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Brasil
11/07/2018 10:11:00
Mais de 16 mil venezuelanos pedem refúgio em Roraima em seis meses, diz PF

G1/LD

Nos primeiros seis meses deste ano, mais de 16 mil venezuelanos pediram refúgio em Roraima, segundo a Polícia Federal. O número já é 20% maior do que o registrado em todo o ano de 2017, quando foram recebidas pouco mais de 13,5 mil solicitações.

De acordo com a PF, entre janeiro e 22 de junho deste ano, foram recebidos 16.953 pedidos de refúgio no estado. Desses, 16.523, ou 97% do total, são só de venezuelanos. Os demais são de cubanos (155), haitianos (139) e cidadãos de outras nacionalidades (133).

O recorde de pedidos de refúgio de venezuelanos foi no mês de maio, quando o país foi às urnas e o presidente Nicolás Maduro acabou reeleito. Só naquele mês foram 4.054 solicitações feitas junto à PF.

Em 2017, ano em que o índice de pedidos teve uma alta abrupta, foram recebidos 13.583 pedidos de venezuelanos. No ano anterior foram 2.048 e 253 em 2015, quando começou a imigração de venezuelanos para Roraima.

Uma vez feita uma solicitação de refúgio, o pedido segue para o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), que analisa e reconhece ou não a condição de refugiado. Por isso, o G1 questionou o Conare sobre o número de pedidos de venezuelanos examinados, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Imigrantes em trânsito

Apesar de ser um dado importante para mostrar o fluxo migratório, o número de pedidos de refúgio não corresponde à quantidade exata de venezuelanos vivendo em Roraima, afirma Gustavo da Frota Simões, professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima (UFRR).

No entendimento dele, nem todos os 16.523 venezuelanos que pediram refúgio à PF neste ano continuam em Roraima, porque muitos estão seguindo viagem, principalmente para buscar trabalho.

"Os venezuelanos vêm para Roraima, às vezes ficam um tempo, se regularizam, e procuram emprego. Quando não conseguem, fazem contatos, vão ouvindo outras pessoas e seguem viagem para outros lugares", explicou Simões.

Para ele, a imigração venezuelana para o estado pode ser dividida em três fases: a pendular, de permanência e de trânsito, que é a vivida atualmente.

Na primeira delas, entre 2015 e 2016, imigrantes cruzavam a fronteira para comprar mantimentos e depois voltavam para o país de origem. Depois, em 2017, venezuelanos passaram a se mudar para o estado em busca de melhores condições de vida. Já neste ano, conforme o professor, a imigração ganha um novo caráter, que é o dos imigrantes em trânsito.

Apesar disso, na avaliação dele, o número de pedidos de refúgio ainda deve continuar aumentando, porque ele acompanha o agravamento da crise política e econômica na Venezuela.

Venezuelanos em Roraima

O Exército brasileiro calcula que a média de entrada de venezuelanos em Roraima nos últimos cinco meses foi de 416 pessoas ao dia. No início do ano, a ONU estimou 800, mas hoje também se baseia na média de que 400 a 500 pessoas cruzam a fronteira todos os dias.

Ainda não há números precisos sobre a quantidade de venezuelanos vivendo em Roraima, mas um levantamento da prefeitura de Boa Vista apontou que só na capital há 25 mil moradores venezuelanos - o equivalente a 7,5% da população local, que é de 332 mil habitantes.

Antes desse estudo, a prefeitura estimava que 40 mil venezuelanos estavam na cidade. Nessa época, só a praça Simón Bolívar - que foi cercada com tapumes e desocupada em maio - tinha cerca de 1,2 mil venezuelanos acampados.

Atualmente, o estado tem nove abrigos públicos com cerca 4 mil pessoas, cinco deles abertos só neste ano. Mesmo assim ainda há venezuelanos em situação de rua em 10 dos 15 municípios do estado.