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Comportamento
23/12/2017 10:41:00
42% das mulheres relatam ter sofrido assédio sexual, diz Datafolha
Mulheres mais jovens e com maior escolaridade são as vítimas mais frequentes.

UOL/PCS

Foto: AC

Pelo menos quatro em cada dez brasileiras já relataram ter sofrido assédio sexual, segundo pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (23) pelo jornal "Folha de S. Paulo". O instituto mostrou que o índice de mulheres que já vivenciaram o problema é de 42%.

A pesquisa entrevistou 1.427 brasileiras com 16 anos ou mais em novembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

O índice de mulheres que relatam ter sofrido assédio sexual sobe para 45% se consideradas apenas as mulheres de 16 a 24 anos. Em relação ao nível de escolaridade, o percentual é maior entre as mulheres com nível superior – 44%, contra 13% das mulheres que têm até o ensino fundamental.

Segundo o levantamento, o assédio acontece com maior frequência na rua e no transporte público.

A pesquisa revelou também que os relatos de assédio são maiores conforme o tamanho da cidade. Nos municípios com até 50 mil habitantes, 30% dizem ter sido vítimas, enquanto nos que têm mais de 500 mil habitantes, a taxa sobe para 57%.

LOCAL, RENDA E COR

O levantamento do Datafolha mostra que um terço das mulheres (29%) conta ter sido assediada na rua, e um quinto (22%), no transporte público. O trabalho é citado por 15%, a escola ou faculdade, por 10%, e a violência em casa, por 6%. Uma mesma entrevistada pode ter relatado mais de um tipo de assédio.

Além das mais novas, quem sente mais o problema são as mais escolarizadas e as que têm maior renda familiar. Segundo a promotora Maria Gabriela Manssur, isso pode ser explicado principalmente pelo acesso à informação.

"A falta de campanhas educativas, de acesso à Justiça e de coragem para denunciar entre as mais pobres influencia. Elas podem perder o emprego, além de sofrer um julgamento social ainda maior."

A delegada Sandra Gomes Melo, chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher do Distrito Federal, ressalta que, apesar de haver uma diferença nos tipos e locais de violência, todos os estratos de mulheres sofrem assédio.

"A violência não escolhe só a pobre, só quem tem escolaridade, só a mais nova. Talvez a mulher rica não vá sofrer tanto nos meios de transporte, porque não usa, mas vai sofrer no trabalho, por exemplo."

A cor da pele, porém, é um fator influente. Entre as pretas e pardas, aproximadamente 45% dizem já ter sido assediadas, ante um índice de 40% entre as brancas.

"A mulher negra, como é hipersexualizada, sofre um assédio mais incisivo. O local dela não é o da beleza, é o de suprir necessidades carnais. Há uma dupla discriminação", diz a advogada Thayna Yaredy, que é negra e representante do coletivo Rede Feminista de Juristas.

A pesquisa também indicou aumento nos relatos de assédio conforme o tamanho da cidade. Nos municípios com até 50 mil habitantes, 30% dizem ter sido vítimas, enquanto nos que têm mais de 500 mil moradores a taxa sobe para 57%.

CAMINHO DAS PEDRAS

Para estudiosas do tema, o combate ao problema passa inevitavelmente pela conscientização da população –tanto de homens quanto de mulheres– e por uma mudança na abordagem pelo poder público, seja nas polícias, na Justiça ou entre os legisladores.

O Código Penal só considera crime o assédio sexual quando há uma relação hierárquica entre as partes. A cantada na rua, por exemplo, é tida como contravenção penal, sujeita a multa. "Existe esse vácuo entre a importunação ofensiva ao pudor e o estupro", diz a promotora Maria Gabriela Manssur.

Dois projetos de lei que tramitam no Congresso pretendem preencher esse "vácuo" criando um novo tipo penal. Eles propõem no mínimo dois anos de prisão para quem constranger, molestar ou importunar sexualmente alguém, mesmo sem contato físico. Aprovados no Senado em outubro, os textos de autoria de Humberto Costa (PT-PE) e Marta Suplicy (PMDB-SP) agora estão na Câmara.

Juridicamente, o assédio que Maria sofreu ao ser abordada pelo motoqueiro é estupro, já que houve "conjunção carnal" e "ato libidinoso" por meio de ameaça.

Apesar das piadinhas que ouviu na delegacia, pelo menos desta vez ela foi denunciar. A situação 13 anos atrás foi diferente. Por mais de uma década, ela guardou para si o fim de tarde em que foi arrastada para debaixo de um viaduto e estuprada por um desconhecido.

Hoje, todos os dias ela pega carona com uma vizinha para percorrer os três quarteirões entre sua casa e seu carro. Seu filho, de dez anos, a acompanha a todo lugar.