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Ciência e Saúde
29/11/2025 12:00:00
Cortar feijão da dieta pode aumentar em 20% a chance de desenvolver quadro de obesidade
Plataforma com 55 mil usuários prova que é possível emagrecer sem abrir mão dos alimentos tradicionais da mesa brasileira como pão, arroz e feijão

CE/LD

Foto: Freepik

Em meio ao debate sobre dietas restritivas e cortes radicais, uma nova abordagem vem ganhando força entre milhares de pessoas que comprovam ser possível perder peso sem abrir mão dos alimentos mais tradicionais da mesa brasileira, a exemplo do pão, do arroz e do feijão.

A relevância desse movimento se evidencia quando se considera que, apenas no último ano, mais de 345 milhões de pessoas em todo o mundo recorreram a aplicativos de fitness, segundo dados do relatório anual Fitness App Market, do Business of Apps, para descobrir como se exercitar e o que comer para emagrecer.

Além disso, os aplicativos de fitness foram baixados 850 milhões de vezes no mesmo período.

E ainda: a análise de um aplicativo com 55 mil usuários ativos revelou que o consumo de pães, arroz e acompanhamentos regionais permanece recorrente nos registros diários. Segundo dados da Fitlab, mesmo nos períodos de maior redução de peso, os participantes mantêm o consumo de arroz e pão todos os dias.

“Por muito tempo, acreditou-se que emagrecer significava abrir mão do que se gosta. Nosso propósito é quebrar esse paradigma, mostrar que é possível conquistar saúde e equilíbrio sem abandonar os sabores que fazem parte da nossa identidade”, afirma Renata Ikeda, idealizadora do projeto.

PF PERFEITO

Para ilustrar o poder desses alimentos, imagine um prato composto por 150 g de arroz, mais 100 g de feijão, mais um fio de azeite, mais 100 g de uma fonte de proteína magra como filé de frango e vegetais.

Essa combinação oferece, dependendo do tipo de arroz e feijão, algo entre 300 quilocaloria e 400 kcal, com boa dose de proteínas, fibras, vitaminas do complexo B e minerais.

Estudos da Embrapa já demonstraram que arroz e feijão são nutricionalmente complementares, fornecendo proteínas de alta qualidade, ferro, fibras e outros nutrientes essenciais.

Além disso, o feijão é um aliado poderoso da saciedade. Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que pessoas que abandonaram o consumo regular de feijão tiveram até 20% mais chance de desenvolver obesidade e, em 10%, a de excesso de peso, em comparação com quem mantinha o consumo entre 5 dias e 7 dias por semana.

O PÃO

E o pão, tão presente na dieta brasileira? Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), o consumo médio diário de pão francês no Brasil gira em torno de 60 gramas por pessoa, número que se mantém estável nos últimos anos.

O alimento é uma das principais fontes de energia e carboidratos da população. Já uma fatia média de pão integral (30 g) tem entre 65 kcal e 75 kcal, de acordo com as tabelas Taco (Unicamp) e Usda Food Data Central (2024), além de fornecer fibras, ferro, magnésio e vitaminas do complexo B.

“Quando consumido com equilíbrio calórico e combinado a proteínas e vegetais, o pão pode, sim, fazer parte de uma alimentação saudável e até de planos voltados à perda de peso sustentável”, destaca Renata.

Segundo Renata Ikeda, o grande diferencial de plataformas como a FitLab é permitir que o usuário registre tudo o que come, com foto ou descrição, e acompanhe suas metas de macronutrientes e calorias. O aplicativo compara o consumo real com o ideal e envia alertas quando o usuário se aproxima dos limites.

QUEDA NO CONSUMO

Com isso, é possível encaixar pão, arroz ou outros alimentos clássicos dentro de uma dieta equilibrada, desde que o controle calórico e o equilíbrio nutricional sejam respeitados.

“Nosso propósito não é impor restrições, e sim ensinar equilíbrio. O FitLab é como um espelho que devolve para o usuário a consciência do que ele realmente come, sem culpa, sem terrorismo nutricional. O resultado é libertador”, explica Renata Ikeda.

Curiosamente, embora esses alimentos sejam parte da identidade alimentar brasileira, eles têm perdido espaço nos últimos anos.

O consumo de arroz caiu 4,7% e o de feijão recuou 4,2% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2024, segundo dados da Scanntech (via Embrapa), compilados pela CNN Brasil.

Mesmo assim, o arroz e o feijão seguem entre os mais consumidos no País, onde o consumo médio per capita diário é de cerca de 131,4 gramas de arroz e 142,2 g de feijão, conforme levantamentos da Embrapa.

BENEFÍCIOS

Os benefícios e o equilíbrio por trás do prato tradicional vão muito além do sabor, como aponta Renata. Confira:

SACIEDADE

Saciedade e controle glicêmico – a combinação de fibras do feijão e carboidratos complexos do arroz promove digestão mais lenta e sensação prolongada de saciedade.

COMPLEMENTARIDADE

Complementaridade nutricional – o arroz compensa aminoácidos que faltam no feijão, e combinados fornecem proteínas de alta qualidade.

SEM GANHO DE PESO

Proteção contra obesidade – manter o feijão no cardápio, como mostrou a UFMG, tem efeito protetor contra ganho de peso.

FLEXIBILIDADE

Flexibilidade e aderência: dietas que incluem alimentos “queridinhos” têm menor taxa de abandono e maior sustentabilidade a longo prazo.

DADO REAL

“Muitos ainda acreditam que arroz, feijão ou pão engordam. Mas a experiência dos usuários está ajudando a derrubar esse mito e mostrando que, mesmo registrando 50 g de pão e 150 g de arroz por dia, e ficando dentro das metas diárias, conseguiram perder peso de forma consistente”, destaca a idealizadora do Fitlab.

Por exemplo, uma colher de arroz cozido (20 g) tem, em média, 25 kcal, segundo levantamentos nutricionais atualizados de 2024.

Isso equivale à metade de um pacote pequeno de snacks industrializados, mas com muito mais valor nutricional, fibras e zero gordura trans – reforçando que o problema nunca foi o arroz, mas o excesso e a falta de equilíbrio nas combinações diárias.

“Quando o dado vem da vida real, não de um manual, o impacto é outro”, prossegue Renata. “São 55 mil pessoas mostrando, na prática, que dá para emagrecer sem cortar o que amam. Isso é ciência aplicada ao cotidiano”, afirma. Exemplos como esse mostram que não é preciso abrir mão dos símbolos da culinária brasileira para atingir metas reais de saúde e bem-estar.

NOVO RADICAL

Enquanto outras tentativas acabam apostando em cortes radicais, a ciência e a tecnologia podem mostrar que o equilíbrio é o “novo radical”, ou seja, um prato simples de arroz e feijão e o pão podem continuar como sinônimo de afeto, energia e resultado.

“Quando a tecnologia respeita a cultura alimentar das pessoas, o emagrecimento deixa de ser sacrifício e vira conquista”, defende Renata.