Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024
Mundo
24/11/2018 11:17:00
Os ‘três mosqueteiros’ do Airbnb que mudaram a forma de viajar
A ideia de Brian Chesky, Joe Gebbia e Nathan Blecharczyk nasceu por pura necessidade econômica. Hoje, a empresa vale quase 31 bilhões de dólares, tem 9.800 funcionários e é alvo de regulamentações

El País/PCS

Imprimir
O chefe de produto do Airbnb, Joe Gebbia, com o diretor técnico Nathan Blecharczyk e o executivo-chefe Brian Chesky. (Foto: Mike Windle/ EL PAÍS)

É difícil encontrar empresas nas quais seus fundadores continuem levando as rédeas 10 anos depois de criá-la. É o caso de Brian Chesky, Joe Gebbia (ambos de 37 anos) e Nathan Blecharczyk (35). O momento eureca para o trio foi desenvolver um aplicativo que conectasse pessoas dispostas a entregarem as chaves de suas casas a completos desconhecidos que viajam com pouco orçamento. O que há uma década parecia uma loucura acabou virando o grande unicórnio da economia compartilhada: o Airbnb.

A plataforma criada por eles conta atualmente com mais de quatro milhões de acomodações para alugar no mundo todo, de casas em árvores na Escandinávia a ilhas particulares em Fiji. Chesky é o executivo-chefe, o gestor. Gebbia é o diretor de produto, e Blecharczyk está à frente da estratégia.

Ele é justamente o único do trio que se casou, e tem dois filhos. Cada um controla 15% da companhia, então basta fazer alguns cálculos básicos e levar em conta que o Airbnb está avaliado em quase 31 bilhões de dólares (118,7 bilhões de reais) para entender que eles são extremamente ricos.

Os três jovens têm uma fortuna estimada pela revista Forbes em 3,7 bilhões de dólares (14,2 bilhões de reais) cada um. E os três são signatários da iniciativa Giving Pledge, liderada pelo investidor Warren Buffett com Bill e Melinda Gates, pela qual se comprometem a doar mais da metade de seu patrimônio em vida. A revista Fortune lhes garantiu um lugar na lista das 40 figuras mais influentes do mundo com menos de 40 anos.

Antes que os investidores enxergassem esse filão, Chesky recebia um salário de 40.000 dólares por ano trabalhando como engenheiro industrial em Los Angeles. Era uma mixaria em comparação às remunerações distribuídas no Vale do Silício. Conheceu Gebbia, que aspirava a ser galerista, enquanto estudavam na escola de desenho de Rhode Island. O Airbnb foi criado no apartamento que os dois compartilharam depois, quando se mudaram para San Francisco.

Estavam literalmente arruinados e, para poder pagar o aluguel, ofereceram um colchão inflável e café da manhã para quem quisesse ficar em sua casa enquanto visitassem a cidade. Esse mesmo espaço se tornou o primeiro escritório do portal Air Bed and Breakfast. Blecharczyk foi o primeiro engenheiro da plataforma. Aprendeu sozinho a programar, empanturrando-se de manuais que seu pai comprava para ele. Aos 16 anos, criou sua primeira empresa e com as economias pagou os estudos em Harvard.

Cada um foi gravitando de modo natural naquilo que fazia melhor. Perceberam que precisavam de um lugar maior quando o encarregado de vendas começou a precisar entrar no banheiro para fazer as ligações. Nessa época o Airbnb não tinha sequer 20 funcionários. Passaram de não poder pagar o aluguel mensal a ter 9.800 funcionários e obter receita de 2,6 bilhões de dólares. E tudo isso sem depender de um ativo físico próprio, como uma rede de hotéis.

O Airbnb pode parecer uma história de sucesso imediato, mas não foi tão simples no começo. Os investidores que apoiavam empresas como o YouTube ou PayPal os rejeitaram. Por isso, tiveram de usar seus cartões de crédito para se financiarem, sem saber como iriam pagar o que deviam. A persistência os levou a continuar tentando até que a convenção democrata que indicou Barack Obama como candidato os colocou no mapa graças à atenção que a mídia deu a sua ideia.

O sucesso do Airbnb se define, em grande medida, pela obsessão dos três fundadores pela perfeição. A tal ponto que num primeiro momento chegaram a visitar as propriedades oferecidas na plataforma em Nova York para entender como levar o serviço a outro patamar. Compreenderam que o essencial para seu sucesso não era que os visitantes ficassem contentes, mas que os anfitriões adorassem o sistema.

Gebbia agora mora em um antigo armazém reformado, em San Francisco, repleto de obras de arte contemporânea. Ele diz que são referências em sua vida, como as telas usados pelos designers de moda para começar a moldar as coleções que têm em mente. Mas em vez de recortes de revistas, ele faz a colagem com móveis dos designers Charles e Ray Eames, uma de suas inspirações. Este solteiro de ouro se encarrega agora de explorar novas maneiras de compartilhar a moradia no futuro, e há outros tentando torná-la inteligente com a promessa de facilitar a vida. No apartamento de Gebbia, em vez de um alto-falante que responde a seus comandos de voz, há um velho piano Steinway. O conceito que interessa, segundo os criadores do Airbnb, é que as residências sejam espaços flexíveis.

Chesky também é apaixonado por arte, embora tenha começado a mostrar seu carisma e habilidades de liderança como capitão da equipe universitária de hóquei sobre gelo. Ele foi escolhido pelos colegas para fazer o discurso de formatura. Sabia que um dia acabaria criando um negócio com Gebbia. Mas a inspiração que os tornou ricos veio por pura necessidade.

Brian Chesky ofereceu um sofá no Airbnb até que entraram em vigor as novas regras para alugar em San Francisco, criadas, precisamente, para conter o avanço desenfreado da empresa na cidade que a viu nascer. Berlim, Nova York, Londres, Paris e Barcelona também impõem restrições a um sistema que, por seu lado negativo, muitos responsabilizam pelos aumentos de preços no mercado de locação. Afinal, a democratização que acompanha este serviço tem sido feita à custa de reduzir a oferta de moradias populares, especialmente no centro das grandes cidades.

Chesky, que é o CEO da empresa, afirma que o Airbnb é como um grande barco e que seu trabalho, como capitão, é se preocupar com qualquer coisa que possa afundá-lo. Acima da linha d'água, a chave está em focar nas ideias que permitam que o barco avance, diz Chesky. Porque o que vai acabar destruindo a empresa, comenta, é parar de fazer coisas malucas. Esse é o desejo inato de um inovador que busca entender como será o mundo daqui a cinco anos.

COMENTÁRIO(S)
Últimas notícias