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01/12/2018 10:41:00
Biblioteca Nacional procura donos de manuscritos, publicações e documentos roubados

O Globo/LD

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Alvo de um grande roubo em 2004 — quando 1.200 obras de seu acervo desapareceram —, a Biblioteca Nacional acaba de receber um lote de 861 itens apreendidos pela Polícia Federal. São manuscritos, publicações, documentos, cartas, selos, telegramas, fotos encontrados pela PF ao investigar quadrilhas que roubam patrimônio histórico.

O material nada tem a ver com o caso da Biblioteca, cuja maioria das peças furtadas segue sumida. Descobertas pela Delemaph, a delegacia especializada em investigar crimes contra meio ambiente e patrimônio histórico, as peças estavam acumulando poeira há cinco anos porque não se sabe a quem pertencem. Agora, por determinação do juiz Gabriel Borges Knapp, da 4ª Vara Criminal Federal, o lote foi entregue à BN, onde funcionários trabalham na tentativa de identificar os donos.

— Temos uma parceria profícua com a PF, e somos reconhecidos como uma instituição guardiã da memória brasileira — diz a presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Helena Severo.

Após uma quarentena para que os itens fossem higienizados, começa agora a catalogação. Mas só 20% do que foi apreendido têm carimbos que identificam a origem.

Os 861 itens foram fotografados e guardados ao lado de descrições como “190 cartas manuscritas em árabe”, “seis fotos cartão cabinet (que funcionavam como cartões de visita)”, “18 fotografias relativas à ferrovia (Botucatu, 1907)”, “documento de 1606 (data a lápis)” e “documento de 1584 (possivelmente um testamento)”. Entre bilhetes, certidões, telegramas e selos, há preciosidades como cartas do século XIX demarcando limites do Império do Brasil.

— Os manuscritos por si só são importantes porque são únicos. Há alguns do século XVI. Um bem importante é o “Caderno das Ordens do Dia do Barão de Caxias”, de 1842, que guarda documentos da Guerra do Paraguai considerados memórias do mundo — conta Maria José da Silva Fernandes, coordenadora-geral de Coleções e Serviços ao Leitor. — A Biblioteca já havia sido designada como fiel depositária de material, mas de algo como este é a primeira vez.

O próximo passo é procurar as instituições que aparecem nos carimbos para combinar a devolução.

— Já fizemos isso antes. Mas, para devolver qualquer material, temos que pedir autorização do juiz — explica ela, ponderando que muitas peças não poderão ser identificadas e devolvidas porque não têm marcas de propriedade. — Fica o alerta para as instituições sobre a importância de marcar seus documentos.

Após grandes roubos nos últimos 15 anos, as instituições brasileiras passaram a buscar novas formas de proteger seus acervos. Nesta semana, a própria Biblioteca abrigou a II Jornada da Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (Ifla), para discutir “o tráfico ilícito do patrimônio bibliográfico na América Latina e Caribe”.

— Dinheiro descoberto, deposita-se; droga, queima-se. Mas e as obras de arte que ficam na delegacia? — questiona o delegado Paulo Telles, da Delemaph. — Sem colaboração das instituições públicas para fazer a perícia, identificar e dar destinação a elas, muitas ficariam se estragando no nosso depósito.

O delegado diz que tem tentado obter autorizações judiciais para que um especialista acompanhe as diligências.

— Se vou à casa de um colecionador que participa de receptação sem alguém qualificado para identificar as obras, recupero três, quatro livros, quando poderia resgatar dez, 50.

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