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A pandemia divulgada em fevereiro de 2020 causou efeitos violentos na saúde mental de grande parte da população brasileira, que já é a mais ansiosa de todo o mundo.
O aumento do consumo de bebidas alcoólicas e cigarro, redução de tempo de lazer, aumento do sedentarismo e maiores conflitos em relacionamentos familiares são apenas alguns dos comportamentos amplamente notados durante o ano de 2020 e replicados durante o primeiro semestre de 2021.
Marilisa Barros, professora de Epidemiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp), apontou, no evento “Depressão, saúde mental e pandemia”, do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, promovido pelo Instituto do Legislativo Paulista da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ILP-Alesp) e pela FAPESP, que os números confirmam o quanto a pandemia impactou negativamente o comportamento e a saúde mental das pessoas:
34% dos fumantes aumentaram o número de cigarros consumidos por dia;
17,6% das pessoas aumentaram o consumo de álcool.
O percentual das pessoas que realizavam atividades físicas semanais caiu de 30,4% para 12,6%,
O tempo diário de televisão aumentou em 1 hora e 45 minutos e o tempo computador e tablet também aumentou cerca de 1 hora e 30 minutos.
Os dados são da pesquisa “ConVid Comportamentos”, realizada pela internet, com mais de 45.000 pessoas de todo o Brasil, entre 24 de abril e 24 de maio de 2021, desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e coordenada por Barros na Unicamp.
Um dos participantes do evento, Guilherme Polanczyk, professor de Psiquiatria da Infância e Adolescência da FM-USP, falou sobre a saúde mental de crianças e adolescentes durante pandemia de COVID-19: “A pobreza é o fator de risco mais consistente para transtornos mentais. E o Brasil tem 20 milhões de crianças, entre 0 e 14 anos, vivendo na pobreza”.
Importa dizer que, no Brasil, há aproximadamente 10,3 milhões de pessoas menores de 19 anos, com depressão.
Polanczyk destacou, durante o evento, que algumas condições pioram e agravam os sintomas da depressão: “confinamento; exposição ao estresse vivido pelos pais; conflitos familiares e violência; insegurança alimentar e em relação à moradia; medo da infecção e preocupação com familiares; afastamento da rede de amigos e apoio social; sentimento de solidão, incerteza e insegurança; afastamento da escola e interrupção do aprendizado; falta de acesso a serviços de saúde e sociais; inatividade física; alterações de hábito de sono e alimentação; exposição sem monitoramento à internet; escassez de atividades de lazer”.
Segundo o pesquisador, é essencial que a família procure garantir atendimento psicoterápico de crianças e adolescentes com sintomas ansiosos e depressivos em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), caso não tenha condições de contar com o atendimento de um psicólogo ou psiquiatra particular ou que atenda através de algum plano de Saúde.
Além dos dados da pesquisa e do estudo divulgado através do evento, ainda há outras informações que devem ser levadas em conta quando o assunto é o quanto a pandemia de Covid-19 pode gerar impactos futuros na sociedade, por causa de doenças e transtornos mentais.
Antes mesmo de a pandemia ter início, a cidade de São Paulo já contava com um dos índices de transtornos psiquiátricos mais altos do mundo, afetando cerca de 20% da população.
É impossível prever a que nível esse índice pode chegar até o final da pandemia e as consequências, infelizmente, não cessam quando ocorre a aplicação da vacina.
Pesquisas atuais apontam que a venda de antidepressivos cresceu 17% durante o primeiro ano da pandemia, em comparação ao ano anterior.
Segundo o Conselho Federal de Farmácias, foram quase 100 milhões de caixas de Alprazolam, Sertralina, Citalopram, Escitalopram, Fluoxetina, Fluvoxamina, Venlafaxina, Duloxetina, Paroxetina e tantos outros remédios que visam diminuir ou controlar os sintomas de depressão, ansiedade, pânico, insônia e burnout.
O Amazonas e o Ceará, que viveram violentas crises de saúde pública, lideraram o consumo desse tipo de medicamento durante pandemia, com um crescimento de 29% no consumo de psicotrópicos.
Uma matéria publicada pelo jornal Estado de Minas divulgou que entre abril e maio de 2020, quando grande parte dos Estados ampliaram as medidas restritivas de isolamento social devido à pandemia, a palavra insônia foi a mais procurada no Google e a por “remédio para insônia” cresceu 130% no quinto mês do ano.
Dados como esses mostram o quanto as pessoas estão em busca de solucionar as angústias e sensações negativas trazidas pela pandemia e, grande parte da sociedade, não imagina que exista uma forma de fazer isso sem medicamentos, pois está desolada e desacreditada de mudanças que envolvam qualidade de vida, saúde e segurança, tanto para si quanto para as pessoas amadas e próximas.
O acompanhamento dessas questões ainda trará muito debate e possivelmente, muitas preocupações, porém, é importante que fique o alerta de que existem alternativas além das drogarias e que existem bons profissionais de saúde capazes de orientar a todos que precisarem de ajuda.