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13/11/2018 14:09:00
Caso Daniel: Testemunha diz que suspeito 'ordenou' que convidados limpassem sangue na casa da família Brittes

G1/LD

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A jovem de 19 anos que se relacionou com Daniel no aniversário de Allana Brittes disse à Polícia Civil que Edison Brittes Júnior, principal suspeito de matar o jogador, "ordenou" que ela e outros convidados limpassem as manchas de sangue que ficaram pela casa depois das agressões.

"[...] Relatando que inclusive o colchão do casal foi cortado na parte em que havia sangue - o tecido da parte de cima, sendo que este pedaço foi queimado junto com os documentos do Daniel", diz trecho do depoimento, dado na segunda-feira (12).

Daniel Correa Freitas, de 24 anos, foi encontrado morto, com o órgão sexual decepado, no dia 27 de outubro, perto de uma estrada rural na Colônia Mergulhão, em São José dos Pinhais, na Região de Curitiba.

Segundo a polícia, o crime aconteceu depois de uma festa em comemoração ao aniversário de 18 anos da filha de Edison Brittes, Allana Brittes. Edison Brittes confessou ter matado Daniel Correa.

Ele afirmou que cometeu o crime porque o jogador tentou estuprar a mulher dele, Cristiana Brittes. A família Brittes está presa e deve ser indiciada por homicídio qualificado e coação de testemunhas.

O delegado responsável pelo caso, Amadeu Trevisan, disse que não houve tentativa de estupro e que a família Brittes está mentindo.

Mais sobre o depoimento

A jovem relatou que não conhecia Daniel, que o beijou apenas no camarote da Shed - casa noturna em Curitiba onde a festa da amiga dela, Allana Brittes, ocorreu - e que os dois conversaram assuntos "como ambos terem filhos".

A testemunha afirmou que Daniel chegou à casa da família Brittes, onde a comemoração continuou depois, sem ser convidado e que ele "não aparentava estar embriagado". Daniel, de acordo com ela, estava "tranquilo e conversava normalmente".

A jovem contou que estava dormindo antes das agressões contra Daniel começarem e que "não ouviu em nenhum momento qualquer solicitação de socorro por parte de Cris". Disse, ainda, que, em momento algum, Cristiana Brittes relatou "abuso sexual ou estupro por parte de Daniel".

Durante o depoimento, a jovem também falou que viu Cristiana Brittes chamando Allana Brittes e dizendo: "Ajuda, desce, senão seu pai vai matar o menino".

Afirmou que, pouco depois, viu Edison Brittes segurando Daniel pelo pescoço no quarto do casal e que o jogador "não falava nada". A testemunha também contou que, ao chegar ao quarto, Edison Brittes também deu tapas no rosto da mulher.

Nesse momento, conforme a testemunha, Edison Brittes mandou que a porta fosse fechada e Allana Brittes obedeceu.

Em seguida, conforme o depoimento, Eduardo Henrique da Silva, Ygor King e David Willian da Silva, os outros três presos por envolvimento no crime, entraram no cômodo. A defesa deles diz que o trio não participou do assassinato.

"Que, enquanto estava na sala, ouvia de dentro do quarto Júnior dizendo 'Seu vagabundo, quem mandou mexer com mulher casada, no meu quarto, com a minha mulher'", diz trecho do depoimento.

A jovem também disse que Edison Brittes falou "que não era para pedir ajuda de ninguém" e que ela chegou a pedir para que o suspeito parasse com as agressões, mas que ele respondeu que "estava na casa dele" e que "ela não mandava" ali.

A jovem ainda relatou que viu um dos convidados, que não foi preso, pegando na cozinha a faca usada no crime.

"Uma faca grande, lisa, de cortar carne", descreveu a jovem.

A testemunha afirmou que Cristiana Brittes dizia que não era para deixar Edison Brittes fazer nada. Então, "Júnior a questionou, dizendo 'Você está defendendo esse vagabundo'", diz trecho do depoimento.

A jovem disse que, depois das agressões, Daniel foi colocado em um cobertor no porta-malas do carro. Ela não soube dizer quem acompanhou Edison Brittes no carro.

De acordo com a testemunha, quando Edison Brittes voltou, com roupas diferentes e uma garrafa de água grande, a filha questionou o que o pai tinha feito. "Júnior apenas disse 'matei ele' e Allana questionou como, mas Júnior ficou em silêncio", diz trecho do depoimento.

A testemunha também contou que Edison Brittes comentou que "havia matado o gambá" e que "não ia aguentar" Daniel Correa depois de vê-lo na cama com a mulher.

Por fim, a jovem disse que foi orientada por Edison Brittes a dizer para a polícia que Daniel tinha ido embora sem dizer nada. Contou ainda que ele pediu que ela fosse a um encontro no shopping, mas que ela não foi por medo.

Outros depoimentos

Até o momento, pelo menos 14 pessoas foram ouvidas.

De acordo com o advogado de Eduardo da Silva, Edson Stadler, o cliente disse, em interrogatório, que Edison Brittes saiu de casa na manhã do crime com o objetivo de "castrar" o jogador e abandoná-lo na rua.

David da Silva disse, também em depoimento, que Edison Brittes mudou de ideia e decidiu matar Daniel Correa depois de ver algo no celular do jogador.

Antes de morrer, Daniel Correa chegou a mandar para um amigo uma foto deitado na cama ao lado de Cristiana, que estava, aparentemente, dormindo.

O delegado também já ouviu Ygor e a família Brittes. Em depoimento, Cristiana Brittes disse que acordou com o jogador deitado em cima dela, e disse que começou a gritar assustada.

Cristiana disse ainda que o jogador estava "excitado", "trajando apenas cueca" e que passava a mão pelo corpo dela.

A mulher de Edison afirmou também que, enquanto ela gritava, o jogador dizia: "Calma, é o Daniel".

Allana Brittes relatou que, depois de ouvir gritos, foi ao quarto do casal e encontrou o pai segurando Daniel Correa pelo pescoço, "como se o enforcasse".

A mãe, segundo Allana Brittes, já não estava mais no quarto porque tinha ido procurar ajuda. Logo depois, ao encontrá-la, a filha revelou à polícia que Cristiana Brittes disse que Daniel Correa tentou estuprá-la.

Pouco antes da confusão, o jogador chegou mandar para um amigo, por Whatsapp, fotos dele na cama com Cristiana, que estava, aparentemente, dormindo.

Mãe e filha estão presas na Penitenciária Feminina de Piraquara, na Região de Curitiba.

Já Edison Brittes preferiu ficar em silêncio no interrogatório quando foi questionado sobre como o jogador foi morto, mas assumiu toda a autoria do crime. Ele está preso no Centro de Triagem 1 da Polícia Civil, em Curitiba.

A polícia apreendeu na casa dele uma moto que está no nome de um traficante preso pela Polícia Federal (PF).

A defesa da família do jogador nega a tentativa de estupro. A tia e a prima do jogador também foram ouvidas.

No depoimento, a tia disse que Allana Brittes trocou mensagens via WhatsApp com a mãe do jogador e se prontificou a ajudar.

Questionada pela família onde estaria Daniel Correa, Allana Brittes respondeu que não sabia dele, que não houve briga na casa dela e que o jogador foi embora, sozinho, por volta das 8h da manhã de sábado.

“Ele só deu tchau, levantou e foi embora”, dizia a mensagem.

Dois dias depois do crime, Edison Brittes ligou para dar os pêsames à mãe do jogador, segundo o advogado de defesa da família do jogador. Quando soube que Edison Brittes confessou o crime e a versão da família Brittes, a mãe disse que eles "são monstruosos".

Segundo a polícia, Edison Brittes usou um celular que pertence a um homem assassinado em 2016 para fazer essa ligação.

Contradições

O advogado da família Brittes, Cláudio Dalledone, falou, nesta terça-feira (13), sobre as contradições entre os depoimentos dos seus clientes e os das testemunhas.

"A divergência está crescendo por conta desse protagonismo que algumas ditas testemunhas ou partícipes de tudo o que ocorreu estão fazendo quando atendem à orientação dos advogados. São fatos que merecem ser investigados, exauridos por uma acareação, inclusive o Edison participando dela", afirmou.

Daniel

Daniel Correa Freitas nasceu em Juiz de Fora (MG), e jogou pelo Coritiba, em 2017.

Ele estava emprestado pelo São Paulo ao São Bento, equipe que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. O jogador foi revelado pelo Cruzeiro e também jogou pelo Botafogo e pela Ponte Preta.

O corpo dele foi velado e enterrado em Conselheiro Lafaiete (MG), cidade onde mora a família.

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