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Meio Ambiente
06/05/2019 12:31:00
De 500 mil a 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, diz relatório
'É uma evidência agora irrefutável da queda de biodiversidade do planeta', diz um dos coordenadores de levantamento divulgado pela Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos

Terra/PCS

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Com base em cerca de 15 mil artigos científicos, a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) divulgou que de 500 mil a 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção no planeta. O levantamento integra o Relatório de Avaliação Global do IPBES sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, que será lançado nesta segunda-feira, 6, em Paris.

"É uma evidência agora irrefutável da queda de biodiversidade do planeta", diz Eduardo Brondizio, um dos coordenadores do relatório e professor de Antropologia da Universidade de Indiana. "A nível global, nossos impactos se acumulam em escala sem precedentes."

O relatório foi elaborado por 145 especialistas de 50 países, além de contar com outros 310 colaboradores. "Pela primeira vez, a gente tem uma fotografia do processo de mudança ambiental do planeta", diz. "Estão descobrindo que o planeta é pequeno, mas ainda tratando o planeta como de recursos infinitos."

Segundo Brondizio, o impacto na biodiversidade se deve a quatro fatores principais: uso da terra e do mar, mudanças climáticas, poluição e espécies invasoras. "Conseguimos dessa maneira assegurar base sólida de evidências, que confirmam algumas prerrogativas.".

O relatório também destaca que as áreas manejadas, ocupadas ou de propriedade de povos indígenas são as que apresentam a menor perda de biodiversidade. "São regiões em que encontramos 35% das áreas mais preservadas do planeta", diz. "Ainda se tem a ideia que são populações pequenas, que não têm diferença na economia e na conservação geral. Mas é o contrário: têm salvaguardado grande parte da natureza para população."

Ele cita como exemplo o caso de alguns povos amazônicos. "As populações indígenas mostram habilidades para conservar a floresta, enquanto tudo ao redor se transforma em monocultura ou pastagem. Mas isso tem limite: estão se formando ilhas de diversidade, e isso não é sustentável", aponta. "Mesmo bem sucedidos em conservar seus territórios, estão pressionados."

"O que a nossa análise mostra, tanto do passado quanto dos possíveis cenários, é que nós precisamos de mudanças significadas em programas de governo", ressalta. "Esse declínio da natureza está exarcebado."

O professor aponta que esse cenário é intenso em regiões diversas, mas que a população mais pobre está vulnerável. Ele cita, por exemplo, Manaus e Belém. "Inundações têm virado quase rotina, com impacto na saúde, na saúde emocional, na economia."

Para Brondizio, o primeiro passo para mudar essa situação é agir em "nível local", como no manejo de bacias hidrográficas, no desenvolvimento do saneamento básico e na limitação da emissão de poluentes. "Tratando desses problemas, se trata de problemas imediatamente importantes para essas pessoas."

Ele aponta como exemplo positivo o manejo dos lagos e rios na Amazônica, que é feito de maneira colaborativo para pesca do pirarucu. "Os locais e agências nacionais, como o Ibama e o ICMBio, coordenam a distribuição de cotas de pesca entra centenas de comunidades", comenta. "Não adiante desenvolver uma governança sustentável no meu lado, se o peixe vai de um lado para outro."

Outro aspecto positivo é o aumento de certificações de pesca e florestais, assim como da produção de alimentos orgânicos a criação de áreas protegidas. "É um avanço bastante importante, mas que tem se mostrado não suficiente."

Principais dados retirados do relatório do IPBES:

  • Cerca de 25% das emissões de gases de efeito estufa são causadas pelo desmatamento, produção agrícola e fertilização;

  • Cerca de 30% da produção agrícola global e suprimento global de alimentos são fornecidos por pequenas propriedades, usando 25% das terras agrícolas;

  • Estima-se que quase um terço da área florestal global tenha sido perdido em comparação com os níveis pré-industriais;

  • Mais de 55% da área oceânica é coberta por pesca industrial;

  • Há uma redução projetada de 3 a 25% na biomassa de peixes até o final do século;

  • Aumento de 100% desde 1980 nas emissões de gases de efeito estufa, elevando a temperatura média global em pelo menos 0,7ºC;

  • Houve um aumento de 10 vezes na poluição por plásticos desde 1980;

  • A taxa atual de extinção de espécies globais é de dezenas a centenas de vezes maior do que a média dos últimos 10 milhões de anos, e essa taxa está crescendo;

  • Cerca de 40% das espécies de anfíbios ameaçadas de extinção, juntamente com 33% de corais formadores de corais, tubarões e 33% de mamíferos marinhos estão ameaçados de extinção.

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