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Polícia
23/10/2018 17:49:00
Polícia apura se valor apreendido em briga de policiais seria para caixa dois
Essa hipótese apareceu durante o depoimento de um empresário à Corregedoria da Polícia Civil, na tarde dessa segunda-feira (22)

Folha/PCS

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A Polícia Civil de São Paulo investiga se os R$ 14 milhões apreendidos em Minas Gerais após tiroteio envolvendo policias dos dois estados, na última sexta-feira (19), em Juiz de Fora (MG), seriam utilizados para abastecer caixa dois de campanhas eleitorais.

Essa linha de investigação apareceu durante o depoimento de um empresário à Corregedoria da Polícia Civil, na tarde dessa segunda-feira (22). A polícia investiga a origem e quanto dessa quantia é de notas falsificadas.

Segundo o secretário paulista Mágino Alves Barbosa Filho (Segurança Pública), o principal alvo das apurações até aqui é a conduta dos policiais que escoltavam empresários paulistas em negociação supostamente ilegal. Parte dos policiais está presa sob suspeita de lavagem de dinheiro.

"Se incidentalmente aparecer alguma [pista sobre caixa dois], tudo bem, mas o objetivo da nossa investigação [em São Paulo] é apurar a conduta dos policiais. Se encontrarmos [indícios], a gente vai comunicar a PF [Polícia Federal], a Justiça eleitoral imediatamente", disse.

Mágino afirmou ainda que considera "muito estranha" uma ação desse tipo neste momento, envolvendo movimentação de dinheiro em espécie. "Nessa época do ano, é muito estranho esse tipo de ação. Mas, repito, nosso objetivo é apurar a ação dos policiais", completou o secretário.

O confronto entre policiais aconteceu na tarde de sexta, no estacionamento de um hospital. Durante a ação, um policial mineiro de 39 anos foi morto, e dois empresários foram baleados. Segundo as investigações, os policiais civis de SP estariam na cidade para realizar uma "escolta vip" para um doleiro e dois empresários.

Cada policial, segundo apuração, receberia R$ 1.500 para fazer esse trabalho. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, alguns dos agentes envolvidos estavam em horário de serviço durante as ações.

De acordo com a Justiça mineira, há indícios de que os policiais tinham conhecimento da ilegalidade da transação feita entre os empresários. Eles estão presos por lavagem de dinheiro, mas podem ser indiciados também por estelionato, prevaricação, sonegação fiscal e organização criminosa, a depender da conclusão das investigações.

Dos nove policiais paulistas que foram a Minas, quatro foram presos em flagrante, prisão convertida em preventiva -quando não há prazo para serem soltos.

Após a troca de tiros, foram apreendidas as malas com o dinheiro que seria negociado. A principal suspeita é que as notas falsas de real pertençam ao empresário mineiro Antônio Vilela. Em 2009 e 2015, ele já havia sido preso por tentar negociar dólares e pedras preciosas com notas falsas.

A polícia suspeita que os paulistas teriam ido a Juiz de Fora para negociar dólares, mas nenhuma quantia da moeda americana foi apreendida.

ESCOLTA

Alvo da escolta, o doleiro Flávio de Souza Guimarães saiu de São Paulo em direção a Minas em um avião particular para realizar um "negócio milionário". No voo, estava acompanhado de um delegado da polícia de SP, dos empresários Roberto Uyvare Júnior e Jerônimo da Silva Leal Júnior e de seu advogado.

Uyvare Júnior, segundo a Justiça mineira, possui empresas na França, na Espanha e no Brasil. Já Leal Júnior seria dono de uma empresa de segurança em São Paulo.

Flávio Guimarães prestou depoimento à Corregedoria da Polícia Civil na segunda-feira (22). Nele, negou que tivesse objetivo eleitoral, assim como também negou que tenha levado dólares para Minas para serem levados para troca por reais. Alegou que foi a Juiz de Fora para pegar um empréstimo.

"O declarante nega, de forma veemente, qualquer vinculação dos fatos aqui narrados com atividade político-partidária de qualquer espécie ou viés, refutando especialmente alegação sentido de caixa dois eleitoral", diz trecho do depoimento do empresário, após questionado sobre isso.

Segundo a Folha de S.Paulo apurou, a cúpula da Segurança Pública não acredita nessa versão de empréstimo, tanto assim que classifica como ato criminoso praticado pelos nove policiais civis que participaram da escolta do empresário até lá. O empresário disse ainda que pagou R$ 30 mil pelo serviço de escolta, por temer ser alvo de eventual sequestro em Juiz de Fora.

As apurações conduzidas pela polícia mineira indicam até agora que as malas de dinheiro seriam transportadas para São Paulo, mas só não foram porque, durante a negociação, os empresários paulistas desconfiaram de golpe -de que parte do dinheiro (notas de R$ 100) era falsa. Isso deu início à troca de tiros, já que policiais civis de Minas acompanhavam o empresário Vilela.

Nesta terça (23), a Ouvidoria da Polícia encaminhou à Superintendência da Polícia Federal pedido para que a instituição acompanhe o caso por envolver policiais de dois estados e suspeitas de crimes graves, como homicídio, lavagem de dinheiro, prevaricação, estelionato e organização criminosa.

"Entendemos que pela complexidade desta ocorrência, é fundamental o acompanhamento da Polícia Federa", diz ofício assinado pelo ouvidor, Benedito Mariano.

ENTENDA O CASO

Escolta Nove policiais civis de São Paulo, entre eles dois delegados, foram contratados para escoltar três empresários paulistas durante negociação em Juiz de Fora (MG). Eles receberiam R$ 1.500 pelo serviço

NEGOCIAÇÃO

Na sexta (19), em um hotel da cidade mineira, os empresários paulistas iniciaram uma negociação com o mineiro Antonio Vilela. A suspeita é que os paulistas tinham ido negociar dólares

PAGAMENTO

Mais tarde, Vilela, os empresários e quatro policiais paulistas foram até o estacionamento de um hospital, onde uma transação envolvendo R$ 14 milhões seria finalizada. Lá também estavam quatro policiais mineiros, que, suspeita-se, fariam a escolta de Vilela

NOTAS FALSAS

Segundo a investigação, os paulistas teriam descoberto que notas de real usadas no pagamento eram falsas. Isso teria dado início ao tiroteio FERIDOS

Três pessoas foram baleadas: o mineiro Vilela, que já teve alta do hospital; o empresário paulista Jerônimo Jr., que está internado em estado grave; e o policial mineiro Rodrigo Francisco, que morreu no local

RETORNO

Cinco dos nove policiais civis retornaram a São Paulo antes da ação que resultou no tiroteio. Eles não foram presos, mas estão sendo investigados, já que a transação de dinheiro era ilegal

PRESOS

Foram presos os quatro policiais paulistas que estavam presentes no tiroteio, Vilela e o empresário Jerônimo Jr., que está internado sob custódia policial

INVESTIGADOS

O doleiro paulista Flávio Guimarães está em liberdade, mas não pode deixar o país. Os quatro policiais mineiros e o empresário paulista Roberto Uyvare Jr. também são investigados

APREENSÃO

As malas com R$ 14 mi em dinheiro, que seriam de Vilela, foram apreendidas pela polícia de MG. Não foram encontrados dólares

QUEM ESTÁ PRESO

Jorge Alexandre Barbosa de Miranda, investigador da Polícia Civil de SP, por lavagem de dinheiro

Caio Augusto Freitas Ferreira de Lira, investigador da Polícia Civil de SP, por lavagem de dinheiro

Bruno Martins Magalhães Alves, delegado da Polícia Civil de SP, por lavagem de dinheiro

Rodrigo Castro Salgado da Costa, delegado da Polícia Civil de SP, por lavagem de dinheiro Antônio Vilela, empresário mineiro, por estelionato Jerônimo Jr, empresário paulista, pelo homicídio do agente mineiro Francisco.

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