VERSÃO DE IMPRESSÃO
Esportes
13/11/2017 15:29:00
Em tribunal nos EUA, defesa de Marin diz que era Del Nero quem mandava

Globo Esporte/LD

No primeiro pronunciamento direcionado aos jurados do "Caso Fifa" no Tribunal Federal do Brooklyn, a defesa de José Maria Marin comparou o ex-presidente da CBF a uma "criança que só completa o time, sem no entanto jogar de verdade". E afirmou que quem tomava as decisões no futebol brasileiro – mesmo no período em que Marin era o presidente da CBF – era Marco Polo Del Nero.

Charles Stillman, o advogado americano que lidera a defesa de Marin, iniciou sua apresentação aos 18 jurados com uma analogia.

– Vocês já viram crianças jogando futebol? Lá estão um bando de crianças tentando fazer gols e tentando se defender. Mas sempre tem algumas que não fazem realmente parte daquilo, que estavam fora, e só foram chamadas para completar o jogo. Quero que vocês lembrem disso.

Em seguida, Stillman explicou o contexto em que Marin foi eleito presidente da CBF. Em março de 2012, quando Ricardo Teixeira renunciou, Marin era o vice-presidente mais velho da entidade, e por isso assumiu uma espécie de "mandato-tampão", que terminaria em abril de 2015.

– Marin sempre foi visto como um interino. Todos esperavam que Marco Polo Del Nero fosse o presidente após a saída de Ricardo Teixeira, mas ele ainda não pôde assumir em 2012. Então, embora Marin tivesse o papel de presidente, ele não estava no Comitê Executivo da Fifa, nem no Comitê Executivo da Conmebol. Essas posições eram ocupadas por Del Nero – emendou Stillman.

O advogado prosseguiu:

– Marin sempre estava com Del Nero. Era sempre Del Nero quem tomava as decisões. Marin estava fora, estava à margem. Por isso peço que vocês voltem até a analogia que fiz: Marin era alguém que só completava o time. Peço que vocês realmente tenham isso em mente: Marin era só um interino.

José Maria Marin foi presidente da CBF entre março de 2012 e abril de 2015, quando foi sucedido por Del Nero. Os dois são acusados dos mesmos crimes pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos: receber propina para beneficiar empresas de marketing esportivo. Mas só Marin está sendo julgado. Del Nero está no Brasil, país que não extradita seus cidadãos.

O advogado de Del Nero, Jose Roberto Batochio, afirmou que todos os contratos assinados pela CBF no periodo investigado nao foram assinados por Del Nero.

Além de afirmar que as decisões no futebol brasileiro eram tomadas por Del Nero, o advogado de Marin tratou de desqualificar o depoimento das pessoas que fizeram acordos de colaboração com as autoridades americanas. Vários deles devem depor nos próximos dias.

– Eu não estou aqui para dizer que não há corrupção no futebol mundial. Mas não é o futebol mundial que está sendo julgado aqui. É José Maria Marin. E ele é inocente. Vocês vão ouvir aqui várias pessoas com problemas de conduta. Pessoas que secretamente gravaram conversas para tentar uma pena mais leve.

Os advogados dos outros dois réus – o peruano Manuel Burga e o paraguaio Juan Angel Napout – também fizeram explanações nas quais reafirmaram a inocência de sues clientes e críticas aos delatores que serão chamados para depor.

Na abertura da sessão de julgmento desta segunda-feira, o promotor Keith Edeman explicou aos jurados como funciona a organização do futebol mundial, com analogias ao futebol americano – todos os jurados são cidadãos americanos e moradores do Brooklyn, em Nova York, onde fica o tribunal.

– Esses três senhores – disse Edelman, e apontou o dedo e mencionou o nome de cada um dos três jurados – usaram suas posições de poder no futebol para enriquecer e desviar dinheiro. Na América do Sul, o futebol é muito mais do que apenas um esporte. Mas eles usaram o poder que tinham não para desenvolver o esporte, mas para receber dinheiro em contas secretas.

O julgamento continua nesta segunda-feira e deve durar pelo menos mais seis semanas.