VERSÃO DE IMPRESSÃO
Artigo
31/12/2020 14:33:00
2020: um ano totalmente desnecessário

Ricardo Kertzman

“Quem sou eu e quem é você nessa história, eu não sei dizer. Mas acredito que ninguém tenha vindo pro mundo a passeio. E enquanto a gente pensa que já sabe de tudo, o mundo muda de cena em menos de um segundo” (Rock Estrela, de Leo Jaime).

Não sou daqueles que buscam lições ou algo positivo em tragédias. Ao contrário: sou comedido na alegria e intenso na dor. Há quem pense em colher algo de bom em 2020. Eu só penso – e lamento – em tudo de ruim que aconteceu. E como aconteceu.

São dezenas de milhões de enlutados mundo afora. Órfãos, viúvos, pais, irmãos e amigos choram a perda e a saudade daqueles que tanto amaram em vida. O desemprego se espalhou como o maldito coronavírus e a necessidade entrou pela porta de quase todos.

Crianças e adolescentes foram privados daquilo que a idade mais clama: contato, interação, abraços, risadas, beijos, brincadeiras, namoro. A alfabetização de milhões de crianças irá atrasar. O fosso entre educação particular e pública se agigantou como nunca.

Pais idosos e avós tornaram-se ainda mais solitários e isolados. Quando não acometidos pela Covid-19, outras doenças oportunistas trataram de tornar tudo ainda mais difícil. E como não lembrar de tanta gente jovem e saudável que também se foi de uma hora para a outra?

A violência doméstica explodiu, como explodiram os divórcios. Como explodiu a venda de drogas contra a ansiedade e depressão. Como explodiu a procura por psicólogos e psiquiatras. Buscar algo de bom em tudo isso não é tarefa fácil, não.

No Brasil, tudo ainda pior. Um presidente psicopata e um governo errático transformaram o que já era terrível em algo verdadeiramente catastrófico. E mais: aniquilaram, inclusive, a esperança de um 2021 menos sofrido. Infelizmente, será tão ou mais dramático que 2020.

A doença não ensina nada. Se alguém não aprende o que deve, são, quiçá doente ou recuperado. A morte não ensina nada. Apenas atira na fuça dos vivos a realidade de sermos finitos. A dor não ensina nada. Só castiga seu pobre hospedeiro.

Desejar um Feliz 2021 seria mera retórica, mera formalidade de final de texto. 2021 não será feliz. Se for menos ruim, já será bom. Por isso, encerro apenas desejando saúde e sorte, ainda que meu desejo não traga resultado prático algum.

Por fim, àqueles que perderam alguém querido; àqueles que encontram-se enfermos ou com queridos enfermos; àqueles que não sabem como pagar as contas na segunda-feira, meu sincero e solidário abraço. Não ajuda muito, eu sei. Mas um pouco de carinho não faz mal a ninguém.