FolhaPress/PCS
George Clooney, 59, já foi para o espaço algumas vezes na ficção. Os truques aprendidos em "Solaris" (2002) e "Gravidade" (2013) foram de grande utilidade durante as gravações de "O Céu da Meia-Noite", que ele dirigiu e protagonizou. O filme estreia na Netflix nesta quarta-feira (23).
Porém, nem tudo é espaço sideral no filme. Na trama, enquanto a tripulação da espaçonave Aether tenta voltar para a Terra, sem saber que o planeta que eles deixaram para trás não é mais habitável, o cientista Augustine (Clooney), um dos últimos sobreviventes, está isolado em uma base de pesquisa no Ártico. Ele enfrenta as adversidades do clima polar para tentar se comunicar com alguém.
"Gravamos dois filmes diferentes, se você quer saber a verdade", avaliou o ator e diretor em evento online com a imprensa, do qual o F5 participou. "Na primeira metade, eu não via o elenco, que estava treinando, aprendendo a trabalhar com cabos (usados para simular a gravidade zero no espaço), enquanto eu estava na Islândia. Depois que veio todo mundo. Foi como fazer 'O Regresso' [filme de 2015 que deu o Oscar a Leonardo DiCaprio] na primeira metade e filmar 'Gravidade' na segunda metade."
O cineasta contou por que decidiu voltar a tratar de ficção científica no novo trabalho. "Queríamos falar sobre o que o homem pode fazer com o homem e com a humanidade", explicou. "O filme fala sobre toda a raiva, o ódio e as coisas que têm acontecido nos Estados Unidos e em todo o mundo, e como, se você projetar isso nos próximos 30 anos, negando o clima e a ciência, não é inconcebível que acabemos explodindo a nós mesmos."
Terminadas as filmagens, ele disse que o que parecia distante acabou se tornando mais palpável. "A pandemia veio e ficou claro, a história é realmente sobre a nossa necessidade desesperada de estar perto das pessoas que amamos", comparou. "Como é difícil nos comunicarmos como estamos fazendo agora, na entrevista coletiva mais estranha possível [risos]."
As gravações, aliás, tiveram pelo menos um momento de tensão extra para o diretor. Ele conta que, três semanas após começar a filmar na Islândia, recebeu uma ligação de Felicity Jones, que interpreta Sully, a especialista em comunicações da espaçonave, avisando que tinha engravidado. O bebê nasceu em setembro deste ano.
Clooney disse que tentou fazer com que a barriga da atriz não aparecesse nas cenas, mas acabou optando por outra solução. "As melhores versões das coisas são quando você as aceita e você não as vê como problemas", disse. "Bem, as pessoas engravidam, acontece com todo mundo, sabe... E, de repente, 'adotamos' o Wilbur, que é o nome real do filho dela. A propósito, ele deveria receber um crédito na tela: 'Apresentando Wilbur'. Realmente se tornou um personagem para nós."
Felicity Jones, 37, confessa que estava bastante nervosa quando fez a ligação. "Inicialmente, fiquei muito preocupada em ser demitida", contou. "Foi um grande alívio quando George tomou essa decisão. Ele me fez sentir completamente confortável durante todo o tempo. Quando estávamos tentando fazer parecer que eu não estava grávida, tive que recusar um monte de bolo de chocolate [risos]."
A atriz, indicada ao Oscar por "A Teoria de Tudo" (2014), disse que não deixa de ser revolucionário mostrar uma mulher grávida no espaço. Mas, antes mesmo disso, já tinha se encantado pelo roteiro, baseado no livro homônimo de Lily Brooks-Dalton (que deve ter lançamento no Brasil em 2021 pela editora Morro Branco).
"O texto tem um nível micro e, ao mesmo tempo, trata questões realmente enormes", avaliou. "Fazemos perguntas existenciais sobre o significado da vida e o que estamos fazendo aqui, mas também é um drama de relacionamento muito íntimo. E tem sido extraordinário o quão relevante se tornou essa situação em que nos encontramos, agora parece que fizemos um documentário."
David Oyelowo, 44, que dá vida ao comandante Tom Adewole, também foi só elogios a Clooney. Ele disse ter se sentido seguro com a experiência que o diretor tinha nesse tipo de filmagem. "Basicamente, ele é para os filmes sobre o espaço o que o Robert DeNiro é para os filmes de gângster", brincou. "É melhor eu escutar o que ele diz."
"Se George Clooney liga para você, você apenas tem que ir, seja para uma partida de basquete ou pular de uma ponte", brincou Demián Bichir, 57, intérprete do tripulante Sanchez. "Nesta indústria, não é sempre que um mexicano vai viver um astronauta, então só isso já é ótimo. Mas também foi uma confirmação de que quando um peso-pesado é o responsável pelo projeto, ele se cerca dos melhores profissionais disponíveis."
Já Kyle Chandler, 55, que vive o piloto Mitchell, está repetindo a parceria com Clooney, que também o dirigiu na minissérie "Catch-22" (2019). "A experiência foi semelhante, exceto pela separação dos dois projetos, que são completamente diferentes em termos de atmosfera e espaço", garantiu.
Outra coisa que foi bastante providencial foi a perícia do diretor no uso de termos técnicos em cena. "George era muito bom em nos orientar sobre isso, ele sempre falava sobre sua experiência em 'ER' [série médica pela qual o ator se tornou famoso nos anos 1990] e todo aquele jargão que eles tinham que usar", revelou Oyelowo. "O truque é aprender os nomes o melhor que der e dizer o mais rápido possível."
Tiffany Boone, 33, que vive a engenheira Maya, só agradeceu por não ter que estar presente nas filmagens da Islândia. "Senti que tive muita sorte de não ter de me preocupar com o frio e a neve", riu. "Fiz tudo em um estúdio quentinho."
Porém, nem tudo foram flores durante o trabalho. Ela disse que não se deu muito bem quando começou a ensaiar com os cabos que a suspendiam no ar. "Quase desmaiei literalmente no primeiro dia de treinamento", contou.
A atriz participa de uma das sequências mais impressionantes do filme. Nela, sem entregar muito do que acontece, Boone tem que contracenar com gotas de sangue que estão se espalhando na gravidade zero. Só que o fluido não estava de fato na cena, que teve de ser filmada contando com a imaginação do elenco.
Clooney contou que o pedido para o pessoal dos efeitos especiais era de "um balé de sangue". "Todo mundo teve que lidar com essa sequência de forma cega, incluindo eu mesmo", disse o diretor. "Eu sabia o que queria, mas não sabia se daria certo."