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11/03/2019 16:30:00
Abdelaziz Bouteflika desiste de concorrer ao 5º mandato presidencial na Argélia

G1/LD

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O presidente argelino Abdelaziz Bouteflika, que enfrenta há duas semanas protestos inéditos em 20 anos de poder, anunciou nesta segunda-feira (11) que desistiu de disputar um quinto mandato e que a eleição presidencial prevista para 18 de abril será adiada.

Em uma mensagem à nação, publicada pela agência oficial APS, ele afirmou que a eleição presidencial será realizada no final de uma conferência nacional encarregada de reformar o sistema político e preparar um projeto de Constituição até o final de 2019.

Bouteflika retornou neste domingo a seu país, após duas semanas de internação na Suíça, onde se submeteu a exames médicos de rotina, segundo comunicado da presidência argelina.

Debilitado desde 2013 por causa de um AVC, o presidente de 82 anos enfrentava desde o mês passado em toda a Argélia protestos de milhares de manifestantes que se opunham à sua eventual reeleição para um quinto mandato em 18 de abril, algo sem precedentes desde a sua primeira eleição como chefe de Estado, em 1999.

Como explica a colunista do G1 Sandra Cohen, o presidente é comparado a um monarca, apesar do mérito de ter encerrado a guerra civil em 2005. As decisões de governo cabem a um grupo, conhecido como Le Pouvoir (o poder), concentrado em generais, políticos e empresários. Said, irmão mais novo de Bouteflika, comanda a coalizão.

Quando os protestos se intensificaram, há duas semanas, Bouteflika então propôs largar o cargo, mas somente um ano após as eleições marcadas para o próximo mês. As manifestações continuaram.

Nesta segunda, a pressão sobre ele aumentou quando mais de mil juízes disseram que se recusariam a supervisionar as eleições se o presidente voltasse a concorrer. Ao mesmo tempo, clérigos muçulmanos reclamaram da intervenção do Estado em seu trabalho.

Em um comunicado, os juízes anunciaram a formação de uma nova associação "para restaurar o dom da justiça". "Anunciamos nossa intenção de nos abster de ... supervisionar o processo eleitoral contra a vontade do povo, que é a única fonte de poder", disseram os juízes em um comunicado.

A declaração foi condenada pelo ministro da Justiça, Tayeb Louh, membro do círculo íntimo de Bouteflika, que disse que os juízes devem permanecer neutros.

"A independência e a integridade do juiz devem ser consistentes, sejam quais forem as razões", afirmou ele, segundo a Ennahar TV.

Em outro revés para o presidente, que planejava disputar as eleições em abril, clérigos disseram ao ministro de Assuntos Religiosos que parasse de pressioná-los a emitir sermões pró-governo.

"Deixe-nos fazer o nosso trabalho, não interfira", disse o clérigo Imam Djamel Ghoul, líder de um grupo independente de religiosos, em declarações aos repórteres.

Bouteflika enfrenta a disputa mais em seu governo que já dura 20 anos. Seus oponentes dizem que não há evidências de que ele esteja em condições de governar o país. As autoridades dizem que ele está no controle, apesar de suas raras aparições públicas.

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