Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024
Esportes
30/06/2017 13:00:00
Presidente do Santos diz que fundo admite ter enviado proposta

Globo Esporte/LD

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O presidente do Santos, Modesto Roma Júnior, afirma que ouviu do principal executivo do fundo Doyen Sports Investment, Arif Arif, numa reunião em Barcelona, em abril, que sua empresa entregou ao Alvinegro uma proposta do Crystal Palace pelo meia Lucas Lima que sabidamente não prosperaria. O dirigente santista contou que o empresário usou o termo "fake" (falso, em inglês) para se referir à oferta inglesa.

– Isso foi dito. Ele (Arif) me disse que era uma proposta “fake”, que não condizia com a realidade – disse o presidente alvinegro.

Para o dirigente do Santos, o grupo Doyen, que detém 80% dos direitos econômicos do meia, teria influenciado a equipe inglesa a enviar ao Santos uma oferta que já havia sido rejeitada pelo atleta dias antes. Daí o termo "fake". Os santistas desconfiam que a Doyen usará a proposta recusada como prova nas ações judiciais em curso contra o Santos no Brasil.

Por contrato, o Peixe tem de apresentar à empresa as propostas que receber por Lucas. A atual gestão, porém, considera inválidos os contratos assinados com o fundo na administração passada. Essa é a alegação para não enviar qualquer comunicado sobre a recusa da oferta.

No último dia 4 de abril, um dia antes de Modesto viajar a Barcelona, onde se reuniu com Arif, a Doyen enviou notificação ao Santos em que aponta quebra de contrato por parte do clube por não ter informado a empresa se havia aceitado ou recusado o que foi oferecido pelo Crystal Palace.

Na Espanha, Modesto sugeriu acordo para encerrar as disputas entre as duas partes. O Santos ofereceu pagar 20 milhões de euros (cerca de R$ 74 milhões) em cinco anos – o valor, nas contas do clube, é o que foi investido pela Doyen, com juros menores do que os de 10% ao ano previstos nos contratos.

Foi nesta primeira rodada de negociações que Arif, segundo Modesto, teria dito, para surpresa inclusive dos que o acompanhavam, que a proposta do Crystal Palace era “fake”.

Procurados desde a última segunda-feira, advogados da Doyen no Brasil informaram por meio de sua assessoria de impresa que "não tiveram retorno" da empresa para comentar o episódio. O empresário Renato Duprat, representante do fundo no país, não quis fazer muitos comentários. Apenas colocou em dúvida o relato do dirigente santista.

– Você acha que ele (Arif) faria isso? Está tudo nas mãos do jurídico – disse.

A assessoria de imprensa do Crystal Palace informou que a direção do clube não vai se pronunciar.

Proposta em cima da hora

A proposta do Crystal Palace foi entregue pela própria Doyen ao Santos na antevéspera do fechamento da janela do meio de ano de 2016. Ela chegou por meio de Nélio Lucas, braço-direito de Arif, e passou pelas mãos de Renato Duprat, representante do grupo no Brasil. Duprat, por sua vez, encaminhou o e-mail ao Santos – a proposta chegou ao clube às 17h13 de 29 de agosto. Ela é endereçada a José Ricardo Tremura, diretor jurídico do clube.

Lucas Lima já tinha sido procurado pelos ingleses e, quatro dias antes, havia rejeitado a hipótese de se mudar para Londres.

Ainda assim, o Crystal Palace enviou ao Santos a oferta, assinada pelo chefe-executivo Phil Alexander: 15 milhões de euros, sendo 4 milhões de euros na transferência, 6 milhões de euros em 30 de agosto de 2017 e 5 milhões de euros em 30 de agosto de 2018. O Santos ainda ficaria com 20% do valor acima de 25 milhões de euros no caso de uma venda futura do meia por algo além deste montante.

Os termos não agradaram aos santistas, principalmente a forma de pagamento. Além disso, a diretoria alvinegra avaliou que não haveria tempo hábil de fechar uma operação deste tamanho em cerca de 48 horas, até porque o Crystal Palace ainda precisaria de aprovação de seu próprio Conselho para o negócio caminhar.

O clube europeu nunca mais procurou o Santos para negociar Lucas Lima. No último dia 19 de junho, com as conversas por um acordo congeladas, a Doyen voltou a notificar o clube sobre a suposta quebra de contrato. Desta vez, cobrando o pagamento de 12 milhões de euros (R$ 45 milhões), valor que o fundo teria deixado de receber com a recusa dos alvinegros ao Crystal Palace.

Na Vila Belmiro, o episódio faz lembrar outro caso semelhante: em 30 agosto de 2015, o Olympique de Marselha enviou proposta de 15 milhões de euros por Leandro Damião um dia antes do fechamento da janela. O atleta, que mantém vínculo com o Santos até o final de 2018, é protagonista da maior briga entre o clube e a Doyen, que pede 18 milhões de euros na Justiça pelo jogador.

Se não há registro de negócios anteriores do fundo com o Crystal Palace, o mesmo não acontece com a equipe francesa, que manteve relacionamento muito próximo com a empresa.

A tentativa de acordo

Santos e Doyen travam uma batalha milionária no Brasil, com ações na Justiça e uma arbitragem na Câmara de Comércio Brasil-Canadá por contratos assinados na gestão de Odílio Rodrigues, antecessor de Modesto Roma Júnior.

A empresa adquiriu fatias de Leandro Damião, Lucas Lima, Daniel Guedes, Geuvânio e Gabriel. Os dois últimos já negociados e cujos valores das vendas estão bloqueados.

Para encerrar a briga, Modesto viajou a Barcelona no começo abril com a proposta de 20 milhões de euros parcelados em cinco anos. O santista retornou ao Brasil com a impressão de que o acerto estava próximo, sendo o prazo de pagamento o principal entrave.

O fundo enviou uma contraproposta, e Modesto voltou à Espanha duas semanas depois, com a expectativa de assinar o acordo. Lá, porém, os termos da Doyen mudaram: a empresa queria também outros 10 milhões de euros (R$ 37 milhões). As conversas foram encerradas.

– O Santos pretende buscar um acordo com a Doyen, mas apenas com o escritório da empresa em Londres – afirmou Modesto, em referência à controladora da Doyen Sports, companhia que tem como sócio o pai de Arif Arif, Tevfik Arif.

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