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Polícia
04/06/2018 08:57:00
No primeiro depoimento à Justiça, chefe da Rocinha nega ser traficante

EXTRA/LD

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No primeiro — e até agora único — depoimento que já prestou à Justiça desde a sua prisão, Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, chefe do tráfico na Rocinha, afirmou que está sendo alvo de uma “tremenda injustiça’’. O EXTRA teve acesso à íntegra do depoimento, feito por videoconferência no Presídio de Porto Velho (RO).

No relato, Rogério disse que não conhece Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, apontado pela polícia como seu rival na guerra pelo controle da favela, e negou fazer parte do tráfico de drogas no morro. Ele afirmou que trabalhava até 2016 como motoboy na cidade mineira de Governador Valadares, onde nasceu.

A videoconferência foi realizada com a juíza Alessandra de Araújo Bilac Moreira Pinto, no último dia 11 de abril. Nesse processo — um dos oito a que o traficante responde atualmente —, ele é acusado de receber, durante os anos de 2013 e 2014, ordens de Nem, que estava preso em Catanduvas na época. Segundo a investigação da Polícia Federal, a responsável por repassar as ordens para Rogério era Danúbia Rangel, mulher de Nem.

No início do depoimento, que durou 15 minutos, Rogério diz que, quando deixou a cadeia, após ser preso pela invasão do Hotel Intercontinental, em São Conrado, em 2010, foi morar em Minas Gerais com a mãe.

— Vim só de passeio ao Rio, excelência. Fiquei uma semana só e voltei. Fiquei na Rocinha com meu filho — afirmou o réu.

A juíza, então, pergunta se Rogério 157 tem alguma amizade com Nem e Danúbia. Ele nega:

— Não tenho amizade com ninguém. Só vi a Danúbia de passeio.

Em seguida, a juíza diz que a denúncia aponta que Rogério ficou à frente do tráfico da favela após a prisão de Nem, em 2012. Rogério, então, afirma que não integrava a quadrilha e trabalhava sem carteira assinada em Minas Gerais.

— Isso é uma tremenda injustiça, nunca fui ‘frente’ (chefe). Trabalhava, excelência, em bicos, não com carteira assinada. Em Governador Valladares, eu era motoboy, excelência.

Bate-boca com promotor durante a videoconferência

Ao longo das investigações que culminaram no processo contra Rogério Avelino da Silva, a Polícia Federal interceptou uma série de mensagens enviadas pelo aplicativo BlackBerry Messenger (BBM), atribuídas ao criminoso. Segundo a PF, o traficante usava um número identificado pela inscrição “Senhor dai-me sabedoria’’.

Quando perguntado pela magistrada se as mensagens haviam sido enviadas por ele, Rogério disse que nunca tinha usado o aplicativo.

— Nunca usei BBM, excelência. Só WhatsApp para falar com a minha família — afirmou ele.

Ao final do depoimento, Rogério chegou a bater boca com um promotor de Justiça que participou da audiência. O membro do Ministério Público fez duas perguntas ao criminoso, ambas referentes a fatos que não faziam parte daquele processo. No segundo questionamento, o promotor quis saber se Rogério 157 integrava o bando que invadiu o Hotel Intercontinental. Por conta desse crime, ele foi preso em flagrante junto com mais nove traficantes.

— Só vou responder referente ao processo de hoje — respondeu Rogério.

O promotor retrucou: — Mas você estava hospedado no hotel?

— Só vou responder o processo de hoje — repetiu Rogério, que é acusado dos crimes de tráfico, associação para o tráfico e corrupção ativa.

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