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03/07/2019 13:57:00
Para garantir piloto do Enem digital em 2020, Inep promete 'robustecer' processo de elaboração de questões

G1/LD

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O anúncio de que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) pretende, a partir de 2020, ampliar gradualmente o número de edições anuais, até adotar o formato 100% digital em 2026, esbarra em um obstáculo que, por anos, tem impedido os planos do governo federal de realizar mais de um Enem por ano: o banco de itens.

Em entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira (3), ao ser questionado pelo G1, o novo presidente do Inep, Alexandre Lopes, afirmou que, na decisão de colocar o projeto em prática no ano que vem, "foi levada em consideração a nossa capacidade de expandir o banco de itens".

Embora o Inep não divulgue oficialmente o número de itens atualmente no banco ou a quantidade que planeja criar até 2020, fontes ouvidas pela reportagem estimam que o ritmo de elaboração de itens precisa ser acelerado em relação ao atual, que só é suficiente para as duas aplicações anuais, além de uma prova "backup".

O que é o banco de itens?

Localizado fisicamente em uma sala de proteção especial na sede do Inep em Brasília, conhecida como "sala segura", o banco de itens é um servidor que protege todas as questões que podem ser incluídas em provas do Enem.

Em termos técnicos, as questões são chamadas de itens porque, além de serem um conjunto de enunciados e alternativas, elas carregam consigo outras informações importantes, como o nível de dificuldade e a habilidade que ela exige que o candidato tenha para acertar a resposta.

É nesse local que uma equipe enxuta do Inep seleciona os conjuntos de 45 questões que vão compor cada prova objetiva do exame.

Como o Enem usa a metodologia de Teoria de Resposta ao Item (TRI), a elaboração desses itens passa por um processo de vários passos (veja como é feita a prova do Enem).

Quantos itens tem o banco?

Os números exatos nunca foram divulgados pelo Inep, que alega questões de segurança.

"A gente não pode informar qual é o tamanho do banco e o quanto precisa ser ampliado", afirmou Lopes nesta quarta-feira, repetindo respostas de outros especialistas que passaram pela presidência do Inep nos últimos anos.

Fontes internas com acesso à sala segura, porém, estimaram ao G1 que o banco tinha cerca de 2 mil itens no início deste ano.

Por que o Enem digital exige mais itens?

Em tese, um Enem em versão digital — se apenas substitui a aplicação no papel — não exige mais itens do que a versão em papel. O obstáculo em 2020 é aplicar uma terceira edição da prova em 2020.

A vontade de aumentar o número de edições do Enem é antiga — desde pelo 2012 o Ministério da Educação tenta conseguir as condições necessárias para isso. Mas ex-presidentes do Inep e ex-ministros explicam que a principal barreira é ter itens suficientes no banco.

Quantos novos itens são criados por ano?

Historicamente, as fontes ouvidas pelo G1 explicam que processo de elaboração começa com a contratação de professoras para elaborar em torno de 10 mil novos itens.

Como cada edição do Enem consegue cerca de 540 questões, nesse ritmo, segundo os especialistas, é possível garantir as três versões da prova elaboradas a cada ano: a da aplicação regular, a da reaplicação (para pessoas privadas de liberdade e nos locais de prova no qual algum imprevisto logístico impediu a aplicação regular), e uma prova "backup", que fica de reserva caso seja necessário reaplicar o Enem para muitas pessoas, como ocorreu em 2016.

Qual é o plano do Inep para 2020?

Na entrevista coletiva, o Inep não informou quantos itens novos pretende criar, nem quanto vai investir na contratação de professores e aplicação de pré-testes. Mas Lopes, o presidente da autarquia, disse que a intenção é "robustecer" o processo de elaboração de itens.

"A gente está reforçando o banco de itens para poder caminhar, ter mais provas ao longo do ano", disse Alexandre Lopes, presidente do Inep. "Já existe um processo estabelecido de produção de itens, o que vai fazer é só robustecer o processo."

A metodologia do Enem vai mudar?

Não. Mesmo no formato digital, a metodologia segue sendo a TRI, que serve para avaliações em larga escala como o exame do MEC, que tem todos os anos milhões de participantes.

A partir de 2026, porém, quando todos os candidatos estiverem fazendo o mesmo formato digital, Lopes afirmou que poderá ser adotada a tecnologia CAT ("teste adaptativo no computador", na sigla em inglês).

Ao contrário da prova em papel, que exige que todos os candidatos respondam a 45 questões de cada prova para que a metodologia possa avaliar a proficiência de cada um deles, e listá-los segundo uma escala dessa proficiência, na versão digital, o computador pode selecionar, a partir de cada acerto ou erro do candidato, novas questões mais fáceis ou difíceis. Assim, é possível chegar na mesma precisão do formato em papel, mas com menos questões respondidas.

Mas, por enquanto, o governo federal diz que essa conversa ainda está em um "horizonte mais distante", segundo o ministro da Educação, Abraham Weintraub.

"Enquanto eu tiver prova em papel não posso fazer adaptativa, porque não tem condições isonômicas. Só posso fazer prova adaptativa quando eliminar a prova em papel", explicou Alexandre Lopes.

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