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10/03/2018 10:54:00
'Não é só uma mensagem maldosa, é um crime', diz aluno da FGV chamado de escravo

G1/LD

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O estudante da Fundação Getulio Vargas (FGV), João Gilberto Pereira Lima, de 25 anos, prestou depoimento na tarde desta sexta-feira (9) no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para falar sobre o caso em que ele foi vítima de injúria racial em mensagem de outro aluno da faculdade.

João teve a foto tirada por outro aluno da FGV e ccompartilhada em um grupo de whatsapp com a frase: "Achei esse escravo no fumódromo! Quem for o dono avisa!”. A vítima registrou boletim de ocorrência por injúria racial e o autor da foto foi suspenso da faculdade por 3 meses.

"Não é só uma mensagem maldosa, é um crime", disse João ao sair do DHPP. Ele é estudante de administração pública na faculdade.

"Achei uma atitude covarde. Esse tipo de gente é assim mesmo, em vez de falar na cara prefere falar na rede social ou tirar a foto sem autorização. Espero que seja feita a Justiça. Não posso interferir no que a polícia e a justiça vai fazer vou cumprir meu papel de cidadão."

O estudante diz que espera que o aluno seja expulso da faculdade. "Fiquei em choque. Nunca tinha passado por isso na GV. Pensei em buscar meus direitos. É importante se expor porque o racismo no Brasil é muito velado. Ele não foi falar na minha cara, optou por mandar uma mensagem aos amigos."

Mayra Belmonte Lanza, diretora do Departamento de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria de Direitos Humanos da Prefeitura acompanhou João Gilberto na ida ao DHPP

Entenda o caso

Em um grupo da GV no Facebook, a vítima conta que foi chamado pela Coordenação de Administração Pública na terça-feira (6) e informado que um aluno do 4º semestre do curso de Administração de Empresas compartilhou a foto com a frase.

No post, a vítima diz que o colega teve atitude "covarde". “Tão perto de mim...porque não foi falar na minha cara? Mas você optou pela atitude covarde de tirar uma foto minha e jogar no grupo dos amiguinhos. Se seu intuito foi fazer uma piada, definitivamente você não tem esse dom. Acha que aqui não é lugar de preto? Saiba que muito antes de você pensar em prestar FGV eu já caminhava por esses corredores. Se você me conhecesse, não teria se atrevido. O que você fez além de imoral é crime! As providências legais já foram tomadas e você pagará pelos seus atos”, diz post publicado em grupo da faculdade no Facebook.

“Não descansarei até você ser expulso dessa faculdade. Pessoas como você não devem e nem podem ter um diploma da Fundação Getulio Vargas. A mensagem é curta e direta. Mas serve para qualquer outrx racista da Fundação. Não passará!”

O boletim por injúria racial foi registrado no 4º Distrito Policial da Consolação, na região central da cidade, nesta quinta-feira (8). O Código Penal prevê pena de reclusão de um a três anos e multa para o crime de injúria racial.

Em nota, a FGV afirma que ante "possível conotação racista da ofensa" "aplicou severa punição ao ofensor, que foi suspenso por três meses".

"O comentário ofensivo foi feito em grupo privado do qual o ofensor fazia parte, sem qualquer participação, ainda que indireta, da FGV. Ante a possível conotação racista da ofensa, firme em sua postura de repúdio a toda forma de discriminação e preconceito, a FGV, tão logo tomou conhecimento dos fatos, tal qual prevê seu Código de Ética e Disciplina, de imediato aplicou severa punição ao ofensor, que foi suspenso de suas atividades curriculares por três meses, estando impedido de frequentar a escola, sem ressalva da adoção de medidas complementares, a partir da apuração dos fatos pelas autoridades competentes", diz o texto.

O Diretório Acadêmico Getúlio Vargas disse, por meio de nota, que uma carta de denúncia será apresentada à Congregação, órgão colegiado capaz de deliberar a respeito da expulsão do aluno.

“Reiteramos, ainda, nosso profundo repúdio ao ocorrido. Nossa gestão assumiu o DAGV com o compromisso de trabalhar junto aos coletivos por uma faculdade mais inclusiva e democrática, e por um ambiente universitário verdadeiramente acolhedor a todos e todas que nele estão”, diz a nota.

O coletivo negro 20 de Novembro FGV também se manifestou e pediu "basta de preconceito".

"Vivemos num país livre. Infelizmente essa liberdade muitas vezes é tão somente formal. As desigualdades de renda, classe, gênero e de cor nas terras de Machado de Assis, Dandara, Luís Gama, Carolina de Jesus, Joaquim Barbosa e Thais Araújo, nos dizem que indivíduos ainda são cerceados de ser quem realmente são. Negros e negras são minoria nas prestigiadas instituições de ensino superior. Homens negros são a maior parte da população carcerária do país. Mulheres negras sofrem duas vezes mais com o feminicídio do que mulheres brancas. Crianças negras são a grande maioria do corpo discente do péssimo ensino público. LGBTSs negros fazem parte de uma das populações mais vulneráveis para o desenvolvimento de doenças mentais. Sendo assim, o coletivo 20 de novembro se levanta e diz: Basta!"

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