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Polícia
14/11/2018 14:48:00
Namorada de suspeito de participar do crime diz que ele voltou 'estranho e assustado' à casa dos Brittes

G1/LD

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A namorada de Eduardo Henrique da Silva, um dos seis presos por envolvimento na morte de Daniel Correa, de 24 anos, disse que ele estava "estranho e assustado" quando voltou para a casa da família Brittes depois do assassinato do jogador.

A adolescente, de 17 anos, que é parente da família Brittes e mora em Foz do Iguaçu, no oeste do estado, prestou depoimento ao delegado Amadeu Trevisan na terça-feira (13), em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, onde o crime ocorreu.

Daniel Correa Freitas, de 24 anos, foi encontrado morto, com o órgão sexual decepado, no dia 27 de outubro, perto de uma estrada rural na Colônia Mergulhão, em São José dos Pinhais.

Segundo a polícia, o crime aconteceu depois de uma festa em comemoração ao aniversário de 18 anos da filha do principal suspeito do crime, Edison Brittes, de 38 anos. Ele confessou ter matado Daniel Correa.

Ele afirmou que cometeu o crime porque o jogador tentou estuprar a mulher dele, Cristiana Brittes, de 35 anos. A família Brittes está presa e deve ser indiciada por homicídio qualificado e coação de testemunhas.

O delegado responsável pelo caso, Amadeu Trevisan, disse que não houve tentativa de estupro e que a família Brittes está mentindo. A defesa da família do jogador nega a tentativa de estupro.

Mais sobre o depoimento

A adolescente disse à polícia que namora Eduardo da Silva, de 19 anos, há cinco anos e que eles viajaram de Foz do Iguaçu para São José dos Pinhais especialmente para o aniversário de 18 anos de Allana Brittes.

Contou, ainda, que a festa na Shed - casa noturna de Curitiba onde a comemeração aconteceu - foi "extremamente divertida" e que ela não se lembra da presença de Daniel Correa lá e nem na casa da família Brittes, onde a celebração continuou depois.

Vídeos gravados horas antes do assassinato mostram o jogador na festa.

A testemunha contou que ela e o namorado ficaram pouco tempo com os demais porque foram dormir e que Cristiana Brittes estava "bem mal, embriagada".

Um tempo depois, quando ela já estava dormindo com Eduardo da Silva em um quarto na parte superior da casa, a adolescente relatou que Cristiana Brittes entrou no cômodo chorando e dizendo que era para o namorado dela descer "para ajudar o menino [Daniel Correa]".

A namorada de Eduardo Silva falou que, quando desceu, viu, além do namorado, Ygor King e David Willian da Silva, de 19 e 18 anos, "saindo em um bolo com um outro rapaz no meio, o qual era agredido pelos demais". Os três estão presos por envolvimento no crime.

Ao delegado, a testemunha afirmou que, ao ver a situação, ficou pensando no "porquê aquele piá [menino] estava apanhando". A adolescente disse que "em nenhum momento ouviu Cristiana chamar por socorro" e que todos os outros convidados "estavam em choque".

Ela falou também que perguntou para Allana Brittes quem estava apanhando e que a filha de Edison Brittes respondeu que era Daniel Correa.

Quando saiu da casa, a testemunha disse que viu o jogador "caído no chão, sangrando no rosto, sem movimento, sem dizer nada e com o rosto virado para o chão".

Contou, ainda, que ouviu Edison Brittes dizendo que iria "capar o menino" porque Cristiana Brittes tinha dito que o jogador tinha passado a mão nela e que o marido tinha ficado "furioso".

Ainda segundo a namorada de Eduardo da Silva, Cristiana Brittes "clamava" para que Edison Brittes não fizesse "nada de ruim" com o jogador. A adolescente disse que não viu o momento em que a faca do crime foi pega.

A testemunha relatou que viu Edison Brittes, Eduardo da Silva, Ygor King e David Willian da Silva colocando Daniel Correa no porta-malas e que, depois, não viu mais o que aconteceu e que o grupo voltou duas horas depois.

No depoimento, ela também falou que Edison Brittes retornou com roupas diferentes.

A testemunha afirmou que logo perguntou o que tinha acontecido e ele respondeu que Edison Brittes tinha matado Daniel Correa: "Júnior ficou louco e passou a faca no cara".

A adolescente contou que Eduardo da Silva disse a ela que ele e os outros suspeitos não puderam fazer nada e eles "não queriam matar, só machucar".

No fim da tarde, ainda conforme a namorada de Eduardo da Silva, na tarde do mesmo dia, Edison Brittes reuniu os convidados e disse a eles, em tom ameaçador, que "de jeito nenhum poderiam contar o que aconteceu e que, se ninguém contasse, ninguém saberia".

Depois disso, a testemunha falou que voltou para Foz do Iguaçu com o namorado e que, depois, não teve mais contato com a família Brittes, sabendo da prisão deles pela imprensa.

Limpeza

Perguntada sobre a limpeza da casa, a adolescente disse que "pegou uma mangueira e jogou água em uma sujeira de sangue que estava na calçada" e que os demais ajudaram na limpeza.

Na segunda-feira (12), a jovem de 19 anos que se relacionou com Daniel Correa no aniversário de Allana Brittes disse à Polícia Civil que Edison Brittes Júnior "ordenou" que ela e outros convidados limpassem as manchas de sangue que ficaram pela casa depois das agressões.

[...] Relatando que inclusive o colchão do casal foi cortado na parte em que havia sangue - o tecido da parte de cima, sendo que este pedaço foi queimado junto com os documentos do Daniel", diz trecho do depoimento.

Uma terceira testemunha, que também já foi ouvida pela polícia, disse que pulou o portão da casa da família Brittes para fugir quando notou que "algo mais grave" poderia acontecer.

Outros depoimentos

Até o momento, pelo menos 14 pessoas foram ouvidas.

De acordo com o advogado de Eduardo da Silva, Edson Stadler, o cliente disse, em interrogatório, que Edison Brittes saiu de casa na manhã do crime com o objetivo de "castrar" o jogador e abandoná-lo na rua.

David da Silva disse, também em depoimento, que Edison Brittes mudou de ideia e decidiu matar Daniel Correa depois de ver algo no celular dele.

Antes de morrer, o jogador chegou a mandar para um amigo uma foto deitado na cama ao lado de Cristiana, que estava, aparentemente, dormindo.

O delegado também já ouviu Ygor e a família Brittes. Em depoimento, Cristiana Brittes disse que acordou com o jogador deitado em cima dela, e disse que começou a gritar assustada.

Cristiana disse ainda que o jogador estava "excitado", "trajando apenas cueca" e que passava a mão pelo corpo dela. A mulher de Edison Brittes afirmou também que, enquanto ela gritava, o jogador dizia: "Calma, é o Daniel".

Allana Brittes relatou que, depois de ouvir gritos, foi ao quarto do casal e encontrou o pai segurando Daniel Correa pelo pescoço, "como se o enforcasse".

A mãe, segundo Allana Brittes, já não estava mais no quarto porque tinha ido procurar ajuda. Logo depois, ao encontrá-la, a filha revelou à polícia que Cristiana Brittes disse que o jogador tentou estuprá-la.

Mãe e filha estão presas na Penitenciária Feminina de Piraquara, na Região de Curitiba.

Já Edison Brittes preferiu ficar em silêncio no interrogatório quando foi questionado sobre como o jogador foi morto, mas assumiu toda a autoria do crime. Ele está preso no Centro de Triagem 1 da Polícia Civil, em Curitiba.

A polícia apreendeu na casa dele uma moto que está no nome de um traficante preso pela Polícia Federal (PF).

A família de Daniel

A tia e a prima do jogador também foram ouvidas.

No depoimento, a tia disse que Allana Brittes trocou mensagens via WhatsApp com a mãe do jogador e se prontificou a ajudar.

Questionada pela família onde estaria Daniel Correa, Allana Brittes respondeu que não sabia dele, que não houve briga na casa dela e que o jogador foi embora, sozinho, por volta das 8h da manhã de sábado.

“Ele só deu tchau, levantou e foi embora”, dizia a mensagem.

Dois dias depois do crime, Edison Brittes ligou para dar os pêsames à mãe do jogador, segundo o advogado de defesa da família do jogador. Quando soube que Edison Brittes confessou o crime e a versão da família Brittes, a mãe disse que eles "são monstruosos".

Segundo a polícia, ele usou um celular que pertence a um homem assassinado em 2016 para fazer essa ligação.

Contradições

O advogado da família Brittes, Cláudio Dalledone, falou, nesta terça-feira (13), sobre as contradições entre os depoimentos dos seus clientes e os das testemunhas.

"A divergência está crescendo por conta desse protagonismo que algumas ditas testemunhas ou partícipes de tudo o que ocorreu estão fazendo quando atendem à orientação dos advogados. São fatos que merecem ser investigados, exauridos por uma acareação, inclusive o Edison participando dela", afirmou.

Daniel

Daniel Correa Freitas nasceu em Juiz de Fora (MG), e jogou pelo Coritiba, em 2017.

Ele estava emprestado pelo São Paulo ao São Bento, equipe que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. O jogador foi revelado pelo Cruzeiro e também jogou pelo Botafogo e pela Ponte Preta.

O corpo dele foi velado e enterrado em Conselheiro Lafaiete (MG), cidade onde mora a família.

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