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24/07/2017 15:08:00
Pais de bebê Charlie Gard concordam em deixá-lo morrer

O Globo/LD

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Estava agendada para esta segunda-feira a última batalha judicial pela vida do pequeno Charlie Gard, mas na abertura da sessão da Alta Corte de Londres, os pais do bebê, Chris Gard e Connie Yates, anunciaram a desistência do caso. Os dois lutavam desde março pelo direito de levar o filho para os Estados Unidos, para a realização de tratamentos experimentais, mas os danos provocados por uma rara doença já se tornaram irreversíveis. Agora, eles discutirão com o hospital onde Charlie está internado, em Londres, sobre como ele deve morrer.

— Esse caso é sobre o tempo. Infelizmente, o tempo acabou — afirmou o advogado da família, Grant Armstrong, perante o tribunal em silêncio. — Para Charlie é muito tarde e o dano já foi feito... Não é mais o melhor interesse para Charlie perseguir o tratamento.

Charlie, de apenas 11 meses, sofre de síndrome de depleção do DNA mitocondrial relacionada ao gene RRM2B, uma desordem que provoca o enfraquecimento progressivo dos músculos. Os médicos do hospital infantil Great Ormond Street (GOSH, na sigla em inglês), onde ele está internado, recomendam o desligamento dos aparelhos que o mantém vivo, para dar ao bebê uma morte digna, mas os pais discordavam.

Na semana passada, os familiares conseguiram levar para o Reino Unido o médico americano Michio Hirano, que trabalha no desenvolvimento de um novo tratamento para a doença. Ele chegou a avaliar a situação de Charlie, mas considerou não haver mais possibilidades para o bebê após ver o resultado de exames de ressonância magnética que mostravam danos musculares irreversíveis.

— Charlie aguardou pacientemente por tratamento. Por causa dos atrasos, a janela de oportunidade foi perdida — disse Armstrong.

Comovido pela situação dos pais, o juiz Nicholas Francis anunciou a decisão de acatar o pedido da família e encerrar a ação.

— Os pais agora têm que encarar a realidade de que morrer é o melhor interesse para o Charlie — afirmou o juiz. — É minha triste função confirmar as declarações que fiz em abril deste ano.

'VAMOS DEIXAR NOSSO MENINO PARTIR'

A mãe, Connie, afirmou que a decisão de deixar o filho morrer foi tomada após a deterioração da saúde do menino “até o ponto sem retorno”. Ela continua sustentando que Charlie não está em sofrimento, e que nenhum órgão falhou, “mas as chances de melhora são muito baixas. A deterioração em seus músculos não tem retorno”.

— O tratamento agora não é o melhor para Charlie e nós vamos deixar nosso menino partir — disse Connie. — Nosso pobre menino foi deixado por meses sem nenhum tratamento, e a doença avançou até o ponto sem retorno.

Connie defendeu que eles realmente acreditavam que o pequeno Charlie teria chances de melhorar se o tratamento fosse iniciado antes. Em lágrimas, agradeceu aos familiares, aos advogados e à população que apoiou a causa.

— Nós sempre vamos saber nos nossos corações que nós fizemos o nosso melhor para o Charlie e esperamos que ele esteja orgulhoso de nós — disse Connie, amparada pelo marido. — Mamãe e papai te amam muito, Charlie. Sempre amamos e sempre vamos amar.

Os pais decidiram encerrar a batalha judicial na sexta-feira, mas não divulgaram a informação para poderem passar o fim de semana, provavelmente o último, ao lado de Charlie, sem os holofotes da mídia.

A Alta Corte de Londres começou a analisar o caso em março e, no mês seguinte, decidiu que os equipamentos deveriam ser desligados. Os pais apelaram para a Suprema Corte, que manteve a decisão. A Corte Europeia de Direitos Humanos também ratificou a posição da corte britânica.

O caso repercutiu internacionalmente, com o Papa Francisco e o presidente dos EUA, Donald Trump, se manifestando publicamente em favor dos pais. Na semana passada, o Congresso americano chegou a concedeu um visto de residência permanente à criança e seus pais para que o bebê iniciasse o tratamento no país.

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