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06/09/2018 10:29:00
Diretor do Museu Nacional diz que não conseguiu audiência com Crivella: 'Pena que eu não conheci a Márcia'

G1/LD

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Diretor do Museu Nacional, que foi destruído em um incêndio de grandes proporções no último domingo, 2/9, Alexander Kellner criticou a falta de apoio de autoridades e políticos desde que assumiu o comando do local, em fevereiro deste ano, durante o Conversa com Bial desta quarta-feira, 5/9.

Ao lado do biólogo Paulo Buckup - que realiza pesquisas no local há mais de 20 anos -, do jornalista Pedro Dória e do neurocientista Stevens Rehen, ele afirmou que tentou várias vezes uma reunião com o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, já que o museu fica situado na Quinta da Boa Vista, de propriedade do município. Em todas as vezes, foi ignorado.

“Pena que eu não conheci a Márcia”, ironizou, referindo-se à assessora indicada por Crivella a um grupo de evangélicos que cobrava atendimento médico.

Kellner também comentou a ausência do presidente Michel Temer e de ministros no evento que comemorou o aniversário de 200 anos do museu, em junho.

“Teve uma alta autoridade para quem eu fiz questão de entregar o convite pessoalmente. Não fui recebido nem pelo staff dele”, afirmou, sem revelar o nome do ministro.

Alexander lembrou ainda que, em 2014, o Congresso aprovou uma emenda destinando cerca de R$ 20 milhões para reforma do museu, mas o governo não repassou a verba - que seria usada para projetos mais urgentes:

"Dentro dessa situação estava, inclusive, risco de incêndio".

O diretor ressaltou que a bancada de deputados do Rio de Janeiro prometeu ajudar a liberar uma verba para reconstruir os estragos da tragédia:

"Eles prometeram ajudar com emendas individuais, cerca de R$ 230 mil por deputado, e uma emenda de bancada com uma quantia maior".

Ao serem informados do incêndio no domingo, Alexander e Paulo correram para o museu e, quando chegaram ao local, parte do complexo formado por 10 prédios ainda não havia sido consumido pelo fogo.

"Consegui entrar dentro do prédio e o primeiro andar não estava em chamas. Pedi para o bombeiro jogar água e ele disse que não tinha", lamentou o diretor do local.

A dupla desmentiu os boatos de que pesquisadores teriam invadido o prédio em chamas para salvar itens do museu. Alexander afirmou que alguns funcionários, devidamente escoltados - e autorizados - pelos bombeiros, entraram no local para salvar peças consideradas valiosas e possíveis de serem retiradas naquele contexto:

"Conheço a anatomia do museu e sabia apontar onde poderia cortar o fogo", explicou Paulo.

"Era importante identificar o que era insubstituível. Eram escolhas de Sofia", afirmou.

"Um técnico de coleção sabia o que era importante no setor onde ele trabalhava. Traçamos uma rota de ingresso no prédio para retirar esse material. Lembrei de salvar os dados. Consegui encontrar as bases de dados usando as labaredas como fonte de iluminação", relatou o biólogo.

Alexander reiterou que o estrago causado pelo incêndio é irreparável para a história do país, mas ressaltou que há chances de se conseguir resgatar muita coisa. Inclusive, o crânio de Luzia - considerado o fóssil mais antigo das Américas.

"Entrei lá com a Defesa Civil. Tive a impressão e a esperança de que a gente vai conseguir recuperar muita coisa".

"Não conseguimos chegar até onde estava Luzia, mas, calcado no que vi, tenho esperança de encontrar".

O diretor do museu fez um apelo para que as autoridades permitam que sua equipe seja autorizada a vasculhar os escombros e retirar os entulhos do local:

"Não existem especialistas melhores do que nós. Quem tem que fazer a recuperação do acervo somos nós".

"Vai demorar muito tempo? Só posso dar um prazo quando entrar no prédio".

Alexander agradeceu a mobilização da população carioca, a solidariedade dos brasileiros espalhados pelos país, a ajuda internacional e avisou:

"Não quero verba, quero acervo".

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