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ImprimirA Justiça marcou para a próxima segunda-feira (17), o júri pela morte de Matheus Coutinho Xavier, de 20 anos, estudante de Direito assassinado por engano em abril de 2019, em Campo Grande. Esse é um dos crimes investigados na operação Omertà, deflagrada contra milícias armadas de Mato Grosso do Sul.
A reportagem apurou que o julgamento deve durar a semana toda. O juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, reservou a semana inteira para o julgamento e não descarta a possibilidade de ter de avançar para o sábado, dia 21.
São réus na ação penal, o empresário Jamil Name Filho, o “Jamilzinho”, como mandante do crime de pistolagem, o ex-guarda civil Marcelo Rios, e o policial Vladenilson Olmedo. Os dois agentes de segurança teriam, conforme a acusação, intermediado a contratação de assassinos de aluguel. Os citados estão presos no presídio de segurança máxima de Mossoró (RN).
O caso também tinha como acusado Jamil Name, que morreu na cadeia, em maio de 2020, vítima da covid-19. Pai de “Jamilzinho”, ele também era apontado como mandante da morte.
Grupos policiais de elite estarão mobilizados para ficar no entorno do Fórum de Campo Grande e farão ainda o traslado de envolvidos. Ao todo, o caso terá 16 testemunhas, entre elas delegados que já estiveram em condição de ameaça pelos réus pela atuação no estado.
O esquema de segurança prevê que os jurados dormirão em um hotel, de nome não revelado por medida de segurança. Além disso, há questões logísticas de alimentação e transporte dos envolvidos.
Matheus foi assassinado no dia 9 de abril de 2019, com tiros de fuzil AK-47, no bairro Jardim Bela Vista, em Campo Grande, quando manobrava a caminhonete do pai. O alvo verdadeiro, de acordo com as investigações, era o pai do jovem, Paulo Roberto Teixeira Xavier, ex-capitão da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, considerado desafeto da família Name.
Adiamentos
Inicialmente, o julgamento estava previsto para o dia 13 de outubro de 2021, mas houve o primeiro adiamento. Em fevereiro deste ano, o juiz Aluízio Pereira dos Santos enviou ofício ao ministro da Justiça, Flávio Dino, solicitando que Jamil Name Filho, Marcelo Rios e Vladenilson Daniel Olmedo, presos na operação Omertà, estejam presentes no júri, em Campo Grande.
Em uma segunda tentativa, a Justiça marcou para o dia 15 de fevereiro de 2023 o júri pela morte do estudante, mas o julgamento foi suspenso porque a defesa insistia na presença dos réus no plenário. Sem tempo hábil para a transferência do Presídio Federal de Mossoró (RN) para Campo Grande, o júri foi adiado.
Em uma terceira vez, a Justiça em Campo Grande marcou o julgamento de Jamil Name Filho e mais dois acusados para os dias 16 a 19 de maio deste ano. Contudo, o júri foi mais uma vez desmarcado.
O caso
Segundo relatório do Garras, o policial militar aposentado Paulo Roberto Xavier era o verdadeiro alvo da organização criminosa na execução que resultou na morte do seu filho.
A investigação aponta que o homem apontado como chefe da organização criminosa, o empresário Jamil Name, acreditava que Paulo Roberto Xavier tinha se aliado a um advogado, com quem ele tinha tido um desacordo em negociação de fazendas que pertenceram ao reverendo Moon localizadas em Jardim e em Campo Grande.
Por conta do revés nos negócios, Jamil Name, conforme o relatório da polícia, teria dado ordem para matar o advogado, a esposa dele e seu filho, além do ex-policial militar.
O advogado de defesa da família Name, Renê Siufi, disse ao g1 na época, que as acusações de que seus clientes lideram a organização criminosa é uma “piada” e que está sendo apresentada somente a versão do Ministério Público. Disse que em juízo, Jamil Name e Jamil Name Filho, apresentarão os esclarecimentos necessários.
Em relação a acusação de que Jamil Name teria dado a ordem para matar o ex-policial militar Paulo Roberto Xavier, disse que não sabe nada a respeito e que seus clientes negam qualquer envolvimento com esse e outros crimes.
Paulo Roberto Xavier, de acordo com a investigação, já era conhecido da família Name. Ele tinha, inclusive, trabalhado como segurança do segundo homem na hierarquia do grupo criminoso, Jamil Name Filho. Foi o ex-policial militar que presenciou a briga entre ‘Guri’, como era conhecido Name Filho, e o empresário Marcelo Colombo, o ‘Playboy’, em uma boate em Campo Grande, em 2013.
Testemunhas e investigados relataram à polícia, que por conta dessa briga, que começou porque Colombo pegou um pedaço de gelo no balde de bebidas de Name Filho, e terminou com ‘Playboy’ empurrando o rosto de ‘Guri’, teria sido dada ordem de execução do empresário. Colombo foi morto no dia 18 de outubro de 2018, em um bar em Campo Grande.
Mesmo com a prestação de serviço para os Name, a investigação do Garras, aponta que o ex-policial militar entrou na alça de mira da família.