos não são deles. Sairíamos dessa situação. Se a gente não movimentar o Atlético, estamos gastando 50 milhões por ano com juros. E o juros de mercado caiu. Nós temos que tomar a providência. Hoje, estamos gastando 50 (milhões). Se o mercado mudar e voltar a ser o que já foi, volta a 80, 90 milhões por ano de juros. Isso leva, em alguns anos, "um Diamond". Alguns clubes do Brasil tinham, para cada real de dívida, três reais de patrimônio. Hoje eles têm três reais de dívida e um real de patrimônio. Temos que movimentar. Lá na frente vamos continuar tendo um grande patrimônio do nosso ramo, que é o estádio.

Como ficam os objetivos a curto prazo?

  • (A possibilidade de venda do Diamond) é para a gente perpetuar o Atlético. O Atlético tem tudo para perpetuar. Se nós pensarmos "temos que ganhar a Libertadores ano que vem", vamos ficar pedalando igual estamos pedalando. Ganhamos título com o Kalil, Ronaldinho. Tem cinco anos que a gente não consegue mais acertar. E navegando com muito aperto internamente. Muito mesmo.

Quando a ideia será apresentada ao Conselho?

  • Ainda vai demorar um pouco. Estamos fazendo o nosso dever de casa para apresentar uma coisa bem sólida ao conselheiro. Se vai ser o Diamond, se não vai ser o Diamond, temos que ter muita paciência. É uma coisa muito sensível. Para aprovar uma venda de 50% para construir o estádio já foi uma coisa delicada. Conseguimos um apoio do conselheiro para o estádio porque foi muito bem apresentado. E era uma troca.

Quais são os riscos das atuais dívidas?

  • Com esse monte de dívida, apesar de estarmos com dívidas equacionadas, temos outras dívidas correntes que incomodam. Amanhã podemos ter o dissabor de estar construindo o estádio e ter a tentativa de algum bloqueio que nos incomode. Não podemos correr esse risco.

Quais números você pode revelar para ilustrar a atual situação?

  • Sabe quanto acumulamos de prejuízo em 25 anos? 475 milhões. Você imagina a proporção. Daqui 10 anos, teremos, se o juros não mudar de patamar, 550 milhões de prejuízo acumulado. Aí você vai vender patrimônio para pagar juros. Hoje não é isso, é sanear. Lá na frente vai ser para pagar juros, porque a dívida vai crescer, vai ser três por um ao contrário (relação entre dívida e patrimônio). Aí estamos arrebentados. O Conselho sabe do endividamento do Atlético. Não pode um clube que tem a faca e o queijo na mão não se movimentar. Temos que movimentar.
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