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13/02/2019 14:48:00
'Algo que não acaba, tristeza que não passa’, diz mãe de Marielle Franco sobre investigações

G1/LD

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Onze meses após o assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, os pais da vereadora demonstram desânimo ao falar das investigações, mas mantêm esperança de que o caso vai ser solucionado.

"Mais um dia 14 chegando, parece que a gente está girando em torno de algo que não acaba. É uma tristeza que não passa", afirmou Marinete, mãe da vereadora.

Ela cobrou uma posição do novo governo para chegar a solução do crime e disse que não guarda mágoa de Witzel que "já se envolveu em uma polêmica tão feia" envolvendo Marielle, lembra Marinete. Ela se referiu ao episódio durante a campanha eleitoral em que uma placa que homenageava a vereadora foi quebrada no mesmo palanque em que o atual governador fazia campanha.

Marinete conta que ficou impressionada, mas não guarda rancor. "Não cabe mágoa. Mas é uma tristeza, pois parte de pessoas que foram eleitas. É muito triste", destacou a mãe de Marielle, ressaltando o que o ato gerou uma reação maior, com a distribuição de mil placas como a que foi quebrada.

Por meio de nota, a assessoria de comunicação do governador informou que ele nunca compactuou com atos de intolerância, nunca falou nada ofensivo sobre a vereadora Marielle Franco e que o Governo do Estado está empenhado na elucidação do caso.

O pai da vereadora, Antônio, contou que a demora na solução do caso aumenta o sofrimento da família. "As perguntas são as mesmas. Chega a faltar as palavras para se expressar. Falta um posicionamento claro para chegar aos mandantes", lamentou.

Antônio e Marinete acreditam que alguém influente está por trás do crime, o que dificulta a apuração. Eles contaram que imaginaram que o caso série solucionado de maneira mais rápida.

"Só quem perde um filho sabe a dor que é. Ela sempre foi importante para a família, uma filha muito boa", destacou Marinete.

'Perdido em um labirinto'

Na manhã desta quarta-feira (13), durante a divulgação de dados de um relatório da Anistia Internacional, a entidade questionou problemas na investigação da morte da vereadora e de Anderson Gomes.

No documento, a Anistia Internacional denuncia problemas nas investigações e a falta de respostas dos agentes públicos nas diversas esferas de governo sobre a autoria do crime e outras questões que foram levantadas ao longo da apuração dos assassinatos.

Em "O labirinto do caso Marielle Franco e as perguntas que as autoridades devem responder", a entidade questiona possíveis negligências e lamenta a falta de celeridade nos trabalhos.

"Onze meses depois, as investigações do caso Marielle Franco parecem que estão mergulhadas em um labirinto longe da solução", destacou Renata Neder, coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional.

Como as investigações sobre o caso estão sob sigilo, o documento foi construído a partir de informações divulgadas pelas autoridades e reveladas pela imprensa. A Anistia pergunta como o fim próximo das investigações foi anunciado tantas vezes pelas autoridades ao longo dos últimos meses e, mesmo assim, ela não ter sido concluída até o momento.

Uma primeira versão do documento foi lançada há oito meses, mas foi atualizado com novas informações divulgadas ao longo do período.

Com base em uma declaração dada pelo então ministro da Segurança Pública Raul Jungmann em novembro de 2018 de que o crime contaria com a participação de agentes do Estado e que estariam atrapalhando as investigações, a entidade afirmou que a sociedade precisa saber se as denúncias de interferência estão sendo investigadas.

O documento também destaca que Marielle foi morta com quatro tiros na cabeça e a munição usada seria de calibre 9mm de um lote pertencente à Polícia Federal que teria sido desviado dos Correios que, no entanto, não possui registro do incidente. O mesmo lote teria sido usado em uma chacina em São Paulo em 2015 que vitimou cerca de 20 pessoas em Osasco e Barueri.

"É inacreditável que, onze meses após a morte de Marielle, não se saiba quem desviou essa munição e qual a relação entre os crimes", ressaltou Renata.

A Anistia também questiona a falta de ação integrada nas esferas estadual e federal. Em março de 2018, a Delegacia de Homicídios da capital, responsável pelas investigações, e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ). Ela afirma que, mesmo com o oferecimento de ajuda federal, não existe um trabalho integrado.

A entidade também aponta problemas nos procedimentos investigativos no caso, como a falta de realização de um exame de raio-x nos corpos de Marielle e Anderson Gomes e o carro ter sido armazenado indevidamente do lado de fora da DH, na Barra da Tijuca.

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