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04/07/2019 18:09:00
Califórnia se torna primeiro estado dos EUA a banir discriminação por estilo de cabelo

G1/LD

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O governo da Califórnia sancionou, nesta quarta-feira (3), uma lei que proíbe a discriminação contra pessoas negras por usar penteados como tranças, torções e dreadlocks. É a primeira decisão deste tipo nos EUA, que passa a valer a partir de 1º de janeiro do ano que vem.

A legislação foi proposta pela senadora democrata Holly Mitchell, de Los Angeles, uma mulher negra que usa o cabelo em dreads. Segundo o texto, esses penteados são associados à raça e, por isso, devem ser protegidos contra a discriminação em locais de trabalho e escolas.

"Estamos mudando o curso da história, espero, em todo o país, ao reconhecer que o que tem sido definido como estilos e trajes profissionais no local de trabalho foi historicamente baseado em um modelo eurocêntrico — de cabelos lisos", declarou Mitchell.

A nova lei da Califórnia é significativa porque os tribunais federais vêm afirmando, historicamente, que o cabelo é uma característica que pode ser alterada — o que significa que não há base para queixas de discriminação baseadas em penteado.

Recentemente, a Suprema Corte dos EUA se recusou a ouvir o caso de uma mulher do Alabama que disse que não conseguiu um emprego porque se recusou a mudar o cabelo.

A questão veio a público em dezembro passado, quando um aluno negro de ensino médio em Nova Jersey, membro da equipe de luta livre da escola, foi informado por um árbitro que teria que cortar seus dreadlocks se quisesse competir.

Gavin Newsom, o governador democrata da Califórnia, disse que o vídeo do incidente é um exemplo claro da discriminação que os americanos negros enfrentam.

"A decisão dele — de perder ou não uma competição de atletismo ou perder sua identidade — veio a ser, creio eu, uma questão cruel para milhões de americanos", declarou Newsom, antes de sancionar a lei ao lado de Mitchell e outros apoiadores.

"Isso acontece nos locais de trabalho, nas escolas — não apenas em competições e ambientes esportivos — todos os dias, em toda a América, de maneiras sutis e abertas", disse o governador.

O texto aprovado acrescenta termos às leis antidiscriminação do estado para dizer que "raça" também inclui "características historicamente associadas à raça", incluindo a textura do cabelo e os penteados de proteção — e define esses últimos como tranças, torções e dreads.

Preconceito

"Você quer ir para o trabalho e se sentir livre", afirmou Elicia Drayton, que trabalha no salão Exquisite U, em Sacramento, capital da Califórnia. "E não sentir que tem que colocar uma peruca ou alisar o cabelo para agradar alguém".

Uma das clientes dela, Shereen Africa (na foto), disse que trabalhou em uma estação de TV no Mississippi em que uma mulher negra que trabalhava como âncora se demitiu depois de enfrentar resistência a usar o cabelo em dreads. A própria Shereen afirmou que não usuaria o cabelo em dreads no trabalho porque o ambiente não era favorável a isso.

Alikah Hatchett-Fall, que dirige o Sacred Crowns Salon, também em Sacramento, disse que homens negros vêm a seu salão pedindo para cortar o cabelo porque não conseguem encontrar emprego.

A lei, diz Hatchet-Fall, "significa que psicologicamente e mentalmente as pessoas podem ficar à vontade e ser capazes de conseguir os empregos que desejam, manter os empregos que querem e serem promovidos nos cargos que quiserem".

Embora a Califórnia seja o primeiro estado com uma lei do tipo, a cidade de Nova York emitiu, no início deste ano, uma orientação legal que proíbe a discriminação contra alguém com base em seu penteado.

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