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Ciência e Saúde
04/08/2018 11:16:00
Nasa lança missão inédita até o Sol com nave hiper-resistente ao calor

G1/LD

A humanidade embarca a partir do próximo sábado (11) em sua primeira viagem espacial para "tocar" o Sol. A Parker Solar Probe é uma missão da agência espacial americana (Nasa) e deverá enfrentar milhares de graus Celsius para chegar até a estrela mais importante do nosso sistema. Os cientistas vão chegar mais perto do que nunca – e o que será colhido de informação pelo caminho também é importante.

Material especial

A nave espacial será lançada da Estação da Força Aérea de Cabo Canaveral, nos Estados Unidos. Uma janela de lançamento será aberta no sábado (11) às 3h48 min da madrugada da Flórida (4h48 min de Brasília) e deverá ser encerrada até o domingo (19).

A Parker Solar Probe (PSP) é uma nave única: foi projetada para suportar condições brutais de calor e radiação, com uma blindagem que é resultado de anos de pesquisas.

-A PSP chegará sete vezes mais perto do Sol do que qualquer outra espaçonave;

-Para suportar as altas temperaturas, ela terá um escudo especial com 11,43 centímetros de espessura;

-O material deverá suportar temperaturas que passam de 1,3 mil ºC – a superfície do Sol pode chegar a 5,5 mil ºC. A coroa, atmosfera externa, pode ter milhares de graus Celsius. Por isso, vamos chegar até um certo limite;

-A PSP terá mais ou menos o tamanho de um carro.

O que queremos descobrir?

Aprender mais sobre os ventos solares e entender os motivos de a atmosfera externa do Sol ser mais quente que a superfície.

O nome da missão – Parker Solar Probe – é uma homenagem a Eugene Newman Parker, astrofísco de Michigan. Foi ele quem descobriu uma solução matemática para comprovar os ventos solares. Parker recebeu a honra de ter uma missão com seu nome ainda vivo, uma raridade na história da Nasa.

Mas o que são os ventos solares e por que é importante entender mais sobre eles?

Os ventos solares são um fluxo de partículas que sai constantemente do Sol. Essas partículas, basicamente prótons e elétrons, têm uma energia cinética (velocidade) muito grande, como diz a astrofísica Adriana Valio.

Ela explica que essa energia supera a energia gravitacional do Sol. Ou seja: a atração gravitacional, da massa do Sol, é menor na parte da coroa solar - topo da atmosfera da estrela - local de onde saem as partículas.

É a mesma lei que nos segura no chão da Terra e não nos deixa sair flutuando pelo espaço: nosso planeta também tem sua força gravitacional, e é ela que nos prende aqui. No Sol, na parte da coroa, as partículas têm tanta energia que conseguem "escapar" dessa força em um fluxo que é eterno. Isso cria o que chamamos de ventos solares, que são constantes e banham todo o Sistema.

"As partículas acabam então sendo perdidas para o meio interplanetário. E isso é o vento solar. Isso é constante.", disse Adriana.

O astrofísico José Dias Nascimento explica que a missão deverá analisar pela primeira vez essas partículas. E, com isso, entender a influência delas sobre o sistema como um todo.

"É importante ver como é a interação das estrelas como Sol no seu meio interestelar, como isso afeta os planetas. Em Marte, por exemplo, sabemos que há uma desidratação. A gente não consegue medir ainda como é essa radiação que sai do Sol e se há alguma influência no planeta, por exemplo", disse.

A Terra, com suas particularidades e seu campo magnético, é em maior parte protegida dos ventos solares. Mas as auroras boreais, por exemplo, são as partículas cheias de energia dos ventos solares que conseguem escapar e entrar pelos polos do nosso planeta.

Os ventos solares já eram conhecidos, mas a Nasa também quer desvendar um mistério.

Imagine uma fogueira. Você está perto, curtindo o calor do fogo em uma noite de frio. Mas e se chegar mais perto? Vai se queimar. Quanto mais perto, mais quente.

Isso não vale exatamente para o Sol. A superfície do Sol é cerca de 300 vezes mais fria que a parte externa da atmosfera, a coroa.

"Isso quer dizer que há uma fonte de energia desconhecida. Ser mais calor na atmosfera do que na superfíce é o oposto do que a gente espera. E isso é chamado de aquecimento coronal. Na verdade é o topo da atmosfera, é a atmosfera mais externa do Sol, a coroa, que está a uma temperatura de milhões de graus", disse Adriana.

Teremos até 2025 para descobrir. Em novembro deste ano, a nave deverá chegar no primeiro periélio – ponto mais próximo da órbita que faremos até a nossa estrela. E vamos repetir inúmeras vezes, até uma última fase da missão e a nave desintegrar.