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Esportes
12/02/2018 13:22:00
Bronze, patinador vence o preconceito e diz: "É importante se assumir"

Globo Esporte/LD

O choro ao fim da apresentação não esconde. Adam Rippon vive dias inesquecíveis e emocionantes em PyeongChang. Aos 28 anos, idade em que muitos patinadores já estão aposentados, ele finalmente atingiu seu objetivo de vida: competir em uma Olimpíada. Defendendo os EUA, Adam disputou a final por equipes do programa livre e conquistou a medalha de bronze, mas voltará para casa com muito mais do que isso. Levará na mala recordações inesquecíveis e o apoio de um país inteiro que abraçou o primeiro atleta americano e abertamente gay a disputar uma Olimpíada, fazendo disso uma plataforma para que os próximos não passem pelo mesmo preconceito que ele.

"É importante se assumir. Os próximos atletas que vierem não terão esse peso todo em suas costas. Serão chamados apenas de olímpicos e não de gays olímpicos".

Há seis anos, Adam tomou a decisão que não lhe levou a Sochi 2014, mas lhe deu a chance de conseguir agora a vaga em PyeongChang. Mudou-se para Los Angeles e morou dentro da academia do seu técnico, Rafael Arutunian. Sem dinheiro, se virava como podia.

"Eu roubava todas as maçãs possíveis porque não tinha dinheiro para comprar doces. Eu não tinha dinheiro. Eu morava em um porão e agora estou na Olimpíada".

Antes da disputa, Adam se meteu em uma confusão com o vice-presidente dos Estados Unidos. De acordo com o jornal "USA Today", ele teria se negado a participar de um encontro com o político, que seria o líder de uma fundação que faz terapia de reeducação sexual e tido como homofóbico. Pence tentou contornar a situação e pediu para se encontrar com Rippon e ele se negou. Para o patinador, o esporte é a saída para a igualdade em todos os aspectos.

"O que amo no esporte é que aqui sou julgado pelo que apresento, pela minha técnica e não por quem sou. Afinal de contas, sou um atleta como outro qualquer e todas as pessoas que passam por isso precisam saber que elas não devem nada para ninguém".

A performance de Adam foi transmitida ao vivo para todos os Estados Unidos. Por lá, ele tem inúmeros fãs, entre eles e ex-primeira dama e ex-secretária de Estado, Hilary Clinton, e da atriz de Hollywood Reese Whiterspoon.

"É inacreditável ter o apoio dessas pessoas, de todo um país. Meu Twitter está uma loucura (risos). Eu sou de uma cidade pequena, de onde as pessoas não acreditam que podem conseguir algo. Mas elas podem. Olhe isso, é possível realizar seus sonhos".

Início aos dez anos apenas

Adam nasceu em 1989, em Scranton, na Pensilvânia. Ele é o mais velho de seis irmãos e começou a patinar relativamente tarde, apenas aos dez anos. A mãe foi a responsável por o levar ao rink. Em 2009, no Mundial Júnior, foi campeão em Sofia, na Bulgária. Em 2015, em um artigo publicado na revista Skating, assumiu sua sexualidade e um ano depois foi campeão americano.

Apesar da carreira vitoriosa, ele nunca participou de uma Olimpíada. A chance em PyeongChang apareceu meio que como uma homenagem dos Estados Unidos a sua carreira. Ele ficou em quarto lugar nos trials e mesmo assim foi convocado. Após a primeira experiência no gelo de PyeongChang, ele celebrou a vida e a oportunidade.

  • Eu esperei 28 anos por isso. Antes de colocar os patins eu me sentia como se tivesse esquecido todos os elementos da minha apresentação, mas disse para mim mesmo: "Você treinou duro para isso, vai lá, apresente cada elemento, um de cada vez".