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11/10/2018 12:00:50
Marconi Perillo passa 1ª noite preso na sede da Polícia Federal, em Goiânia

G1/LD

O ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), preso preventivamente enquanto prestava depoimento no âmbito da Operação Cash Delivery, que apura pagamento de R$ 12 milhões de propina pela Odebrecht para campanhas políticas, passou a primeira noite na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Goiânia. Segundo o advogado dele, Antônio Carlos Almeida, conhecido como Kakay, Perillo dormiu em “sala”, e não em “cela”.

No depoimento de Marconi à polícia, obtido pela TV Anhanguera, ele respondeu a 51 perguntas, disse que todas as doações às campanhas políticas das quais participou foram legais. Também afirmou que não tinha nenhum tipo de relação com executivos da Odebrecht. A defesa afirma que pediu o cancelamento da audiência de custódia, por conta da falta de perspectiva de que a Justiça concedesse liberdade ao ex-governador durante a sessão.

“Evidentemente, o juiz que tivesse dado a prisão preventiva, do meu ponto de vista ilegal, desfundamentada e injusta, ele não ia soltar o Marconi na audiência de custódia, então nós fizemos isso para preservar a imagem dele. Evidentemente ele concordou com isto, a delegada concordou, nós fizemos um pedido, o juiz deferiu”.

“Ele hoje está em uma sala que prepararam para ele, e não uma cela. Uma sala que dá um pingo de dignidade, tendo em vista que ele foi governador do estado por quatro vezes”, disse o advogado ao G1.

O advogado disse ao G1 que está em Brasília e que não há informações ainda sobre o pedido de habeas corpus feito pela defesa, no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1). O defensor disse ainda que vai ao tribunal tentar fazer despachos sobre o caso. Kakay disse que não tem informações sobre como foi a primeira noite de Marconi na Polícia Federal.

A assessoria de imprensa da Polícia Federal confirmou, em nota, que Perillo passou a noite em uma sala, pois há outros presos recolhidos na carceragem da unidade, como suspeitos de explosões de banco e, em "razão da indisponibilidade momentânea de cela, ele está separado dos demais e nas condições previstas na legislação".

No local, a assessoria complementou que nenhum dos demais detidos informou ter concluído curso superior. Assim, por ter curso superior e não haver uma cela vazia, o ex-governador passou a noite em uma sala do prédio.

Em nota enviada ao G1 nesta quinta-feira (11), a Odebrecht informou que "continua colaborando com a Justiça e reafirma o seu compromisso de atuar com ética, integridade e transparência".

O G1 entrou em contato às 5h30 desta quinta-feira (11), por e-mail e telefone, com a assessoria de imprensa da Justiça Federal para obter informações sobre o cancelamento da audiência de custódia informado pela defesa e aguarda um posicionamento das instituições.

Conforme apurou a TV Anhanguera, o café da manhã chegou à sede da polícia às 7h05. Porém não há informações se apenas para Marconi Perillo ou para mais pessoas. O lanche era composto de pão, leite e café.

Marconi Perillo (PSDB) foi preso nesta quarta-feira (10) enquanto prestava depoimento à Polícia Federal, em Goiânia. O ex-governador tinha depoimento marcado para as 15h, mas teria chegado duas horas mais cedo e entrado pelos fundos para evitar os jornalistas.

Segundo a defesa de Perillo, ele "recebeu o decreto de prisão quando estava iniciando o seu depoimento [...] e optou por manter o depoimento por ser o principal interessado no esclarecimento dos fatos".

O advogado do tucano disse que "não há absolutamente nenhum fato novo que justifique o decreto do ex-governador Marconi Perillo" (Veja posicionamento dele na íntegra ao fim da reportagem).

Kakay afirmou ainda que vai entrar com um pedido de “desentranhamento” de uma petição feita pelo procurador da República Hélio Telho dentro do processo de habeas corpus. “Ele está se manifestando como se fosse parte envolvida. Isso é inconstitucional e vamos pedir o desentranhamento dessa petição”, afirmou.

No entanto, conforme informou o procurador à TV Anhanguera, Hélio Telho afirma ser parte envolvida enquanto representante do MPF-GO.

O prédio da Polícia Federal está fechado nesta quinta-feira (11) para atendimento público. Segundo divulgado no site da corporação, o motivo é uma dedetização. De acordo com apuração da TV Anhanguera, pessoas que procuraram a unidade foram dispensadas.

‘Pacto de silêncio’

Cinco pessoas foram presas quando a Operação Cash Delivery foi deflagrada, no dia 28 de setembro, e cumpriu mandados em endereços ligados a Marconi Perillo. Foram presos Jayme Rincón, o filho dele, Rodrigo Godoi Rincón, Márcio Garcia de Moura – policial militar e motorista de Rincón –, o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior e o advogado Pablo Rogério de Oliveira. Agora, apenas Perillo está preso, conforme defesa do ex-governador.

O Ministério Público Federal (MPF-GO), ao pedir a prisão do ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), comparou a organização criminosa da qual ele seria o líder com a máfia, citou a existência de “pacto de silêncio” entre os membros e afirmou que o político ainda é muito influente no estado.

Justificando o pedido de prisão de Marconi, o MPF afirmou que o grupo que ele lideraria se assemelha a “organizações criminosas do tipo mafioso, que buscam preservar a sua existência através da Omertá, ou Pacto do Silêncio”. O órgão se refere ao silêncio em depoimento à PF do policial militar Márcio Garcia de Moura, motorista de Jayme Rincon – ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), ex-diretor financeiro da campanha de Perillo em 2010 e apontado como braço direito do tucano.

Foram apreendidos R$ 80 mil na casa de Jayme Rincón. Outros R$ 940.260, na casa do motorista dele. O PM Márcio Garcia de Moura e o ex-governador são os únicos que continuam presos pela operação. O militar, o empresário, o advogado e Rodrigo sempre negaram ter cometido crime. Conforme apurou a TV Anhanguera, Márcio Garcia obteve um habeas corpus na quarta-feira e foi solto nesta quinta-feira.

Jayme Rincón, que é ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) e foi coordenador financeiro de campanha eleitoral em 2010, disse em depoimento à PF que “recursos” para campanhas eleitorais de candidatos aliados foram entregues pela Odebrecht a seus motoristas no apartamento que tem em São Paulo.

Na ocasião ele também disse que esses valores eram “destinados, em sua maioria, para campanhas de candidatos aliados” e que “parte dos valores era oficializado com ajuda de empresas parceiras” – o que pode configurar lavagem de dinheiro, de acordo com a PF. Jayme disse ainda que “todo o montante destino à campanha de Marconi Perilllo foi legalizado”.

Segundo o MPF, mesmo Moura não sendo “o dono do dinheiro e sim o encarregado de escondê-lo”, o policial “preferiu manter-se em silêncio, a apresentar versão que explicasse ou justificasse a origem [...], ou mesmo buscasse obter benefícios legais previstos para o investigado colaborador”. O documento afirma que o policial de manteve em silencia em depoimento à PF “seguindo as instruções do advogado que lhe fora contratado sem que ele sequer tivesse conhecimento”.

O G1 não localizou a defesa de Moura para pedir um novo posicionamento a respeito do caso.

Também de acordo com o MPF, mesmo não ocupando nenhum cargo público atualmente, Marconi segue com considerável influência no governo. O órgão cita que o ex-governador estaria articulando para, caso não conseguisse uma cadeira no Senado nessas eleições – o que de fato não ocorreu, fosse indicado para o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas da União (TCU), como o cunhado dele.

O órgão diz ainda que considera a prisão preventiva dele indispensável para cessar os atos criminosos da organização investigada: “necessidade urgente da prisão do próprio chefe maior, que só não foi requerida antes em razão da imunidade temporária à prisão lhe conferida pela lei eleitoral aos candidatos às eleições de 2018”.

Ao conceder o pedido de prisão, o juiz afirmou que a apreensão de quantias em dinheiro não declaradas nas casas de Rincón e Moura no último dia 28, quando foi deflagrada a Operação Cash Delivery, são evidência de que a organização investigada continua agindo.

O magistrado disse ainda que há indícios de que a o grupo não recebia doações ilícitas somente da Odebrecht. “Referida estrutura reforça os elementos colhidos até então, demonstrando que Marconi Perillo utilizou-se de sofisticada estrutura para lavagem de dinheiro, ocultando a propina recebida por meio de ‘empresas parceiras’”.

O documento informa ainda que diante do que foi apresentado pelo MPF, “não restando outra medida a ser adotada que não a prisão preventiva de seu principal integrante, de modo a desarticular a organização criminosa”.

Perillo na política

Marconi começou a carreira política em 1990, quando foi eleito deputado estadual em Goiás. Quatro anos depois ele se candidatou a deputado federal pelo estado e foi eleito. Já em 1998 o tucano concorreu e ganhou o pleito para governador do estado, derrotando o atual prefeito de Goiânia Iris Rezende (MDB).

O político governou o estado por oito anos consecutivos, já que foi reeleito em 2002 e foi o chefe do executivo de Goiás até 2006. No mesmo ano, ele renunciou ao cargo e se candidatou a senador pelo estado e, neste mandato, chegou a ser vice-presidente da Casa.

Já em 2010, Perillo voltou a governar Goiás e foi reeleito em 2014, mesmo tendo sido citado na Operação Monte Carlo, em 2011, por ligações com o bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. No mês de abril de 2018 o político renunciou ao cargo para concorrer novamente a uma cadeira no Senado. Desta vez, apesar de ter iniciado a disputa em 1º lugar nas pesquisas, ele terminou o pleito em 5º lugar e não foi eleito, após a Operação Cash Delivery.

Investigação

Escutas da Polícia Federal presentes no inquérito que culminou na Operação Cash Delivery, obtidos pela TV anhanguera, mostram um diálogo que, segundo a corporação, revela a entrega de R$ 1,2 milhão em propina da Odebrecht para campanhas de Perillo em 2010 e 2014.

Outro documento, também obtido pela TV Anhanguera, mostra que o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior, preso na mesma operação, confirmou à Polícia Federal que prestou serviços a uma empresa onde, segundo as investigações, foram entregues R$ 1,8 milhão da Odebrecht. Na ocasião, ele também disse nunca ter recebido nenhuma quantia ilícita da empreiteira.

No inquérito consta que Marconi, ao solicitar os valores para suas campanhas, se mostrava favorável às demandas da Odebrecht em Goiás, como, por exemplo, na construção do VLT, que não saiu do papel, além de obras de esgoto no Entorno do Distrito Federal.

Suposto esquema

Na denúncia feita pela Polícia Federal quando a operação foi deflagrada, Marconi Perillo é citado como líder do esquema. Jayme Rincón é apontado como braço-direito do ex-governador, responsável pela entrega do dinheiro solicitado pelo político. O filho de Jayme, Rodrigo Rincón, teria colaborado diretamente com o recebimento do dinheiro, tendo sido beneficiário de parte dos pagamentos.

Além disso, os policiais militares Sergio Rodrigues de Souza (falecido) e Márcio Garcia de Moura teriam transportado o dinheiro conforme pedidos de Marconi, assim como Pablo Rogério de Oliveira e Carlos Alberto Pacheco Junior.

Nota da defesa do ex-governador

Marconi Perillo acaba de prestar longo depoimento enfrentando absolutamente todos os pontos que a Polícia Federal indagou. Ele estava na sede da PF para prestar depoimento quando foi surpreendido com o decreto de prisão. Nenhum fato novo surgiu que justificasse esta prisão. A Policia Federal agiu com serenidade e profissionalismo e os direitos do Marconi foram preservados. Ele se encontra na sede da Polícia Federal.Mesmo considerando injusta a prisão, ele resolveu prosseguir no depoimento pois tem certeza de que não praticou nenhum ato ilícito. Entende a defesa tecnica que tudo foi satisfatoriamente esclarecido. É evidente que toda e qualquer pessoa pode ser investigada, ninguém esta acima da lei, mas a prisão por fatos pretensamente ocorridos em 2010 e 2014 é teratológica, não encontra amparo na jurisprudência do Supremo Tribunal. Vivemos um momento punitivo e de criminalização da atividade política. Esta tensão desnecessária não faz bem para a estabilidade democrática. A Defesa acredita que, assim como o TRF ja concedeu liberdade a outros investigados, afastando o equivocado argumento de necessidade de prisão nesse momento, a defesa acredita na altivez e independência do tribunal, para que a Justiça seja resgatada. Kakay.