A atuação de Georges St-Pierre na luta principal do UFC 217, na qual ele conquistou o cinturão dos pesos-médios finalizando Michael Bisping não aconteceu por acaso. Segundo seu treinador de jiu-jítsu, John Danaher, ela foi resultado de uma ideia de que o canadense precisava rebater as três maiores críticas dos fãs ao seu estilo e à sua carreira.

• Voltar após quatro anos parado é algo incrível, mas se você decide voltar, por que não fazer algo diferente, algo que vá mudar o seu legado? Nós conversamos com Georges sobre isso, e eu disse que havia três coisas que as pessoas criticavam muito na sua carreira. A primeira era que, por controlar tanto e ser tão tático lutando, as suas lutas acabavam sendo chatas. Essa era uma crítica recorrente. A segunda era que ele jamais havia lutado na categoria de cima, sempre lutou no peso-meio-médio. E a terceira era que ele não finalizava as suas lutas. Essas eram as três maiores e mais constantes críticas ao legado dele - disse Danaher em entrevista ao programa "MMA Hour".

Segundo Danaher, os demais treinadores gostaram da ideia e elaboraram seus treinos com o objetivo de criar um novo Georges St-Pierre.

• Eu perguntei por que não nos concentrávamos em treinar com ênfase em finalizações e nocautes e em poder de nocaute nos golpes, que é o necessário para finalizar lutas. Se ele iria subir de categoria, então deveria se concentrar no velho e dinâmico movimento de entrar e sair do raio de ação do adversário e na movimentação lateral que marcaram seu início de carreira, para fazer uma luta com ritmo mais acelerado e mais interessante para os fãs. Submetemos a ideia aos outros treinadores - Freddie Roach e Firas Zahabi - e todos gostaram.

As finalizações e a mecânica dos golpes de boxe foram enfatizados em todos os treinos, e até um especialista em caratê foi levado para o camp de treinos para resgatar o GSP dos velhos tempos.

• Georges começou a treinar com toda a equipe enfatizando muito as finalizações. Normalmente eu treinava com ele o "boxe agarrado", que era uma mistura de trocação e boxe no chão. Era um trabalho voltado mais para o posicionamento. Ao invés disso, mudamos tudo para treinar finalizações, principalmente estrangulamentos pelas costas e chaves de pernas. Georges teve uma evolução impressionante. Ele também trabalhou com Freddie Roach a mecânica do soco, para bater mais forte e melhorar a mecânica de golpear andando para a frente, principalmente o gancho de esquerda, o jab e o direto com a mão direita vindo de trás. Também trouxemos um especialista em caratê para que o velho GSP do início da carreira reaparecesse. O resultado de tudo isso foi uma mudança significativa tanto na força dos seus golpes quanto na maior eficiência nas suas tentativas de finalização na academia.

Para Danaher, o objetivo foi plenamente atingido. Georges St-PIerre não só conseguiu rebater as principais críticas

• Tínhamos certeza de que o GSP que lutaria no peso-médio contra o campeão não seria o GSP que atuava sempre da mesma forma no peso-meio-médio. Seria um lutador novo, com mais mobilidade e mais agressividade, para agradar os fãs. Infelizmente o plano sofreu um baque por conta de um problema físico, que apareceu de uma hora para a outra. MAs Georges mostrou que era um atleta incrível, e arrumou um jeito de superar o problema e seguir com a programação exatamente como havia sido planejada. No fim das contas Georges conseguiu finalizar a luta na categoria de cima com um estrangulamento pelas costas após mostrar muita evolução na trocação, especialmente no boxe. Exatamente como havíamos treinado. Ele levantou a plateia do Madison Square Garden com uma atuação sólida e saiu de lá com o cinturão de campeão mundial. E, mais do que isso, todas as três críticas foram rebatidas em uma única luta. Foi um feito incrível, que se tornou ainda mais impressionante por ele ter passado por um problema físico tão sério.