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19/05/2023 15:21:00
DNA de outro homem foi encontrado na casa onde criança foi morta, alega defesa

CGNews/LD

A segunda tarde de audiências de instrução do processo que vai julgar mãe e padrasto pelo assassinato de menina de 2 anos começou com revelação por parte da defesa de Christian Campoçano Leitheim, de 25 anos. Os advogados, contratados pelo acusado de estuprar e espancar a criança até a morte, afirmam que laudos apontaram que o material genético encontrado no corpo não é compatível com o do cliente, informação que será usada para derrubar a acusação de violência sexual.

Ainda de acordo com os advogados os exames feitos no cadáver da menina não deixam claro que ela foi estuprada. Outra informação que a defesa do padrasto trouxe à tona é que DNA de outro homem estava em colcha encontrada na casa da família e periciada.

O advogado Pablo Gusmão diz ser “importante frisar” que, em nenhum momento, o cliente admitiu ter cometido abuso sexual contra a enteada. “A defesa não vai mais ficar calada”.

Em entrevista antes de entrar no plenário do Tribunal do Júri para o início das audiências, ele deu detalhes sobre os laudos que supostamente isentam Christian do crime de estupro. “Desde o dia 3 de março existem um laudo comparativo e o laudo complementar necroscópico. Tanto em um quanto em outro, o material genético colhido da criança comparado com o material genético colhido do Christian deu negativo. Então, não tem material genético do Christian na menina”.

Gusmão ressalta que a defesa também foi surpreendida com a informação de que outro homem teria deixado o DNA na casa do casal réu por assassinato. “Em outro cômodo do imóvel, tinha uma manta/colcha que foi periciada e tinha material genético nela. Para a nossa surpresa, esse material genético é de outro homem. Então a pergunta que fica é: quem estuprou a menina?”.

Willer Almeida, que também defende Christian, afirma que os exames sequer são capazes de comprovar que a criança foi violentada sexualmente. “Os laudos não falam de forma clara que houve um estupro. Há uma laceração anormal”.

Os advogados concluem a entrevista dizendo que o cliente admite ter batido da enteada, mas que não tinha a intenção de matar. “Ele confirma a agressão. Foi corrigir a menina. Diferente de um homicídio, de ter agredido para alcançar o resultado morte”, afirmou Almeida.

Christian está no Fórum de Campo Grande, mas pediu para acompanhar os depoimentos do lado de fora. A mãe da menina, Stephanie de Jesus da Silva, 24 anos, chegou a entrar no plenário, escondendo as algemas com uma blusa, mas pediu para se retirar.

Nesta tarde, serão inquiridas testemunhas de acusação, de defesa e se houver tempo, os réus serão interrogados em juízo.

Stephanie, que até a quarta-feira passada, dia 17, era representada pela Defensoria Pública, contratou três advogados.

O pai biológico da menina Jean Carlos Ocampo da Rosa, acompanham todos os depoimentos e os trabalhos são presididos pelo juiz Carlos Alberto Garcete, da 1ª Vara do Tribunal do Júri.

Frente a frente –Stephanie, presa desde 26 de janeiro, ficou frente a frente, pela primeira vez desde a morte da criança, com familiares e outras testemunhas no dia 17 de abril. Como da primeira vez, nesta sexta-feira (19), a jovem deixou presídio do interior escoltada e entrou no Fórum por acesso restrito.

Christian também foi levado para o Fórum, mas, como no dia 17, não chegou a encarar as testemunhas convocadas pela acusação. Está sentado para ouvir tudo em sala reservada, atrás da parede onde o juiz se posiciona.

O crime –No dia 26 de janeiro deste ano, a menina de 2 anos e 7 meses deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, no norte de Campo Grande, já sem vida. Inicialmente, a mãe, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica apontou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes de chegar ao local.

O atestado de óbito apontou que a menininha sofreu lesão na coluna cervical. Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que também sofria violência sexual.

O padrasto responde pelo homicídio com as três qualificadoras e pelo estupro, já a mãe da menina pelo homicídio, como o Christian, mesmo que não tenha agredido a filha, mas porque no entendimento do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), responsável pela acusação, ela se omitiu pelo dever de cuidar.

A morte jogou luz sob processo lento e longo que a menina protagonizou com idas frequentes à unidade de saúde – mais de 30 em 2 anos –, tentativa do pai em obter a guarda após suspeita de que a criança era vítima de agressão e provocou série de audiências públicas, protestos e mobilização para criação da Casa da Criança, bem como soluções ao falho sistema de proteção à criança e ao adolescente em todo o Brasil.