Depois de ouvir os áudios que compõem essa reportagem, quem preza pela democracia vai se perguntar: será que estamos no século 21? Não parece. Eles nos remetem a Primeira República, marcada pelo coronelismo.

Numa sequencia que enoja, áudios com agressões e ameaças a um idoso foram postados num grupo de whatsapp, composto, em sua maioria, por apoiadores de Clarice Ewerling, candidata a prefeita de Sonora pelo MDB.

O Edição MS teve acesso a alguns áudios, e passa a transcrevê-los, inclusive com erros, a partir de agora:

• Isso aí não pode hein? Isso aí não pode.

• Se vocês autorizar eu vou na oreia desse véio amanhã na primeira hora tá? É só vocês da ok eu vou na oreia desse véio.

• Tá autorizado, desce a borracha. (Risos) Eu to te autorizando.

• Eu acho que tem que denunciar e tirar da rua, não é porque é veinho não, vai, fica com safadeza aí, tem que denunciar, tem que denunciar e tirar da rua memo. Se possível prende até aquele som dele.

• Quem perdoa é Deus, nóis não pode perdoar não.

• Velhinho mais tá andando direto de bicicreta, se ele andasse a pé tudo bem, mas ele anda de bicicreta a cidade inteira, o dia inteiro no sol quente, qualquer hora ele tá andando. Tem que castigar mesmo. Se tomar toma até a caixa dele.

• Toldo pode meter a mão na oreia e marca na minha conta qualquer coisa.

• Valdomiro se você precisar um pouco de crédito põe o resto na minha.

O idoso tratado de forma criminosa, afinal, agredir e ameaçar são crimes no Brasil, não tem um sobrenome conhecido, nem conta bancária recheada como a de muitos que gravaram esses áudios, mas ele virou símbolo da campanha eleitoral.

Foto: Reprodução/Facebook

Temos o prazer de apresentar a vocês o seu Antônio. Isso mesmo. O sobrenome não importa, tampouco sua graduação, posses ou quantidade de zeros na conta bancária. Antônio é um cidadão porreta, servente de pedreiro, que há 26 anos escolheu Sonora para viver e dar sequencia à sua família. Foi onde criou os filhos com princípios, como a honestidade.

É um cidadão simples, pouco letrado, mas que conhece os seus direitos, principalmente o de escolha, pois sabe que vive num país democrático de direito. Isso aí seu Antônio. O voto é livre e o senhor tem direito de escolher e votar para quem quiser. Seja seu candidato o Pedro, a Maria ou o José.

E se você, cidadão de bem, cruzar com seu Antonio pedalando sua bicicleta pelas ruas de Sonora, demonstre carinho, acene, bata palmas, encontre uma forma de mostrar que ele não está sozinho. Você nem precisa votar no mesmo candidato que seu Antônio, basta mostrar que não vamos permitir que a democracia seja manchada. No passado, muita gente teve que derramar sangue para que hoje tivéssemos o direito de escolher em quem votar.