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Política
07/04/2018 07:21:00
Câmara Municipal do Rio sob investigação no caso Marielle

O Globo/LD

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Desde o início das investigações da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, pelo menos seis parlamentares da Câmara Municipal já prestaram depoimento sobre o caso na Delegacia de Homicídios (DH) do Rio), na Barra da Tijuca. Parte dos parlamentares é do mesmo grupo político de Marielle e foram chamados para ajudar nas investigações, mas outros, segundo informações da especializada, são adversários políticos da vítima. Pelo menos dois deles foram citados na CPI das Milícias ou em relatório da Polícia Civil sobre a influência de milicianos nas eleições do Rio.

Todos são considerados testemunhas, pelo menos por enquanto. Na Câmara, a expectativa é que outros parlamentares sejam convocados pela Polícia Civil nos próximos dias. Nesta sexta-feira, prestaram depoimentos Jair da Mendes Gomes(PMN) e Marcello Siciliano (PHS).

O vereador do PHS — citado em relatório da Polícia Civil sobre a influência da milícia em Jacarepaguá, nas eleições de 2014 — chegou à delegacia por volta das 16h e saiu três horas depois. Ele não quis dar detalhes de seu depoimento e disse que as investigações estão sob sigilo. Jair da Mendes Gomes chegou à delegacia por volta de meio-dia e saiu sem ser visto pela imprensa.

— Fui convocado a vir aqui prestar esclarecimentos para poder ajudar na linha de investigação que eles tomaram. Todos os vereadores foram chamados a vir aqui. Estou à disposição. A Marielle era uma pessoa da qual eu gostava muito. Sinto muito a perda dele e torço para que esse caso seja esclarecido — afirmou Siciliano.

Ele negou qualquer divergência política ou ideológica com Marielle:

— Como acabei de falar, ela é uma grande amiga minha — declarou.

O depoimento acontece um dia após outro parlamentar do PHS, Zico Bacana, ter sido ouvido por mais de três horas na DH. O parlamentar disse que conhecia a vereadora da Câmara, e afirmou que não se recordava da atuação dela durante a CPI das Milícias, em que ele foi citado. Zico afirmou ainda que se sente “triste com as dificuldades de investigação" e afirmou que está “firme e forte” para se defender e mostrar que não tem "nada a ver com esse problema".

— Eu acredito no poder de Deus. Que seja elucidado isso aí, que o que aconteceu com ela foi uma fatalidade e muita gente está sendo acusada. Com certeza todos nós (vereadores) temos que ser investigados, como cada cidadão que compareceu naquele local no dia do crime. Ou o cotidiano da vida dela (deve ser investigado).

Na quarta-feira, o vereador Ítalo Ciba (Avante) prestou depoimento na especializada. Nesta sexta-feira, ao ser procurado para comentar os rumos da investigação, ele disse que o conteúdo da conversa com os policiais é sigiloso e afirmou não acreditar que os responsáveis pela morte de Marielle sejam da Câmara de Vereadores:

—Tenho 32 anos de polícia. Sinceramente, é uma linha de investigação? É. Foi da Câmara? Pode ter certeza que não. Eu sou policial, ela defendia vagabundo. Mas ela era minha amiga e eu sinto muito.Uma garota maravilhosa. Não sei de onde veio isso, não, mas o troço é meio doido.

Colega de partido de Marielle, Renato Cinco (PSOL) acha natural que sejam chamados para depor todos que conviviam com a vereadora. De acordo com ele, os policiais disseram que, muitas vezes, pessoas próximas à vitima têm informações relevantes, mas não se dão conta.

— Acho que meu depoimento ajudou pouco. A gente (ele e Marielle) se encontrava mais em plenário, não sabia muito da rotina dela — disse o vereador. — Temos certeza que foi execução. Além disso, não sabemos quem mandou.

O vereador Babá (PSOL), que assumiu a vaga de Marielle na Câmara, depôs na quarta-feira. Procurado nesta sexta, não quis comentar o caso para não interferir nas investigações.

BRAGA NETTO OTIMISTA

Na reunião que teve com o presidente Michel Temer quinta-feira, o comandante da intervenção federal no Rio, general Braga Netto, revelou avanços na investigação do assassinato de Marielle e demonstrou otimismo com o possível desfecho do caso nos próximos dias. Depois de ouvir o relato, Temer disse ao general que a prisão dos assassinos da vereadora é considerada de extrema importância para o governo.

A exemplo do que disse Braga Netto ao presidente, fontes ligadas ao comando da intervenção também confirmaram ao GLOBO o estado avançado das investigações. Segundo essas fontes, os responsáveis pelo caso na polícia já teriam identificado alguns suspeitos ligados a milícias que atuam no Estado.

— O general disse estar otimista com o desfecho das investigações do caso Marielle que, segundo ele, avançou muito nos últimos dias — disse um ministro ao GLOBO.

Como já foi revelado pela polícia, a vereadora havia feito críticas públicas à atuação do 41º Batalhão da PM, envolvido em operações violentas. A reunião também serviu para que Braga Netto definisse com Temer a engenharia financeira da intervenção. Há dez dias, o presidente anunciou a liberação de R$ 1,2 bilhão. O general se reuniu com o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Raimundo Carreiro, e ficou decidido que a aplicação dos recursos será monitorada pelo tribunal.

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