Sábado, 27 de Abril de 2024
Polícia
26/01/2019 09:23:00
Pais de DJ preso injustamente no Rio contam como conseguiram soltá-lo

G1/LD

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Depois de uma noite em claro ao ver o filho ser preso injustamente, Eliane Nascimento dos Santos, mãe do DJ Leonardo Nascimento, teve um estalo que acabou por libertá-lo. Ela se lembrou que, no caminho que Leonardo fazia sempre no fim da tarde, uma das casas tinha câmeras. E as imagens validaram o álibi que provou o erro da polícia. O DJ foi solto na última quarta-feira (23).

Leonardo foi apontado como um dos bandidos que assaltaram um mercadinho em Barra de Guaratiba no último dia 15. Na ação, Matheus Lessa, de 22 anos, foi baleado ao defender a mãe e morreu. No dia seguinte, a polícia prendeu o DJ, alegando que quatro testemunhas - incluindo a mãe de Matheus -, o reconheceram.

Imediatamente a família começou a lutar para soltá-lo. O pai de Leonardo contou que a família não desejava invadir o espaço da investigação criminal, mas precisava provar que o jovem não era responsável pelo assassinato.

“Eu sei que era função da polícia, mas a gente queria provar a inocência do nosso filho. Então, agimos paralelamente, o caso era de urgência, nosso filho nunca tinha sido preso”, revelou o técnico administrativo Jorge Benjamin dos Santos.

A família conhecia Matheus de vista, do mercadinho que fica a alguns quilômetros da casa onde Leonardo vive com os pais. “Mais cedo, eu tinha visto falando desse crime na TV e mostrei para ele: ‘Olha só que crueldade, que fizeram com um menino tão novo’. Mais tarde, ele estava sendo acusado daquele crime”, contou a mãe. Leonardo chegou a passar o aniversário na cadeia.

Câmera de segurança

Leonardo e os amigos tinham o hábito de jogar futebol no fim da tarde, quando todos voltavam após o expediente. No dia que Matheus foi morto, ele saiu de casa nesse horário para jogar bola, como de costume, e avisou à mãe.

“Ele foi, não demorou muito, e voltou. Não tinha a pelada no campinho. No meio do caminho tinha uma senhorinha de quem a gente gosta muito. Estava calor, e ela estava do lado de fora. Ele sempre a chamou de vó e conversaram um pouco”, destacou Eliane.

Após o nervosismo, na madrugada em claro, veio a lembrança. “Gente, ele falou que ia no campinho. Lá tem a câmera do condomínio. Ele passa por ali”, lembrou Eliane.

Já na manhã seguinte, Leonardo foi transferido da 43ª DP (Guaratiba) para o Presídio de Benfica, na Zona Norte da capital fluminense.

Como a mãe estava emocionalmente esgotada com a prisão do filho, a irmã gêmea de Leonardo assumiu a missão de buscar as imagens. Ela as pediu ao síndico, que ajudou a procurá-las no fim da tarde do dia seguinte à prisão.

E lá estava o registro: Leonardo aparecia indo e voltando do campo de futebol, no horário do crime, com uma roupa muito diferente da que teria sido usada pelo assassino de Matheus de acordo com o que havia sido apontado pelas investigações.

Nas imagens da rua, às 18h46 do dia 15, ele aparece caminhando em direção a um campo de futebol. Cerca de 20 minutos depois, às 19h09, aparece voltando para casa.

O assalto ao mercado aconteceu pouco antes da 19h, a 3 km dali. Testemunhas do crime contaram que o assassino estava de camisa branca. Nas imagens, Leonardo aparece com uma regata colorida.

Medo de morte na prisão

A pressão sobre a família começou a aumentar quando a imagem de Leonardo começou a ser divulgada na TV e internet como sendo o responsável pelo crime. Ver o jovem sendo apontado como criminoso mexeu ainda mais com o ânimo dos pais e irmãs.

“Quem não o conhecia colocou na internet: ‘Olha o monstro!’ Mas, como ele foi criado lá e nós também, as pessoas sabiam que não era verdade. E aí as pessoas começaram a responder e a fazer um movimento”, destacou o pai do DJ.

Jorge teve medo de que, com a repercussão, Leonardo pudesse ser morto na prisão e teve noção de que precisava correr.

As imagens foram encaminhadas à advogada da família. O registro foi divulgado pela polícia e levou à soltura.

A família aponta problemas no reconhecimento de Matheus por testemunhas e afirma que houve racismo. “Eles colocaram dois rapazes claros e ele negro. Sendo que o rapaz que atirou era negro”, explicou Eliane.

As camisetas usadas pelos pais de Leonardo mostram as hashtags #Leonardolivre e #Matheus vive. Mesmo a mãe de Matheus tendo sido uma das quatro testemunhas a reconhecer Leonardo como o autor do crime, Eliane afirma não guardar mágoa e acredita que ela estava pressionada pela situação.

“Eu até entendo. Olha a dor dessa mãe. Porque eu ia voltar a ver meu filho. E ela? Ela perdeu um filho dessa maneira”, contou a mãe de Leonardo.

Consequências

Ainda sob o impacto da prisão e soltura de Leonardo, os familiares não pararam para pensar se vão processar o Estado pelo erro na prisão. “A prioridade é mudar a imagem que foi passada do nosso filho. Em processar fulano ou ciclano, ainda não estamos pensando”, destacou Jorge.

As consequências da semana de prisão ainda são sentidas pelos familiares de Leonardo. Passaram a dormir e comer mal por medo que algo de pior acontecesse a ele. “A nossa vida parou. Nossas contas atrasaram. A gente não tinha como ir em banco”, destacou o pai.

A filha caçula, que está grávida, perdeu quatro quilos em uma semana por causa da ansiedade causada pelo problema. “A gente não dormia. A minha filha mais nova está grávida há pouco tempo. Estava passando supermal e não conseguir ir na consulta de pré-natal dela”, contou Eliane.

A família pretende retomar a vida. Buscar um emprego também está entre as prioridades de Leonardo. Quando ele foi preso, estava desempregado há quatro meses. Atualmente, ele faz trabalhos como DJ, mas tem experiência como eletricista e já trabalhou em uma gráfica.

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