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Polícia
29/09/2025 14:10:00
Juliano Ferro terá que explicar porque usou casa e camionete em nome de réu por tráfico
Prefeito de Ivinhema tentou 'assustar' policiais disfarçados antes de operação da PF contra narcotráfico; ele é réu por falsidade ideológica e ocultação de bens

MMN/PCS

O prefeito de Ivinhema, Juliano Ferro Barros Donato, 42, que também atua como influencer autoproclamado o ‘mais louco do Brasil’, terá que explicar à Justiça por que mora em casa e rodava pela cidade em carros de luxo que pertenciam a acusado por narcotráfico, preso em operação da Polícia Federal.

A Justiça agendou para o dia 9 de outubro audiência que deve contar com a participação de Juliano Ferro. Ele é réu na ação penal eleitoral de número 0600530-89.2024.6.12.0027, que investiga supostos crimes de falsidade ideológica eleitoral e ocultação de bens.

Juliano Ferro acabou citado nas investigações de narcotráfico e chegou a tentar ‘assustar’ policiais federais que atuavam disfarçados em Ivinhema. Pagando de ‘xerife’ da cidade, papel que adora ostentar nas redes sociais e usa para intimidar adversários, o prefeito tiktoker se deu mal após a bravata para cima dos federais.

Assim, acabou réu porque não declarou bens que seriam dele, mas que estão em nome de traficante. O caso pode resultar em pena de até cinco anos de prisão para o político. Em depoimento à PF, o prefeito sustentou ter declarado a casa em questão, avaliada, segundo ele, em R$ 750 mil.

No entanto, deixou de revelar à Justiça Eleitoral que era dono de duas caminhonetes (Silverado e Dodge Ram) e que já havia negociado uma delas. Somente a Silverado importada custaria mais de meio milhão.

Juliano Ferro alega que comprou o veículo de luxo no ‘fiado” e diz que resta pagar uns R$ 400 mil do veículo. No relatório policial, a explicação soa como indício de ocultação de bens ou lavagem de dinheiro.

‘Pagando de xerife’: prefeito abordou agentes federais disfarçados em Ivinhema

Juliano é um prefeito influencer, com cerca de um 1 milhão de seguidores. Nos perfis, ele já ganhou dinheiro com ‘rifas’ vendidas entre os seguidores e posta vídeos pensados para vender a imagem de ‘sincerão’, ‘destemido’, e ‘sensível’.

Quase sempre os mesmos perfis, entre servidores da prefeitura, fornecedores, amigos e cabos eleitorais comentam com mensagens de apoio. Ivinhema tem menos de 30 mil habitantes.

Nas postagens, relata a rotina de prefeito, comemora obras, ameaça adversários imaginários, manda recados a supostos adversários reais, quase sempre sem citar nomes, e faz dancinhas de calça justa e chapéu.

Numa dessas, por pouco, ele não ‘melou’ a Lepidosiren, operação da Polícia Federal, em agosto do ano passado, que pôs na cadeia o proprietário da casa e da caminhonete que foi preso por supostas ligações com o tráfico de drogas. Veja mais detalhes sobre esse episódio mais abaixo.

Segundo relatório policial ao qual a reportagem teve acesso, o prefeito daria a entender que na cidade que administra pela segunda vez ele chefia uma rede de espionagem que contaria com a ajuda de servidores públicos, incluindo policiais.

Os indícios vão desde abordagens e perseguições a pessoas ‘estranhas’ quando circulam em Ivinhema até rastros digitais de consultas a cadastros públicos da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) por servidores da segurança pública ou do Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul) levantando dados sobre placas de veículos ou pessoas supostamente por ordem do prefeito.

Agentes da PF pedem investigação contra autoridades que alimentam Ferro de informações (Reprodução)

O clima de ‘cidade vigiada’ e a atitude atraiu a atenção de investigadores. “Pessoas vinculadas a esquemas criminosos se preocupam o tempo todo com sua segurança”, diz trecho de relatório da Polícia Federal ao qual o Jornal Midiamax teve acesso.

Juliano foi mantido réu nesta ação por não ter declarado parte de seus bens na hora de registrar a candidatura pela reeleição, em outubro do ano passado. Advogado que ampara a defesa do prefeito, João Vitor Comiran, mandou ao Jornal Midiamax um comunicado acerca do caso (publicação pode ser vista nesta página).

Réu por ocultação de bens

Foi o juiz da 27ª Zona Eleitoral de Ivinhema Rodrigo Barbosa Sanches quem marcou para o dia 9 de outubro, daqui menos de duas semanas, audiência de instrução acerca do processo que investiga Juliano.

A casa e a caminhonete em poder do prefeito, no documento, teria como dono, Luiz Carlos Honório, 66, que foi capturado em agosto do ano passado, depois solto por meio de liminar. Hoje, vive monitorado por tornozeleira eletrônica.

Então, Juliano Ferro é investigado pelo suposto crime eleitoral. Já o processo acerca da apreensão de droga corre em segredo judicial.

Honório mora em Ivinhema. Ele diz ser comerciante, dono de empresa do ramo de móveis, mas já atuou como dono de transportadora, e vendedor de imóveis e carros, além de garagista – vendedor de carros.

A casa e a caminhonete, uma Silverado, foram bloqueadas judicialmente, por pertencer ao suposto integrante de grupo ligado ao narcotráfico.

Juliano Ferro em postagem recente no Instagram (Reprodução, redes sociais)